Esse feroz dinossauro ‘semiaquático’ pode ter sido um nadador desajeitado

Embora relacionado à água, o Espinossauro talvez não tivesse estrutura para mergulhar atrás dos peixes que caçava, segundo novo estudo.

Por Michael Greshko
Publicado 27 de ago. de 2018, 18:54 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Um modelo em tamanho real do esqueleto do Espinossauro, o maior dinossauro carnívoro encontrado até o ...
Um modelo em tamanho real do esqueleto do Espinossauro, o maior dinossauro carnívoro encontrado até o momento.
Foto de Rebecca Hale

Há mais ou menos um milhão de anos, um dinossauro com mais de 15 metros de altura vagava na antiga costa do Marrocos e usava seu crânio crocodiliano para se alimentar de peixes e outros animais. No entanto, cientistas vêm discutindo como exatamente esse predador chamado Espinossauro perseguia suas presas na água.  

Em 2014, o estudo de grande êxito do Explorador Emergente da  National Geographic Nizar Ibrahim defendeu que o Espinossauro passava a maior parte do seu tempo na água, possivelmente nadando – ou até mergulhando para perseguir suas presas aquáticas, sendo o primeiro dinossauro a fazer isso. Agora, um novo estudo afirma que, apesar de sua inclinação para peixes, o Espinossauro pode, no final das contas, não ter sido um grande nadador.

A análise publicada na revista científica PeerJ utilizou simulações computadorizadas para determinar como a criatura flutuava. Os resultados sugerem que o Espinossauro pode ter sido dinâmico o suficiente para mergulhar atrás da presa, e por ser muito pesado e com forma esguia, ficava propenso a inclinar para um dos lados. 

“Eu indiquei aquilo que acredito serem problemas para a hipótese [da equipe de Ibrahim] e, se não puderem rebater com novas evidências, então essa hipótese, combinando as minhas metáforas, morreria na praia”, afirma Don Henderson, curador de dinossauros do Museu de Paleontologia Royal Tyrrell em Alberta, Canadá, e autor do estudo. “A ciência é feita para se autocorrigir, então estamos colocando isso em prática”.

Enquanto não houver uma palavra final sobre as capacidades aquáticas do Espinossauro, as descobertas devem renovar o debate a respeito de como o maior carnívoro conhecido satisfazia seu imenso apetite.

“O trabalho parece ser bem convincente sobre o Espinossauro não aparentar uma forma corporal particularmente bem adaptada para mergulhar e nadar debaixo d’água”, afirma o paleontologista da Universidade de Maryland Tom Holtz, que não participou do estudo.

Quase impossível afundar?

Independentemente de como esse dinossauro manobrava na água, o Espinossauro e seus parentes dependiam de ecossistemas aquáticos. Escamas de peixes foram encontradas nos estômagos dos espinossauros e ossadas desses dinossauros aparecem em áreas que já foram costeiras e margens de rios.

As mandíbulas do Espinossauro assemelham-se à da atual enguia comedora de peixe pike conger; ambos os animais têm bocas afuniladas que formam distintivamente “rosetas” de dentes cônicos, fazendo com que fossem apropriados para capturar peixes escorregadios em águas turvas. Além disso, a assinatura química do Espinossauro permanece como uma sugestão de que o animal passava grande parte da vida na água, como os crocodilos de hoje em dia.

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“Observamos diversos estudos interessantes que aumentam as evidências de um Espinossauro que amava ficar na água”, afirma Ibrahim, paleontólogo da Universidade de Portsmouth. “Os detalhes de como os animais se movimentavam na água e capturavam suas presas são obviamente a parte mais complicada da pesquisa científica”.

Para colocar o Espinossauro em seu ritmo marítimo, Henderson construiu um modelo do dinossauro tridimensional baseado na reconstrução do esqueleto do dinossauro realizada por Ibrahim em 2014. Ele voltou a atenção especialmente para a sépala do Espinossauro, que pesava centenas de quilos e tinha vários metros de altura. Para validar seu método, Henderson construiu modelos também para jacarés e pinguins-imperador que flutuavam em simulações como fazem na vida real.

Primeiramente, Henderson verificou se um Espinossauro flutuante poderia manter a cabeça fora d’água. A simulação demonstrou que sim, mas não tanto quanto outros dinossauros relacionados, incluindo o Tiranossauro e o Barionix. Ele também descobriu que era “impossível afundar” um Espinossauro: mesmo levando em consideração seus ossos mais densos ou cenários nos quais o Espinossauro poderia eliminar três-quartos do ar nos pulmões, ainda assim teria dificuldade para mergulhar.

O modelo de Henderson também mostrou que o centro de massa do Espinossauro ficava acima e entre as patas posteriores, ou seja, ele conseguia caminhar utilizando seus membros posteriores de maneira eficaz. Isso contrasta com os achados de Ibrahim, que indicavam que o centro de massa do dinossauro seria mais frontal, sugerindo que o animal se sentia menos confortável andando em terra firme sem recorrer aos quatro membros.

Levando isso em consideração, os membros posteriores do Espinossauro eram anormalmente pequenos, fazendo com que a passada fosse similar ao de um Dachshund, se comparada com seus familiares. “Eram pernas curtas e atarracadas, em todas as métricas”, afirma Holtz. “O Espinossauro não passeava pelos campos”.

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    Em seguida, Henderson verificou se o Espinossauro tinha estabilidade dentro da água. Ele fez um modelo com setores transversais do Espinossauro e de um jacaré americano, que então derrubou para um dos lados num ângulo de 20 graus. Como um caiaque parcialmente inclinado, o setor transversal do jacaré rebateu até eventualmente se autocorrigir. No entanto, o setor transversal do Espinossauro pendeu para um lado e permaneceu.

    “Todos os tipos de animais semiaquáticos de hoje em dia, tartarugas, mamíferos marinhos, se autocorrigem, eles não ficam constantemente se debatendo para ficarem eretos”, diz Henderson. “Ficar em pé não era a posição natural [do Espinossauro]”.

    Vida aquática

    Em uma entrevista por telefone, Ibrahim diz ter acolhido o estudo de Henderson, porém também expressou algumas preocupações.

    Ele observa que Henderson não averiguou os modelos com os ossos reais, que estão na coleção de que Ibrahim é o cocurador. Ele também observa que, como tudo na paleontologia, modelos computadorizados de animais antigos têm suas próprias fontes de erros. Modelos futuros irão se beneficiar mais dos fósseis; Ibrahim comenta que outros ossos do Espinossauro foram encontrados e estão sendo formalmente descritos.

    “É sempre bom utilizar técnicas de modelagem, mas nós precisamos mais do que isso, precisamos de mais modelos que sejam de fato baseados nos fósseis”, ele afirma. “Afinal, a veracidade está nos ossos e não no computador”.

    Holtz acrescenta que o Espinossauro pode muito bem ter passado pelos estágios iniciais de evolução de sua vida semiaquática. “Você não necessariamente tem o equipamento que quer para usar em um comportamento assim que ele inicia”, ele diz. Tais adaptações se desenvolvem com o tempo. 

    De sua parte, Henderson imagina o animal como um urso pardo: uma máquina que se alimenta de peixes e que não tinha nenhum impedimento para andar na superfície e sair dela.

    David Hone, paleontólogo da Queen Mary na Universidade de Londres, acrescenta que nadar não é uma prova decisiva para uma vida aquática.

    “Garças não são muito boas em nadar, mas passam a maior parte do tempo com a água na altura do joelho, se refrescando nos contornos dos rios”, ele observa. “‘Semiaquático’ pode ser um exagero, mas certamente estamos falando de um animal cuja ecologia está fundamentalmente ligada à água”.

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