Exclusivo: Ave jurássica é encontrada preservada em âmbar
O animal de 99 milhões de anos é o fóssil de ave mais bem preservado já encontrado pela ciência nos depósitos de âmbar de Mianmar.
Os restos esmagados de uma ave pequena que viveu há 99 milhões de anos foi encontrado revestido por um turvo pedaço de âmbar de Mianmar (Birmânia). Apesar de outros animais encontrados anteriormente em âmbar birmanês serem visualmente mais espetaculares, nenhum deles continha tanto esqueleto como essa jovem ave, que inclui a parte de trás do crânio, grande parte da coluna, o quadril e partes de uma asa e de uma pata. (Ajude-nos a celebrar 2018 como o Ano do Pássaro.)
A ave recém-descoberta também é especial porque os pesquisadores podem ver mais claramente as entranhas de uma jovem criatura pré-histórica, disse o co-autor do estudo Ryan McKellar, do Museu Real Saskatchewan, em Regina, Canadá.
“O âmbar está escuro, com muitos pequenos pedaços de madeira. Parece que ele foi produzido perto ou no chão da floresta,” disse McKellar. Isso significa que a aparência externa do pássaro não está ótima, mas o interior é muito mais empolgante.
“Quando ela estava sendo preparada em Mianmar, eles poliram toda a metade da frente da amostra, o que nos deu uma visão exposta da cavidade do peito e do crânio”, disse McKellar.
A descoberta é adicionada a uma coleção notável de fósseis do período Cretáceo dos depósitos de âmbar no Vale de Hukawn, no norte de Mianmar. Nos últimos anos, a região também cedeu várias belas asas de aves, a espetacular cauda emplumada de um pequeno dinossauro carnívoro e todo o contorno de um pássaro recém-nascido. Em dezembro, os pesquisadores revelaram carrapatos preservados em âmbar que podem ter se alimentado dos dinossauros.
“Esse depósito de fóssil de Mianmar está claramente mudando o jogo. É a revelação mais importante para se entender a evolução dos pássaros”, disse Julia Clarke, especialista em evolução e voos de aves da Universidade do Texas, em Austin.
“Costumávamos pensar que nunca iríamos ter uma ave inteira em âmbar do período Cretáceo, mas agora temos muitos exemplares.”
ESPUMOSO E ESMAGADO
Lida Xing, principal autor do artigo detalhando a espécime no periódico Science Bulletin, diz que quando viu a ave sendo vendida por joias em Mianmar em 2015, o seu coração começou a bater mais forte.
A equipe teve sorte de adquirir a ave para o Instituto de Paleontologia de Dexu, em Chaozhou, na China. Aves em âmbar podem, algumas vezes, serem vendidas por mais de 500 mil dólares, colocando-os fora do alcance de cientistas, disse Xing, paleontólogo da Universidade de Geociências da China, em Pequim.
Ele estima que esse seja apenas a segunda ave em âmbar birmanês descrita por cientistas e publicada em um periódico. Mas ele acredita que seis foram descobertas até agora e aproximadamente metade delas desapareceram nas mãos de colecionadores particulares.
Baseado nas análises – sustentadas em partes pela National Geographic – a equipe diz que o jovem pássaro caiu na resina da árvore do período Cretáceo vivo ou morto e a umidade fez com que a resina se espumasse levemente, o que depois criou o âmbar turvo. Alguns dos ossos e tecidos moles foram desgastados pelo tempo e o sedimento ficou preso dentro dos espaços.
“Uma resina subsequente escorreu selando os restos para protegê-los de futuros desgastes ou dissolução, mas o âmbar foi depois esmagado, despedaçando muitos dos ossos,” disse McKellar. “Tudo isso agora está preso em um pedaço de âmbar aproximadamente do tamanho de uma fivela de cinto.”
A ave sozinha mede 6 centímetros de comprimento e talvez seja ligeiramente mais velho do que o pássaro recém-nascido de 4,5 centímetros descrito no ano passado. A estrutura de suas penas e esqueleto sugere que ela era um enantiornithine, um tipo de ave primitiva que foi extinta com os dinossauros não-aviários há 66 milhões de anos. (Aqui está o que aconteceu no dia em que os dinossauros morreram.)
“Apesar de serem recém-nascidos, eles já têm um conjunto completo de penas de voo,” disse McKellar. “Eles têm uma raque fracamente desenvolvida, o que significa que elas podem não ter sido boas voadoras.”
Em vida, a ave tinha dentes no bico e era castanho escuro ou cor de noz, com penas encrespadas na cabeça e no pescoço.
PARCEIROS DE NINHO
“É sempre empolgante quando um fóssil de um vertebrado é encontrado em âmbar, especialmente em âmbar Cretáceo”, disse George Poinar, paleobiólogo da Universidade do Estado de Oregon, em Corvallis, cuja pesquisa sobre insetos fossilizados em âmbar inspirou o roteiro de Parque dos Dinossauros.
Ele acrescenta que faz sentido atribuir o fóssil às aves enantiornithines por terem sido comuns naquela época. Mas é uma pena “que esteja faltando as duas características do diagnóstico daquela família: o bico com dentes e garras nos dedos das asas.”
Poinar especula que a ave pode ter sido atacada por um predador, caído do ninho e se juntado à resina que escorria da mesma árvore. Alguns dos fragmentos da planta e uma barata, que também foram encontrados presos no pedaço de âmbar, podem ter originado nesse ninho.
“Baratas são geralmente necrófagas e encontrá-las em material de nidificação não seria uma surpresa”, ele disse.
Segundo McKellar, com tempo e sorte a equipe espera ter toda uma série desenvolvida de pássaros enantiornithines em âmbar birmanês. Com certeza não há a escassez da matéria-prima para ser inspecionada. Somente em 2015, uma estimativa de 10 toneladas de âmbar foi extraída do Vale de Hukawng.