Pedra de Scone: a misteriosa rocha que será usada na coroação de Charles 3º

Parte pedra, parte mito, parte tesouro, um dos artefatos mais enigmáticos da Europa voltará ao palco global em 6 de maio.

Por Ronan O’Connell
Publicado 2 de mai. de 2023, 12:43 BRT

O príncipe Andrew desce de um palco onde repousa a Pedra de Scone, ou Pedra do Destino, durante uma cerimônia para reinstalá-la no Castelo de Edimburgo, na Escócia. A rocha de arenito tem sido usada nas coroações da realeza britânica há séculos, mas suas origens estão envoltas em lendas.

Foto de Gary Doak Camera Press, Redux

Quando o rei Charles 3º da Grã-Bretanha for coroado em Londres no dia 6 de maio, ele se sentará em uma cadeira antiga que abriga uma pedra de 152 quilos envolta em mistério. Usada para coroações britânicas desde o final do século 14, a Pedra de Scone tem origem e idade desconhecidas.

A lenda atribui essa rocha retangular à Palestina há 3 mil anos, mas os cientistas acreditam que ela provavelmente seja da Escócia. A pedra está entre os tesouros mais valiosos dessa nação, onde foi usada por muito tempo para coroar os reis escoceses. Depois, em 1296, ela foi roubada pela Inglaterra.

Até 1996, quando finalmente foi devolvida à Escócia, a pedra residia na Abadia de Westminster, onde agora está reaparecendo para a grande coroação de Charles. Logo depois, a pedra retornará ao seu lar atual, o Castelo de Edimburgo, na Escócia.

A lua cheia surge atrás do Castelo de Edimburgo, na Escócia, onde a Pedra de Scone é mantida quando não é usada para as coroações britânicas.

Foto de Jane Barlow PA Images, Getty Images

Os turistas que visitam essa magnífica fortaleza, que se ergue sobre a cidade no topo de uma colina, podem admirar a pedra na Crown Room do castelo. Ou podem se ajoelhar sobre uma réplica no luxuoso Scone Palace, a 53 quilômetros ao norte de Edimburgo, onde a rocha original fez parte das coroações escocesas durante séculos.

Em Edimburgo, Scone e Westminster, os viajantes formam uma conexão fugaz com o quebra-cabeça duradouro de um artefato que foi roubado duas vezes, danificado repetidamente, mitificado infinitamente e disputado por sete séculos.

Pedra lendária

Um mito duradouro confere à pedra uma história ainda mais longa. Essa lenda afirma que ela foi usada como travesseiro pela figura bíblica Jacó, há mais de três milênios, antes de ser transferida da Palestina para o Egito, Itália, Espanha e Irlanda, onde foi tomada pelos escoceses celtas.

Mas a pedra, que é feita de arenito, "não pode ter sido o travesseiro de Jacó, pois seria de calcário", a base da Terra Santa, diz o arqueólogo britânico David Breeze, coautor do livro The Stone of Destiny: Artefact and Icon.

Depois que o rei Eduardo 1º conquistou a Escócia em 1296, ele levou a pedra para a Abadia de Westminster. "Posteriormente, ela foi colocada na cadeira do rei Eduardo, sobre a qual todos os soberanos ingleses e britânicos foram coroados desde o final do século 14", diz a historiadora real britânica Tracy Borman.

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    Elizabeth 2ª senta-se no trono durante sua cerimônia de coroação na Abadia de Westminster, em 2 de junho de 1953. Três anos antes da coroação, a Pedra de Scone foi roubada e levada para a Abadia de Arbroath, ao norte de Edimburgo.

    Foto de Fox Photos Hulton Archive, Getty Images

    Roubo da pedra

    A última vez que a pedra foi levada para exercer seus poderes de coroação foi na cerimônia da rainha Elizabeth 2ª, em 1953. No entanto, ela quase perdeu esse evento graças a um bizarro golpe três anos antes, envolvendo a cidade escocesa de Arbroath. A pedra foi roubada de Westminster, que sediou todas as coroações britânicas desde 1066, e foi parar na Abadia de Arbroath, do século 12, cerca de 130 quilômetros ao norte de Edimburgo.

    Esse roubo extraordinário não foi obra de ladrões profissionais, diz Borman. Em vez disso, foi o trabalho bruto de quatro estudantes escoceses. Eles invadiram a icônica Westminster, arrastaram a pedra pelo chão e depois fugiram com ela.

    "Após algumas negociações entre os governos escocês e inglês, a pedra foi trazida de volta a Londres a tempo para a coroação da Rainha Elizabeth 2ª", explica Borman. "Em 1996, em meio ao crescente apoio à devolução escocesa, o então primeiro-ministro do Reino Unido, John Major, anunciou que a pedra seria mantida na Escócia quando não estivesse sendo usada em coroações."

    Após seu retorno à Escócia, a pesquisa científica estabeleceu que a geologia da pedra era local, diz Dauvit Broun, professor de história escocesa na Universidade de Glasgow. "Foi sugerido que poderia ser o mesmo tipo de pedra encontrado perto da própria Scone", observa Broun.

    A Pedra de Scone fica dentro da Cadeira da Coroação na Abadia de Westminster, onde tem sido usada para coroações reais desde o século 14.

    Foto de Sean Dempsey PA Images, Getty Images

    Ligação com os reis

    No entanto, mesmo a ciência de ponta não consegue decodificar totalmente a pedra, diz Ewan Hyslop, chefe de pesquisa e mudança climática da Historic Environment Scotland (HES). Este mês, a organização concluiu um estudo que envolveu modelagem 3D e exames de raios X que forneceram mais evidências de que a pedra parecia ser de Scone. Mas Hyslop admitiu que eles ainda não tinham "todas as respostas".

    Junto com a origem da pedra, o mistério envolve seus primeiros usos. Os pesquisadores ainda não sabem precisar quando ela começou a ser associada a coroações, diz Kathy Richmond, chefe de coleções e conservação aplicada da HES.

    "Mas as lendas em torno de sua origem a ligam fortemente à realeza e ao surgimento da Escócia como nação", diz ela. "Fontes como o Scotichronicon atestam a realização de cerimônias de inauguração em Scone pelo menos desde o final do século 9."

    O mito também gravou uma mensagem poderosa na superfície da pedra. O cronista escocês do século 14 John of Fordoun afirmou que, antes de ser tomada pelos ingleses, a pedra havia sido inscrita com estas palavras: "Enquanto o destino for justo, onde esta pedra estiver, os escoceses reinarão".

    Por muitos séculos, o destino foi duro. Mas agora a Pedra de Scone está novamente orgulhosa no berço do famoso castelo da Escócia, quando não está em Londres, banhada pela glória refletida de uma coroação.

    O QUE SABER

    Castelo de Edimburgo:  A partir de junho, a Pedra do Destino será novamente exibida na Crown Room do castelo. Atração mais visitada da Escócia, essa fortaleza está repleta de turistas durante todo o ano, portanto, reserve ingressos de forma on-line e com horário marcado. Entrada: 24 dólares para adultos, mais 4 dólares para um guia de áudio opcional.

    Scone Palace: As visitas guiadas ao interior ostentoso do Scone Palace custam 22 dólares por adulto e explicam que as ligações desse local com a realeza escocesa datam de mais de mil anos. Ou, por 14 dólares, os turistas podem simplesmente passear pelos enormes e exuberantes jardins do palácio.

    Abadia de Westminster: Veja o interior da antiga residência da Pedra do Destino, a Abadia de Westminster, que reabre ao público em 8 de maio, dois dias após a coroação de Charles. Reserve on-line e prepare-se para longas filas de entrada entre maio e agosto, especialmente se estiver visitando das 9h às 12h.

    Abadia de Arbroath: Devido a trabalhos de manutenção, os turistas atualmente não podem entrar na Abadia, mas ainda podem acessar seus belos jardins e o centro de visitantes, que inclui uma exposição sobre a história do local. Entrada: 6 dólares para adultos.

    Ronan O'Connell é um jornalista e fotógrafo australiano que se desloca entre a Irlanda, a Tailândia e a Austrália Ocidental.

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