Refugiados da Ucrânia compartilham suas histórias angustiantes

Da noite para o dia, eles perderam suas casas e tiveram suas famílias separadas. Em busca de segurança na Polônia, milhares de refugiados agora enfrentam o que vem a seguir.
Vídeo de Alice Aedy, Davide Monteleone e Manuel Montesano
Por Eve Conant
Publicado 18 de mar. de 2022, 14:19 BRT, Atualizado 21 de mar. de 2022, 17:47 BRT

Acordar com explosões. A luta para conseguir um passaporte. Uma viagem de trem angustiante envolta na escuridão para fugir das forças russas. Procurar por um “canto quente” para se abrigar.

A história de cada refugiado está repleta de tristeza e um senso de comunidade impressionante, uma angústia compartilhada e, talvez, inevitável quando mais de um milhão de pessoas são forçadas a fugir de suas casas e enfrentar duras realidades nas fronteiras do leste europeu, tudo em questão de dias. 

Irina Lopuga foi uma das refugiadas que ficou dias fugindo em direção à cidade fronteiriça de Przemyśl, na Polônia, em um pânico silencioso junto a milhares de carros.

Ela e o marido tiveram tempo suficiente para conversar, não mais sobre sonhos para comprar a própria casa ou visitar o Egito, mas sobre sobrevivência. “Falamos sobre como o mundo inteiro está virado de cabeça para baixo.”

VOZES DA FRONTEIRA: A DECISÃO
Testemunhos de Irina Lopuga, Ludmyla Tkachenko, Nelya Tkachenko, Blessing Oyeleke e Iryna Novikova gravados por Alice Aedy, Davide Monteleone e Manuel Montesano para o artigo "Os refugiados da Ucrânia compartilham suas histórias angustiantes".

Uma vez que eles chegaram à fronteira, era hora de se separar. Homens ucranianos de 18 a 60 anos foram obrigados a ficar no país e ajudar na resistência, ladeados por mulheres que pegam armas pela primeira vez e pequenos exércitos de civis cozinhando bolinhos… e coquetéis molotov.

O marido ajudaria a igreja local a se preparar para os evacuados de Kiev. Pouco antes de sair, “ele se virou e caiu em lágrimas”.

Então ela, as crianças e o cachorro deles, todos correram.

Essa família é agora uma pequena parte de uma das maiores ondas de refugiados em décadas tentando encontrar o próprio abrigo em uma Europa indignada e no limite.

Temendo pela própria segurança, os europeus têm recebido os indivíduos que compõem esse êxodo exaustivo, alguns deles visitantes estrangeiros na Ucrânia, alguns sobreviventes de conflitos de anos com separatistas apoiados pela Rússia no leste e a maioria famílias separadas, mas com, até agora, o ânimo forte.

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    Esta é a segunda vez que Lidiya Ivanenko, segurando seu filho, Myron, fugiu. A primeira foi em 2014, quando o conflito com separatistas apoiados pela Rússia eclodiu perto de sua cidade natal, Lugansk, no leste da Ucrânia. “Depois que nos mudamos para a região de Kiev, não pensei que esta guerra me alcançaria”.
    Anna Bianova, 34, posa com seu filho Maksym e seu sobrinho Myhaylo Bianov (ambos com 11 anos) enquanto a sogra Lyudmyla Shevchuk, 71, segura seu cachorro, Archie. Bianova, de Vinnytsia, achava que a guerra era uma parte inimaginável das gerações anteriores, não a deles. “É possível ter uma guerra como esta no século 21?”

    “É muito difíci deixar o marido para atrás, mas você tem que escolher: salva as crianças ou fica com ele.”

    por NELYA TKACHENKO

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      Refugiados da Ucrânia tentam encontrar alguma normalidade em sua tenda no ponto de acolhimento de refugiados em Medyka, Polônia, enquanto esperam para continuar sua passagem para outros destinos na Europa.

      Foto de ANASTASIA TAYLOR-LIND Y DAVIDE MONTELEONE
      VOZES DA FRONTEIRA: A FUGA
      Testemunhos de Anna Bianova e Irina Lopuga gravados por Alice Aedy, Davide Monteleone e Manuel Montesano para o artigo "Os refugiados da Ucrânia compartilham suas histórias angustiantes".

      “Havia um milhão de pessoas, a estação estava tão lotada que não podíamos nos mover. Foi um grande horror. As lágrimas choviam como granizo.”

      por ANNA BIANOVA

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        À esquerda: No alto:

        Ludmyla Kuchebko, 72, de Zhytomyr, deixou as sirenes de ataque aéreo para trás, mas se preocupa com seu filho em Kiev. Buscando a Deus para “salvar não apenas meu filho, mas a Ucrânia”, ela ora por cada passageiro em cada trem. “Hoje oramos não apenas pela Ucrânia, oramos pela Rússia, por nossos irmãos e irmãs de lá”.

        À direita: Acima:

        Valentyna Turchyn posa para um retrato com sua mãe (também chamada Valentyna Turchyn) e suas três filhas: Maya, cinco, em um casaco rosa, Tanya, sete, e Galyna, 16. Estão na Polônia, depois de fugir de sua cidade natal, Cherkasy, na Ucrânia.

        fotos de ANASTASIA TAYLOR-LIND Y DAVIDE MONTELEONE

        Uma cama improvisada fica ao ar livre em um centro de acolhimento de refugiados perto da travessia de Medyka entre as fronteiras ucraniana e polonesa, nos arredores de Przemyśl, Polônia.

        Foto de ANASTASIA TAYLOR-LIND Y DAVIDE MONTELEONE
        VOZES DA FRONTEIRA: A GUERRA
        Testemunhos de Lidiya Ivanenko, Ludmyla Tkachenko, Nelya Tkachenko e Anna Bianova gravados por Alice Aedy, Davide Monteleone e Manuel Montesano para o artigo "Os refugiados da Ucrânia compartilham suas histórias angustiantes".
        Uma dos milhares de intercambistas africanos no país, Blessing Oyeleke, uma estudante de medicina de 25 anos da Nigéria, fugiu da cidade de Ternopil. Ela experimentou o caos e o racismo na pressão para escapar, mas de seus cinco anos no país, ela diz: “Vir para a Ucrânia foi como um sonho para mim”.
        As irmãs Ludmyla e Nelya Tkachenko, 35 e 41 anos, de Kiev, preocupam-se com seus filhos que cruzaram para a Polônia com eles, mas lutam contra as lágrimas pensando em seus homens e famílias ainda na Ucrânia. Nelya diz que ela não está nem aqui nem lá. “Metade do meu coração eu deixei para trás, metade eu trouxe comigo”.

        “Foi tão assustador quando as primeiras bombas explodiram.”

        por LUDMYLA TKACHENKO

        Uma pilha de calçados coletados por voluntários está pronta para distribuição aos refugiados da Ucrânia que entram na Polônia perto de Przemyśl.

        Foto de ANASTASIA TAYLOR-LIND Y DAVIDE MONTELEONE
        VOZES DA FRONTEIRA: A PERDA
        Testemunhos de Ludmyla Kuchebko, Iryna Novikova, Ludmyla Tkachenko e Nelya Tkachenko gravados por Alice Aedy, Davide Monteleone e Manuel Montesano para o artigo "Os refugiados da Ucrânia compartilham suas histórias angustiantes".

        “Nascemos na Ucrânia e amamos a nossa pátria. É um país lindo. Deus deu-lhe tudo: florestas, campos... meus preciosos campos”

        por LUDMYLA KUCHEBKO

        Iryna Butenko, 33, e a filha Kateryna Falchenko, oito, fugiram de Kharkiv em pânico. Quando um trem finalmente apareceu, diz Iryna, “corremos enquanto eles atiravam desde trás” Ela não quer voltar, nunca. Katya se sente segura agora: “Ninguém está atirando ou nos ameaçando. Minha mãe está sempre perto de mim”.

         

        Foto de ANASTASIA TAYLOR-LIND Y DAVIDE MONTELEONE

        Um refugiado exausto rouba um momento de descanso em Medyka, Polônia, perto da fronteira com a Ucrânia, onde cerca de 100 mil refugiados já cruzaram.

        Foto de ANASTASIA TAYLOR-LIND Y DAVIDE MONTELEONE
        Vozes da Fronteira: o futuro
        Testemunhos Iryna Butenko, Ludmyla Tkachenko, Nelya Tkachenko, Blessing Oyeleke, Lidiya Ivanenko e Irina Lopuga gravados por Alice Aedy, Davide Monteleone e Manuel Montesano para o artigo "Os refugiados da Ucrânia compartilham suas histórias".

        “Não precisamos de muito. Um abrigo quente é suficiente.”

        por LIDIYA IVANENKO

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          À esquerda: No alto:

          Iryna Novikova, 42, deixou Kyiv com a filha em um momento de aviso prévio, sem trocar de roupa, escovar os dentes ou tomar banho. “Em tal momento você não precisa de nada disso. Eu não sei como eu corri; minhas pernas apenas me carregaram”. Sua filha lhe disse que o ataque estava chegando, mas “eu simplesmente não podia acreditar”.

          À direita: Acima:

          Amoakohene Ababio Williams, 26 anos, natural de Gana, diz que foi separado de sua esposa ucraniana, Sattennik Airapetryan, 27, e seu filho de um ano, Kyle Richard, juntamente com outros negros, pouco antes de chegar à fronteira polonesa depois de fugir de Odesa. “Pensei, bom, até aqui, que talvez eu não fosse vê-la novamente”. Ele conseguiu.

          fotos de ANASTASIA TAYLOR-LIND Y DAVIDE MONTELEONE

          Vídeo: Alice Aedy, Davide Monteleone e Manuel Montesano.

          Anastasia Taylor-Lind é fotógrafa da National Geographic, bolsista do TED e bolsista de Harvard Nieman em 2016. Ela cobre questões relacionadas com mulheres, população e guerra.

          Ali
          ce Aedy é uma fotógrafa documental e cineasta cujo trabalho se concentra em questões de justiça social, incluindo migração forçada, justiça climática e histórias femininas.

          Davide Monteleone é fotógrafo, artista visual e explorador da National Geographic com um interesse particular em países pós-soviéticos. A National Geographic Society, comprometida em iluminar e proteger as maravilhas do nosso mundo, apoiou o trabalho de Monteleone. Veja mais em seu site.

          Petro Halaburda, um estudante ucraniano de produção de filmes com sede em Varsóvia, Polônia, forneceu assistência de campo e tradução

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