Salamandras 'paraquedistas' sobrevivem a saltos das árvores mais altas do mundo

Um novo estudo revela como estes pequenos anfíbios desenvolveram uma estratégia semelhante à humana para voar entre as sequoias da Califórnia.

Por Jude Coleman
Publicado 4 de jun. de 2022, 07:00 BRT

Uma salamandra-errante adulta (Aneides vagrans) agarrada à casca de uma sequoia da Califórnia. Estes anfíbios de dez centímetros habitam nas copas pouco estudadas destas árvores.

Foto de Christian Brown

Quando perturbadas por um predador na copa das árvores mais altas do mundo, algumas salamandras enfrentam um desafio aparentemente aterrorizante: saltar e planar por dezenas de metros de forma segura.

O biólogo Christian Brown, da Universidade do Sul da Flórida, nos Estados Unidos, se pergunta há muito tempo como as acertadamente chamadas salamandras-errantes, Aneides vagrans, podem sobreviver a saltos tão grandes entre as sequoias costeiras do norte da Califórnia, principalmente porque não têm abas de pele, ou 'velas', como outros anfíbios 'voadores'. 

Agora, novos experimentos realizados com um túnel de vento em miniatura revelam que essas ousadas criaturas de 10 cm contam com as mesmas técnicas que os paraquedistas. Os anfíbios desaceleram a descida como um paraquedas, esticando os membros na posição de estrela-do-mar, segundo um novo estudo publicado na revista Current Biology.

Há cerca de 200 espécies de salamandras arborícolas no mundo, mas esse comportamento aéreo nunca foi descrito para salamandras, diz Brown.

Uma salamandra-errante adota a postura de paraquedista durante experimento no túnel de vento.

Foto de Christian Brown

“Trata-se de uma salamandra corajosa de 5 g que escala as árvores mais altas da Terra e não tem medo de dar um grande salto", diz Brown. "Considero que isso é inspirador e espero que outras pessoas também sintam o mesmo."

Inspirado pela National Geographic

Brown aprendeu sobre as salamandras-errantes no artigo da National Geographic sobre sequoias, publicado em outubro de 2009. Ele ficou encantado por essas árvores e as várias espécies que as habitam – e que raramente são estudadas. 

Para a pesquisa, Brown e sua equipe usaram um túnel de vento em miniatura para simular a queda livre das salamandras, como uma escola de paraquedismo.

Eles coletaram cinco salamandras-errantes de uma floresta na Califórnia, Estados Unidos, e as projetaram individualmente no túnel de vento. Para cada experimento, a equipe filmou os movimentos do animal em câmera lenta. Em seguida, repetiram o teste com cinco de cada uma das três outras espécies de salamandras norte-americanas que passam determinados períodos nas árvores.

Em todas as 45 tentativas, as salamandras-errantes imediatamente adotaram posição de paraquedas em forma de estrela-do-mar, planando e reduzindo a velocidade da queda. Um efeito semelhante acontece quando uma pessoa coloca a mão fora da janela do carro, inclinando-a contra o vento.

Em mais da metade dos testes, as salamandras-errantes também ondularam suas caudas para corrigir a trajetória. Às vezes, elas se inclinavam, dobrando uma perna e girando em torno dela no meio do voo. Esses esforços deram aos animais um controle preciso sobre a descida e reduziram a velocidade em cerca de 10%.

Com esses experimentos, os pesquisadores descobriram outras espécies de salamandras que também planavam como paraquedas. Mas o comportamento é mais raro em anfíbios que passam menos tempo nas árvores. A espécie Ensatina eschscholtzii eschscholtzii, que vive no solo, saltou de paraquedas em apenas três das 45 tentativas. 

"Foi um excelente estudo que combinou história natural com desenho experimental", diz Gary Bucciarelli, ecologista da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, que não esteve envolvido no projeto. "Isso dá lugar a muitas questões sobre o que realmente está acontecendo no habitat natural."

Desenvolvidas para planar e escalar

Fisicamente, as salamandras-errantes são desenvolvidas para planar: seu corpo é relativamente plano, as pernas longas e os pés proporcionalmente maiores em relação ao corpo, se comparadas com a maioria das outras salamandras, diz Brown. Trata-se de uma particularidade que as torna também boas escaladoras.

Essas adaptações sugerem que sua proeza de paraquedismo não é somente útil em cenários de quedas acidentais ou fuga de predadores. Além disso, as salamandras descem nos galhos das árvores para procurar parceiros, água ou sombra, aponta o especialista. 

Sustentando essa ideia, um estudo recente descobriu que as salamandras-errantes, aparentemente, evitam descer diretamente pelos troncos das árvores. "É um meio de transporte, como usar o elevador de gravidade", explica Brown.

Essa pesquisa é especialmente importante, já que os ecologistas ainda têm muito por aprender sobre as copas das sequoias costeiras mais antigas, lembra o biólogo. De acordo com ele, as árvores mais altas são de difícil acesso e exigem equipamentos especiais e treinamento.

Ao mesmo tempo, esses habitats diminuíram drasticamente. Apenas cerca de 5% das sequoias originais da Califórnia estão de pé, após décadas de extração comercial; incêndios florestais continuam sendo uma ameaça para as demais. Provavelmente, as mudanças climáticas também terão impacto no delicado e nebuloso ambiente das copas das sequoias, causando perigo para seus habitantes.

“Precisamos desesperadamente de informações sobre as copas de sequoias", diz Brown, "para compreender como estão mudando e poder protegê-las.”

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