Fóssil de “dragão” chinês reconfigura origem dos maiores dinossauros do mundo

A descoberta ocorreu pouco depois de outro achado importante: um saurópode que também modifica teorias sobre sua evolução.

Por Michael Greshko
Publicado 30 de jul. de 2018, 17:13 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma ilustração mostra como seria o "dragão chinês" Lingwulong shenqi.
Uma ilustração mostra como seria o "dragão chinês" Lingwulong shenqi.
Foto de Illustration by Zhang Zongda

DINOSSAUROS DE PESCOÇO LONGO FORAM os maiores animais terrestres de todos os tempos. Como monumentos de tendões e ossos ambulantes, esses gigantes herbívoros – chamados de saurópodes – podiam medir até 36 metros da calda até a cabeça. No auge do peso, podiam chegar a 70 toneladas.

Mas um novo estudo publicado na Nature Communications mudou a história de origem convencional dos saurópodes. Uma nova espécie de saurópode chinesa, chamada de Lingwulong shenqi— o “incrível dragão de Lingwu”— implica diretamente que enormes grupos dos maiores animais terrestres do mundo viveram cerca de 15 milhões de anos antes do que pensávamos.

O anúncio foi feito apenas algumas semanas após outra publicação de sucesso na Nature Ecology and Evolution revelar que os primeiros dias dos saurópodes foram uma época de experimentação evolutiva. Um antigo primo do saurópode clássico chamado Ingentia prima—“o primeiro gigante”— chegou a um caminho anatômico de milhões de anos antes dos clássicos dinossauros de pescoço longo.

“Eu amo essas publicações, porque as duas trazem informações que mudam muita coisa”, diz o paleontologista Steve Brusatte, da University of Edinburgh, o autor de The Rise and Fall of the Dinosaurs e explorador do National Geographic. “Não significa que o que sabíamos sobre os saurópodes estava errado, mas alguns eventos muito importantes na evolução deles aconteceram muitos milhões de anos antes do que pensávamos”.

Inovação anatômica

Os saurópodes dominaram os sistemas terrestres da Terra pela maior parte da era dos dinossauros, se estendendo desde o final do período Triássico, há 200 milhões de anos, até o final do período Cretáceo, há cerca de 90 milhões de anos. Mas eles não eram gigantes; os primeiros saurópodes eram pequenos bípedes.

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Os paleontologistas achavam que o até então chamado de “verdadeiro saurópode” não acumulou as adaptações necessárias para se tornar o gigante arranha-céu vegetariano até cerca de 180 milhões de anos atrás, durante o período Jurássico Médio. Esses animais cresciam quase constantemente desde seu nascimento, e seus corpos se modificavam para perder ou aguentar mais peso. Seus crânios diminuíram e os ossos do pescoço se tornaram favos cheios de ar; suas pernas se tornaram colunas robustas.

Mas quando e onde esses passos evolutivos cruciais aconteceram? Descobrimos que muito antes do período Jurássico Médio.

Equipe liderada pela paleontologista Cecilia Apaldetti, da National University of San Juan, descobriu restos intrigantes de um dinossauro de pescoço longo na Patagônia, de aproximadamente 208 milhões de anos atrás. Os restos mortais parciais, chamados de Ingentia prima, pertenceram a um animal com cerca de dez metros e dez toneladas — um tamanho impressionante, para um animal que precedeu o “kit de ferramentas” anatômico dos saurópodes.

Esses primos mais velhos do verdadeiro saurópode tropeçaram em sua própria maneira de crescer. Ao contrário dos saurópodes do fim do período Jurássico Médio, seus ossos não cresciam suavemente com a mesma proporção. Ao invés disso, cresciam alternadamente em períodos rápidos e lentos. Além disso, os membros eram mais inclinados para eles do que os membros parecidos com colunas dos saurópodes posteriores; mas suportavam o peso dos animais sem problemas. Os ossos de seus pescoços não eram preenchidos com ar ou alongados, como os dinossauros de pescoço longo posteriores.

A descoberta confirma que os dinossauros começaram a ocupar o nicho de herbívoros gigantes durante o final do período Triássico – com um mosaico de traços.

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    “Dinossauros tinham uma habilidade incomum de inovação anatômica desde o começo da evolução”, diz Apaldetti. “Isso permitia que eles dominassem e prevalecessem em quase qualquer ecossistema terrestre por milhões de anos. Provavelmente, essa ‘versatilidade anatômica’ foi crucial para que eles se tornassem um dos vertebrados mais bem sucedidos na história da vida na Terra”.

    O incrível dragão

    Apenas algumas semanas após o achado do Ingentia, uma outra equipe de paleontologistas, que trabalhava na China, anunciou a descoberta do Lingwulong shenqi, um tipo de saurópode de 174 milhões de anos, chamado diplodocoidea. A descoberta deve fazer barulho; o Lingwulong foi encontrando onde e quando era menos esperado.

    Em 2005, o paleontólogo e explorador do National Geographic Xing Xu, da Academia Chinesa de Ciências, começou a escavar um sítio no noroeste de Lingwu, na China, descoberto um ano antes por um fazendeiro local. Ele e seus colegas encontraram de oito a dez dinossauros nos anos seguintes – incluindo o Lingwulong, o primeiro dinossauro de seu tipo a ser encontrado na Ásia.

    “Eu percebi que essas descobertas poderiam preencher um vazio na história”, diz Xu, autor do estudo.

    O Lingwulong se destaca porque nos ajuda a esclarecer como a evolução dos saurópodes se alinhou com a quebra de Pangéia, o supercontinente primitivo da Terra. Essa quebra do planeta teve um papel enorme em como a vida terrestre evoluiu durante a era dos dinossauros. Como oceanos recém formados separaram áreas que costumavam ser conectadas, os animais terrestres já não podiam andar livremente por elas – deixando regiões isoladas apenas com suas próprias fontes evolutivas.

    Antes do Lingwulong, nenhum diplodocoidea havia sido encontrado no leste da Ásia, uma ausência que os paleontólogos supuseram que se deu por uma realidade biológica da época. Para explicar a falta de dinossauros, cientistas sugeriram que um oceano interno separou o leste da Ásia do resto de Pangéia há cerca de 180 milhões de anos. Pensava-se que esse mega-fosso tivesse impedido os diplodocoideas e seus primos – os chamados neossauropodídeos – de chegar no leste da Ásia.

    Com a chegada do Lingwulong, no entanto, os cientistas agora devem considerar que os neossauropodídeos conseguiram se espalhar por toda Pangéia antes de sua ruptura. Isso implica que os principais ramos da  árvore genealógica da família saurópode se separaram cerca de 15 milhões de anos antes do que era imaginado.

    “A descoberta do nosso novo animal… significa que essa hipótese de isolamento foi um pouco diluída, ou até mesmo colocada sob sérias dúvidas”, diz o co-autor do estudo, Paul Upchurch, paleontólogo da University College London e explorador do National Geographic. “Nós propusemos que muitos dos grupos que supostamente estavam ausentes na China, podem muito bem ter estado presentes e que apenas não os vimos simplesmente por falta de fósseis”.

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