Encontrado novo pterossauro 'dragão de ferro' na Austrália

Os restos mortais perfeitamente preservados formam o mais completo réptil voador já descoberto no continente.

Por Maya Wei-Haas
Publicado 9 de out. de 2019, 18:15 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Com envergadura de asas de aproximadamente quatro metros, o Ferrodraco lentoni alçou voo há cerca de ...
Com envergadura de asas de aproximadamente quatro metros, o Ferrodraco lentoni alçou voo há cerca de 96 milhões de anos, como ilustrado aqui.
Foto de Illustration by Travis R. Tischler

EM UM DIA DE OUTONO de 2017, Bob Elliott tinha acabado de passar herbicida em sua propriedade em Belmont, na Austrália, quanto notou algo incomum saindo do chão lodoso: alguns ossos marrons com manchas. A propriedade, que pertence a Elliott e outros donos e é gerenciada por ele, já abrigou restos mortais de dinossauros de pescoço longo, conhecidos como saurópodes. Mas, comparados aos ossos desses gigantes, os fósseis recém-encontrados são extremamente pequenos.

“Ele logo percebeu que se tratava de algo bastante peculiar (...) e diferente de tudo que já tinha sido visto”, afirma Adele Pentland, pesquisadora associada do Museu de História Natural da Australian Age of Dinosaurs, localizado em Winton, Queensland. Estudos adicionais realizados por Pentland e seus colegas confirmaram que os ossos do fóssil que Elliott encontrou provinham de um réptil voador conhecido como pterossauro — e representam o conjunto mais completo de restos mortais de pterossauro já encontrado na Austrália.

Batizado de Ferrodraco lentoni, o novo fóssil não está nem perto de formar um esqueleto completo; ele possui partes do maxilar e mandíbula, cinco ossos parciais do pescoço, partes de ambas as asas e muitos dentes. Contudo, descobertas de pterossauros na Austrália são extremamente raras e esses fósseis estão excepcionalmente bem preservados.

“É uma grande descoberta”, afirma David Unwin, paleontólogo da Universidade de Leicester. “É mais uma peça no quebra-cabeça para determinar sua disposição espacial e também sua distribuição ao longo do tempo.”

Descrito hoje no periódico Scientific Reports, o pterossauro recém-encontrado possui cerca de 96 milhões de anos, tomando por base as idades calculadas anteriormente para a formação rochosa que se acredita que tenha sepultado os ossos da criatura. Acredita-se que seus parentes mais próximos, os pterossauros do grupo Anhanguera morreram há 94 milhões de anos.

Embora sua idade exata permaneça incerta, o Ferrodraco é mais um de uma série de novas descobertas australianas da época dos dinossauros, como o fóssil de dinossauro mais completo preservado em opala.

“Acho que estamos na iminência de encontrar muito mais fósseis”, afirma Dave Hone, paleontólogo da Queen Mary University of London. “Cada vez mais, dinossauros australianos estão sendo encontrados e os pterossauros não estão muito atrás.”

Esta reconstrução do esqueleto do Ferrodraco mostra os ossos fossilizados preservados em três dimensões encontrados recentemente. Embora o pterossauro esteja longe de estar completo, a descoberta de restos mortais desses répteis voadores é extremamente rara na Austrália.
Image by Adele H. Pentland and Stephen Poropat, based on skeletal reconstruction by Mark Witton

Répteis dos céus

Os pterossauros sobrevoaram boa parte dos céus do mundo entre 228 e 66 milhões de anos atrás e podiam chegar a tamanhos enormes, alguns com envergaduras de mais de seis metros. O Ferrodraco provavelmente tinha um tamanho um pouco mais modesto, com envergadura de asas de quatro metros aproximadamente.

Para se manter no ar, os ossos desses incríveis voadores tinham de ser extremamente leves e ocos, o que fez com que seus restos mortais delicados quebrassem e fossem esmagados facilmente sob pressão. Por isso, são tremendamente raras as descobertas de fósseis, sobretudo na Austrália.

“Todos os materiais fósseis já encontrados caberiam em uma bolsa de mão”, afirma Unwin.

No caso do Ferrodraco, seus restos mortais foram encontrados em uma rocha rica em ferro, o que possibilitou sua impressionante preservação — e deu origem ao nome de seu gênero, uma combinação das palavras “dragão” e “ferro” em latim. Os fluidos ricos em ferro provavelmente infiltraram na carcaça do animal após sua morte, formando posteriormente um mineral rígido que fortaleceu os ossos frágeis e os preservou tridimensionalmente, conta Pentland. Essa preservação excepcional poderia ajudar os pesquisadores a entenderem melhor a fisiologia do pterossauro e como os pterossauros voavam, acrescenta Unwin.

O dragão de ferro

Os pesquisadores distinguem o Ferrodraco de seus outros parentes pterossauros Anhanguera pelo padrão único de tamanhos de dentes. Embora possa parecer uma diferença irrisória, é um dos poucos pontos de distinção significativa normalmente preservados nos pterossauros Anhanguera, que, em geral, são “absurdamente” semelhantes uns com os outros, afirma Hone. A semelhança provavelmente decorre, em parte, das rígidas exigências biomecânicas para alçar voo.

“Para que um organismo seja capaz de voar, existe praticamente uma única forma de conseguir isso”, afirma Hone.

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    E, como os demais pterossauros semelhantes, o Ferrodraco provavelmente era um voador exímio. Prova disso pode ser encontrada em seus laços familiares, explica Pentland. Muitas das criaturas terrestres da Austrália existentes nessa época, como os saurópodes de pescoço longo, possuíam parentesco mais próximo com as criaturas encontradas na América do Sul. Não é o caso do Ferrodraco que, ao contrário, possui maior proximidade com os pterossauros encontrados na região atual da Inglaterra.

    “Um grande e pesado dinossauro que vive no Reino Unido teria muita dificuldade de chegar à Austrália”, afirma Hone. “Mas para um animal capaz de voar centenas de quilômetros em uma tarde, o deslocamento do Reino Unido até a Austrália ao longo de algumas centenas de milhares de anos não é uma surpresa tão grande.”

    Curiosamente, o Ferrodraco poderia ser o último pterossauro sobrevivente do tipo já encontrado. Estudos anteriores sugerem que a formação em que os fósseis foram encontrados é coberta por uma camada rica em fósseis de animais datada de cerca de 94 milhões de anos atrás. Se a criatura ficou envolta nessa camada, poderia ter 90 milhões de anos apenas, afirma Pentland.

    Acredita-se que seus parentes Anhanguera tenham definhado até a extinção há 94 milhões de anos, durante um período de inquietação ambiental. Ainda não está claro exatamente por que os outros desapareceram, mas é possível que a razão se deva à sua dieta. Essas criaturas eram ávidas comedoras de peixes, porém, na época, as temperaturas dos oceanos aumentaram e os níveis de oxigênio despencaram, exterminando inúmeras espécies de peixes.

    “Algo terrível ocorreu nos oceanos”, afirma Unwin.

    Embora o Ferrodraco possa ser discretamente mais jovem que os demais de seu grupo, Unwin destaca que a nova espécie pode não ter sobrevivido necessariamente a esse colapso. Pentland admite que ainda é muito cedo para tirar conclusões definitivas e acrescenta que a equipe espera conseguir determinar a idade do local específico que continha os ossos do Ferrodraco.

    Para Pentland, a descoberta do Ferrodraco possui ainda um significado maior. O Museu de História Natural da Australian Age of Dinosaurs, onde o espécime ficará exposto, traz pessoas do mundo todo à cidade de Winton. Não há dúvida de que essa última descoberta atrairá mais visitantes.

    “É uma grande honra fazer isso por essa cidade e poder ajudar a comunidade com qualquer contribuição específica que esteja ao meu alcance”, afirma ela.

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