Mulher de 7 mil anos foi uma das últimas caçadoras-coletoras da Suécia – veja reconstituição

Sepultada com adornos em uma cama de chifres, essa mulher foi um membro especial de sua comunidade. Mas por quê?

Por Kristin Romey
Publicado 13 de nov. de 2019, 17:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A expressão "intensa e fascinante" da mulher, além de outros mistérios, foi o que mais chamou a atenção dos pesquisadores.
Foto de Gert Germeraad, Trelleborgs Museum

“Essa pode ter sido a cova mais difícil que escavamos em Skateholm”, afirma Larsson, professor emérito de arqueologia da Universidade de Lund.

Skateholm e outros cemitérios do final do período Mesolítico, na região ao longo da costa sul da Escandinávia, atraem particularmente arqueólogos por revelar comunidades de caçadores-coletores que continuaram a se desenvolver por quase mil anos depois que os agricultores do Neolítico introduziram a agricultura na Europa continental.

Ao que parece, o isolamento geográfico não foi o motivo da chegada tardia da agricultura na Escandinávia, afirma Larsson, apontando para os túmulos encontrados em Skateholm que sugerem contatos comerciais com comunidades agrícolas no continente europeu. Ao contrário, foi uma escolha.

“As pessoas costumam considerar os caçadores-coletores como seres humanos não civilizados”, explica Larsson, “mas por que passar para a agricultura quando se tem tanto sucesso com a caça, a coleta e a pesca?”

Um portal entre mundos

Embora os pesquisadores tenham contado com ossos humanos e DNA para recriar a mulher fisicamente, Larsson reluta em imaginar o papel dela na sociedade e se restringiu a afirmar que devia ser “distinto”.

Ingela Jacobsson, diretora do Museu Trelleborg, concorda. “Ela tinha alguma posição especial em sua sociedade, considerando todos os objetos com os quais ela foi sepultada, mas, além disso, não é possível fazer nenhum tipo de determinação.”

O artista Oscar Nilsson, no entanto, concentrou-se no que acreditava ter visto. “É possível interpretar evidências de várias maneiras, mas, a meu ver, com certeza ela é xamã. Ela está sepultada sentada sobre chifres. É muito impressionante e é evidente que ela era uma pessoa de grande importância e dignidade”, afirma ele.

A técnica forense de Nilsson começa com uma réplica exata em 3D do crânio original, digitalizada, impressa e depois moldada à mão para refletir a estrutura óssea e a espessura do tecido com base na origem, sexo e idade estimada do indivíduo na morte.

Para o corpo, ele recrutou uma conhecida com altura e corpo semelhantes para posar de pernas cruzadas. Nilsson e suas colegas Eline Kumlander e Cathrine Abrahamson fizeram moldes de gesso da modelo corporal, que depois foram unidos com silicone. As roupas e adornos — incluindo o cinto formado por 130 dentes de animais — foram comprados na região e montados por Helena Gjaerum.

Mas o que chama mais atenção é a expressão intensa e fascinante da mulher.

“Raramente faço reconstruções que expressam tanto o caráter”, conta Nilsson, “mas ela é uma grande personagem. Quando chegamos à conclusão de que ela era xamã, ficou mais fácil criar a expressão facial. Ela não contrai muito os músculos faciais, mas parece estar se comunicando.”

“Ela é como um portal entre o nosso e outro mundo”, acrescenta ele, “e é preciso identificar esse aspecto em seu rosto”.

A diretora do museu, Jacobsson, afirma que ficou arrepiada na primeira vez em que viu a reconstrução. “Havia um olhar especial em seus olhos; foi bastante significativo.”

Maria Jiborn, educadora do Museu Trelleborg, conta que sentiu uma sensação estranha de déjà vu quando olhou para o rosto da mulher do Mesolítico. “Lembro-me de ter pensado: será que já nos conhecemos? Estranhamente, ela me parecia familiar. Deve se parecer com algum conhecido distante.”

“Somos todos humanos através do tempo e do espaço”, acrescenta ela.

Técnica de reconstituição começa com uma réplica exata em 3D do crânio original, digitalizada, impressa e depois moldada à mão para refletir a estrutura óssea e a espessura do tecido.
Foto de Gert Germeraad, Trelleborgs Museum

Para o arqueólogo que escavou seus restos mortais, ela é a Sepultura 22. Para a equipe do museu onde ficará exposta, ela é conhecida como a “Mulher Sentada” (ao menos por enquanto, embora a equipe esteja aberta a outras sugestões). E, para o artista que reconstruiu sua imagem em tamanho real e imaginou seu olhar penetrante, ela é a “Xamã”.

Seu nome verdadeiro provavelmente foi pronunciado pela última vez há cerca de 7 mil anos nas florestas e pântanos férteis do atual sudoeste da Suécia. Mas, embora esse nome tenha se perdido na história, uma equipe liderada por Oscar Nilsson, arqueólogo e artista, pôde dar vida a sua notável sepultura com uma reconstrução que será revelada no Museu Trelleborg, localizado na Suécia, em 17 de novembro.

A mulher foi sepultada na vertical, sentada com as pernas cruzadas em uma cama de chifres. Na cintura, havia um cinto formado por mais de cem dentes de animais e, no pescoço, um grande pingente de ardósia. Uma capa curta de penas cobria os ombros.

A partir dos ossos, os arqueólogos conseguiram determinar que ela tinha aproximadamente 1,52 metro de altura e entre 30 e 40 anos quando morreu. O DNA extraído de outros indivíduos no cemitério onde foi encontrada confirmou o que sabemos sobre populações do período Mesolítico na Europa: que possuíam pele escura e olhos claros.

O advento da agricultura

Lars Larsson recorda-se da escavação da Sepultura 22 no sítio arqueológico de Skateholm, próximo a Trelleborg, no início da década de 1980. Foi uma das mais de 80 sepulturas antigas registradas em Skateholm, datadas entre 5,5 mil e 4,6 mil a.C., que apresentavam diferentes tipos de sepultamentos, incluindo pessoas enterradas em pares ou com cães, e cães sozinhos enterrados com ricas oferendas nas sepulturas. Contudo a Sepultura 22 foi um dos poucos sepultamentos sentados e os arqueólogos decidiram escavar a sepultura como um único bloco, que seria transportado para um laboratório para uma análise mais aprofundada.

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