Estes são os últimos americanos a visitar a Coreia do Norte
Antes de os Estados Unidos proibirem as viagens dos seus cidadãos para lá, um pequeno grupo se apressou em visitar a nação mais fechada do mundo.
Confira a reportagem completa: O último olhar no país proibido na edição de dezembro de 2017 da revista National Geographic Brasil. Publicada por ContentStuff.
Apesar de todas as leis restritivas, do governante severo e da sua reputação como o “Reino Ermitão”, a Coreia do Norte é, há muito tempo, aberta a visitantes. Há anos, companhias de turismo chinesas levam estrangeiros ao país para um passeio, com curadoria, pela vida cotidiana norte-coreana. Cerca de mil americanos por ano puderam passar um tempo em parques de diversão, escolas e estações de metrô, praticamente sem incidentes.
Em 2017, no entanto, isso mudou. A morte do universitário americano Otto Warmbier, em 19 de junho – que havia sido detido em Pyongyang e depois condenado por roubar um cartaz de propaganda política de um hotel –, aumentou a tensão entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos. E, à medida que o desenvolvimento de armas nucleares em Pyongyang aumentava a perspectiva de uma guerra, o Departamento de Estado americano passou a restringir o uso de passaportes do país para viagens à Coreia do Norte.
Antes da proibição entrar em vigor, em 10 de setembro, o fotógrafo David Guttenfelder entrou em um grupo que contava com seis americanos ansiosos para conhecer a nação mais secreta do mundo. Guttenfelder, por quase 20 anos, foi um dos poucos jornalistas ocidentais com permissão para entrar na Coreia do Norte. Ele já fez mais de 40 viagens para documentar o cotidiano local.
Quase todos os viajantes se declararam surpresos com o que viram. “Era diferente de qualquer coisa que eu pudesse esperar”, diz Amy Kang, uma coreana-americana que viajou com o marido. Depois de todas as histórias que tinha ouvido sobre o regime repressivo e a falta de liberdade, ela ficou intrigada ao encontrar, em Pyongyang, um elemento da normalidade: pessoas com empregos e famílias, como em qualquer outro lugar. Ela falou com uma mulher que listou vários dos seus filmes americanos favoritos.
Brad Yoon, motorista de Uber na Califórnia, ficou impressionado com a disciplina coletiva. “As pessoas são orgulhosas do seu país e dos seus militares, e têm uma autêntica admiração pela liderança da nação”, conta. (Ele disse aos pais que estava indo para a China, para não preocupá-los.)
Naturalmente, ser turista significava estar em uma bolha de previsibilidade e calma. Em visitas supervisionadas a uma mercearia, ao boliche, a uma cervejaria e ao circo, ninguém mencionou as ameaças nucleares ou a guerra de palavras entre Kim Jong-un e o presidente americano, Donald Trump. Durante a viagem, no final de agosto, a Coreia do Norte lançou um míssil sobre o Japão. Guttenfelder ficou sabendo disso pelo Twitter, através da limitada cobertura 3G do seu celular. Ninguém que estava com ele, incluindo os guias, soube nada a respeito.
No entanto, era possível sentir a tensão de um conflito. Para Guttenfelder, os norte-coreanos pareciam mais tensos que nas suas visitas anteriores. Nas estradas, havia mais outdoors com propaganda política que o habitual atacando os Estados Unidos. No aeroporto, uma obra de arte que apresentava crianças construindo mísseis com blocos de madeira parecia bem adequada.
O passeio incluía uma visita à Zona Desmilitarizada (DMZ), a área fronteiriça que corta o Paralelo 38, em que soldados norte e sul-coreanos se encaram, sem expressão, alertas para a guerra. Para os americanos, a proibição de viagens gerou também uma urgência para a compra de lembranças em lojas e barracas à beira de estradas: selos, produtos de ginseng e bebidas alcoólicas típicas. Um suvenir especialmente popular: cartazes de propaganda política antiamericana.