É oficial: a rainha Nefertiti não foi sepultada na mesma tumba de Tutancâmon

A terceira varredura por radar do local de sepultamento do faraó mostra de maneira conclusiva que não há mistérios a serem revelados por trás das paredes.

Por Kristin Romey
Publicado 7 de mai. de 2018, 14:41 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT

Oficiais egípcios anunciaram no último domingo (6/05) que recentes varreduras de radar na tumba de Tutancâmon provam conclusivamente que não há câmaras ou passagens escondidas por trás das paredes do complexo mortuário do famoso faraó no Vale dos Reis.

Uma declaração foi emitida hoje pelo Ministério de Antiguidades durante a quarta Conferência Internacional de Tutancâmon, realizada no Grande Museu Egípcio (GEM), em Giza.

A declaração conclui de forma decepcionante uma investigação que começou há quase três anos, quando Nicholas Reeves, egiptólogo da National Geographic, teorizou que a tumba da lendária rainha da 18ª dinastia, Nefertiti, poderia estar escondida atrás das paredes do mausoléu de 3,3 mil anos de Tutancâmon.

Dois testes anteriores da teoria de Reeves, que usaram georradar (GPR) para buscar as câmaras ou passagens escondidas, não geraram resultados conclusivos.

A terceira e mais recente investigação com radares, conduzida no início deste ano com apoio da National Geographic Society, é uma missão científica conjunta coordenada por Franco Porcelli, do Instituto Politécnico de Turim. Ela é considerara a busca mais abrangente até o momento.

O relatório científico apresentado no sábado por Porcelli ao Ministro de Antiguidades do Egito, Khaled El Enany, termina com a seguinte afirmação: “Concluímos com alto grau de convicção que a hipótese que diz respeito à existência de câmaras escondidas adjacentes à tumba de Tutancâmon não é compatível com os dados coletados pelo georradar.”

Vendo o invisível

O georradar, uma técnica de varredura remota comumente utilizada na busca de petróleo, gás e outros minerais, é uma ferramenta cada vez mais crucial para arqueólogos. Ele permite detectar cavidades na terra feitas pelo homem, como tumbas e passagens, sem danificar frágeis sítios arqueológicos.

Em 2015, o especialista em radares Hirokatsu Watanabe conduziu uma varredura de georradar de dois dias na tumba de Tutancâmon e declarou resultados surpreendentes: evidências de passagens escondidas nas paredes norte e oeste da câmara funerária.

No entanto, uma segunda varredura de radar da tumba, realizada por engenheiros da National Geographic Society em 2016, não encontrou os mesmos resultados que Watanabe.

Para solucionar as discrepâncias entre as duas análises, o Ministro El Enany comissionou uma abrangente varredura de radar para “desempate”.

Equipes independentes

O relatório apresentado hoje aos oficiais egípcios inclui resultados de três novas varreduras de georradar, conduzidas em 2018 por três equipes independentes, cada uma utilizando uma frequência diferente: alta, média e baixa. Radares de alta frequência podem fornecer resultados detalhados para distâncias de até dois metros, enquanto frequências mais baixas penetram mais profundamente, mas apresentam resultados mais restritos.

As equipes de pesquisa do Instituto Politécnico de Turim, na Itália, em parceria com a Universidade de Turim e duas empresas privadas, a Geostudi Astier e a 3DGeoimaging, trabalharam durante sete dias e coletaram dados equivalentes a varredura de 2,5 quilômetros.

Após interpretações individuais dos dados do radar por cada especialista, eles se juntaram para comparar os resultados.

“Concluímos que não haja evidências de portas ou espaços vazios além da câmara funerária em até quatro metros” disse Porcelli à National Geographic.

“É decepcionante, mas é o resultado. Ele é conclusivo no nosso ponto de vista” adiciona.

Sinais fantasmas

Porcelli suspeita que as anomalias detectadas anteriormente na câmara funerária do faraó, que levantaram a empolgante possibilidade da tumba de Nefertiti estar escondida ali, foram resultados de “sinais fantasma”, sinais falsos de radar que originaram na frente das paredes, e não atrás delas.

Em condições normais, a antena do GPR envia ondas eletromagnéticas através da parede, e elas voltam direto para o receptor, fornecendo um sinal muito nítido.

Mas parece que, em alguns pontos da tumba de Tutancâmon, as ondas eletromagnéticas não penetraram as paredes, e sim se deslocaram ao longo delas antes de voltarem ao receptor.

O culpado? Os pesquisadores suspeitam que a superfície pintada de forma elaborada que cobre as paredes de calcário pode conter propriedades que a permitam conduzir eletricidade.

“A própria pedra poderia conter propriedades que causem esse fenômeno” explica Porcelli.

Os pesquisadores suspeitam que outros sinais fantasma podem ter vindo do enorme sarcófago de quartzito de Tutancâmon, que ocupa quase todo o espaço da câmara central.

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    Em uma segunda investigação na tumba, em 2016, os técnicos da National Geographic Eric Berkenpas e Alan Turchik preparam os equipamentos.
    Foto de Kenneth Garrett, National Geographic

    Ceticismo

    Enquanto os resultados desta última varredura de radar não suportam a teoria da “tumba escondida de Nefertiti” que provocou a pesquisa, Porcelli acredita que o projeto demonstre a capacidade do georradar em oferecer respostas conclusivas. Isso é importante principalmente porque boa parte da comunidade arqueológica do Egito ainda vê a tecnologia com ceticismo, mesmo com seu histórico comprovado em muitos sítios arqueológicos em todo o mundo.

    “Ele pode ser mais eficiente que a arqueologia tradicional e menos destrutivo”, ele adiciona.

    Fredrik Hiebert, arqueólogo residente da National Geographic, concorda.

    “Este é o primeiro projeto conclusivo com uso de GPR no Vale dos Reis” disse Hiebert. “Ele comprova a técnica e é prova de conceito para grandes trabalhos que podem ser realizados no Egito.”

    “Os resultados podem ter sido decepcionantes, mas a ciência foi fundamental.”

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