Qual é a origem do Dia das Mães e como ele se tornou o pior pesadelo de sua fundadora?
Descubra por que homenageamos nossas mães todos os anos no segundo domingo de maio – e como o feriado se transformou em um grande sucesso comercial.
Um menino e uma menina dão presentes para a mãe deles no Dia das Mães na década de 1950, nos Estados Unidos. Embora agora comemoremos com presentes e flores, o Dia das Mães começou como um evento mais tranquilo – um dia de reflexão e união entre as mães e seus filhos.
O Dia das Mães é uma das maiores ocasiões comemorativas do ano em diversos países do mundo todo, mas definitivamente não começou como um feriado criado por fábricas de cartões e nem por uma floricultura.
O Dia das Mães que comemoramos anualmente no 2ª domingo de maio existe, em grande parte, devido aos esforços incessantes – alguns podem dizer que é uma obstinação maníaca – de uma mulher chamada Anna Jarvis. Mas Jarvis não foi a primeira norte-americana a promover a ideia.
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As primeiras tentativas de fazer com que o feriado se tornasse realidade se concentraram em questões sociais maiores, como a promoção da paz e a melhoria das escolas. Mas a versão do dia que finalmente “pegou” se tornou o pior pesadelo de sua fundadora.
As antigas comemorações de Dia das Mães
Um retrato de Julia Ward Howe, que lutou incansavelmente pelo sufrágio feminino e pela abolição da escravidão. Seu poema, “Battle Hymn of the Republic”, foi musicado e tornou-se um grito de guerra pela abolição.
O Dia das Mães foi inicialmente lançado por ativistas contra a guerra em 1872. A autora Julia Ward Howe, mais lembrada por ter escrito “The Battle Hymn of the Republic” (O Hino de Batalha da República, em tradução livre), defendeu um Dia das Mães pela Paz, no qual as mulheres pacifistas se reuniriam em igrejas, salões sociais e lares para ouvir sermões ou ensaios, cantar e orar pela paz.
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Cidades americanas como Boston, Nova York, Filadélfia e Chicago realizavam cultos anuais no Dia das Mães, centrados no pacifismo, todo dia 2 de junho até aproximadamente 1913. Mas essas celebrações desapareceram, assim como os pedidos de paz das mães quando o mundo entrou na Primeira Guerra Mundial.
Outro esforço inicial do Dia das Mães foi liderado pela professora e diretora Mary Towles Sasseen, de Henderson, no estado de Kentucky, Estados Unidos. Sua ideia, lançada em 1887, concentrou-se nas escolas: Sasseen escreveu um guia, Mother's Day Celebrations (Celebrações do Dia das Mães), com a esperança de que os sistemas escolares de todo o país realizassem recepções no Dia das Mães para fortalecer os laços entre alunos, pais e professores. Mas quando ela morreu, em 1924, o Dia das Mães de Sasseen nunca foi muito além do Kentucky.
Quem realmente criou o Dia das Mães?
Em fevereiro de 1904, Frank Hering, membro do corpo docente da Universidade de Notre Dame, em Indiana, nos Estados Unidos – e técnico de futebol americano e presidente nacional da Ordem Fraternal das Águias –, fez um discurso intitulado “Nossas mães e sua importância em nossas vidas”. Foi o primeiro apelo público para reservar um dia nacional para homenagear as mães.
Embora essa organização ainda considere Hering (e a própria instituição) como os “verdadeiros fundadores do Dia das Mães”, seu papel na proposta do feriado logo foi eclipsado pelos esforços incansáveis de Anna Jarvis para divulgar e promover o feriado – e ela própria como fundadora.
Os trabalhos de Jarvis, que tornaram o Dia das Mães uma realidade, começaram com o desejo de homenagear sua própria mãe – que havia participado das reuniões de Julia Ward Howe e orado, literalmente, para que esse dia existisse. Em 1908, quando Jarvis organizou as primeiras comemorações oficiais do Dia das Mães em Grafton, Virgínia Ocidental e Filadélfia, ela escolheu o segundo domingo de maio porque homenageava o aniversário da morte de sua mãe.
Como a campanha de Jarvis expandiu rapidamente as observações do Dia das Mães em todo os Estados Unidos, ela rejeitou a ideia de que a sugestão anterior de Hering tivesse algo a ver com isso. Uma declaração da década de 1920, sem data, intitulada “Kidnapping Mother's Day: Will You Be an Accomplice?” explicava sua atitude em relação à Hering: “Faça-me a justiça de abster-me de promover os interesses egoístas desse reclamante, que está fazendo um esforço desesperado para arrancar de mim o título legítimo de criadora e fundador do Dia das Mães, estabelecido por mim após décadas de trabalho, tempo e despesas incalculáveis”.
Jarvis, que nunca teve filhos, agiu em parte por ego, comenta Katharine Antolini, historiadora do West Virginia Wesleyan College e autora de “Memorializing Motherhood: Anna Jarvis and the Struggle for Control of Mother's Day”. “Tudo o que ela assinava era como: Anna Jarvis, criadora do Dia das Mães. Era assim que ela era.”
Como o Dia das Mães se tornou um feriado?
Anna Jarvis tinha razão; ela é claramente a principal responsável pelo lançamento do feriado como uma comemoração nacional norte-americana e que influenciou países em todo o mundo. Criar o Dia das Mães e proteger agressivamente sua propriedade sobre o feriado tornou-se o trabalho de sua vida. Em sua missão de conquistar o reconhecimento nacional do feriado, Jarvis fez uma petição à imprensa, aos políticos, às igrejas, às organizações e às pessoas influentes, incluindo, principalmente, o rico magnata das lojas de departamento da Filadélfia, John Wanamaker.
Wanamaker abraçou a ideia de Jarvis e promoveu uma reunião em 10 de maio de 1908 em sua loja de departamentos, na qual a própria Jarvis discursou. O evento na Filadélfia atraiu cerca de 15 mil pessoas e cada uma delas recebeu um cravo de graça – pelo menos enquanto durou. O Dia das Mães estava começando.
Sob o lobby incessante de Jarvis, estado após estado começou a comemorar o Dia das Mães nos Estados Unidos e, em 1914, o presidente norte-americano Woodrow Wilson finalmente assinou um projeto de lei designando o 2º domingo de maio como feriado legal, o Dia das Mães. Ele foi dedicado “à melhor mãe do mundo, sua mãe”.
A ideia de homenagear as mães era atraente. O General John “Black Jack” Pershing, comandante das Forças Expedicionárias Americanas, destacou o valor do feriado em uma ordem geral que emitiu em 8 de maio de 1918, pedindo aos oficiais e soldados que escrevessem cartas para casa no Dia das Mães. Ele escreveu: “É uma coisa pequena para cada um fazer, mas essas cartas levarão de volta nossa coragem e afeição às mulheres patrióticas cujo amor e orações nos inspiram e nos animam para a vitória”.
Em 1934, o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt entrou em ação; o ávido colecionador de selos esboçou um desenho para um selo comemorativo do Dia das Mães baseado no famoso retrato “Whistler's Mother”. Infelizmente para Roosevelt, Anna Jarvis não aprovou. Ela achou o desenho feio e deixou clara a sua intenção de que as palavras “Mother's Day” (Dia das Mães) não adornassem o selo – o que nunca aconteceu.
O Dia das Mães e o comércio
Proprietários de empresas como John Wanamaker e floristas da Filadélfia provavelmente perceberam o potencial comercial do Dia das Mães desde aquele primeiro domingo de 1908.
Mas Anna Jarvis tinha muitas opiniões fortes sobre como o feriado deveria e não deveria ser comemorado. A principal delas era seu ódio à exploração, mesmo por instituições de caridade. Alguns anos após o primeiro Dia das Mães na Filadélfia, conta-se que Jarvis pediu uma “Salada do Dia das Mães” no Wanamaker's Tea Room e a jogou no chão.
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Jarvis queria que o feriado fosse um dia de reflexão tranquila e de relações pessoais entre mães e filhos. “Não é do nosso agrado que o Dia das Mães seja o dia dos presentes onerosos, desperdiçadores e caros que o Natal e outros dias especiais se tornaram”, escreveu ela na década de 1920. “Se o povo norte-americano não estiver disposto a proteger o Dia das Mães das hordas de planejadores de dinheiro que o sobrecarregariam com seus esquemas, então deixaremos de ter um Dia das Mães – e sabemos como.”
Uma exposição de cupcakes no Dia das Mães. A fundadora Anna Jarvis talvez não quisesse que o Dia das Mães se tornasse um grande negócio do comércio, mas isso não impediu que as crianças comprassem presentes, flores e doces para homenagear suas mães.
Se Jarvis realmente tinha algum plano para impedir que as pessoas lucrassem com o Dia das Mães, esse plano não deu em nada. Em 1948, Anna Jarvis morreu em um sanatório da Pensilvânia, aos 84 anos, sem um tostão, depois de gastar sua fortuna lutando para manter o controle sobre o Dia das Mães.
Hoje em dia, o Dia das Mães não é apenas comercializado, ele é um grande sucesso no varejo. De fato, apenas a volta às aulas e as férias de inverno inspiram os americanos a gastar mais dinheiro por pessoa do que o Dia das Mães, de acordo com a National Retail Federation. No total, são mais de 30 bilhões de dólares só nos Estados Unidos.
A Hallmark lucra muito com esse gasto; é o terceiro maior dia do ano para dar cartões. E, para o deleite dos floristas, cerca de três em cada quatro pessoas enviam fielmente flores para suas mães. Mais da metade das pessoas que comemoram o dia também planejam passeios especiais para suas mães, presenteando-as com ingressos para shows e eventos esportivos ou um dia no spa.
E o Dia das Mães também é o dia mais movimentado do ano para os restaurantes nos Estados Unidos, de acordo com pesquisas anuais da National Restaurant Association. Mais de uma em cada quatro pessoas sai para comer fora com a mãe todos os anos, e muitas outras, pelo menos, pedem comida para viagem para que ninguém tenha que passar esse dia especial na cozinha.
Se o feriado se tornou uma máquina de fazer dinheiro que Jarvis teria detestado, pelo menos reunir-se em torno de uma mesa para as refeições do Dia das Mães oferece aos filhos a chance de homenagear pessoalmente suas mães da maneira que ela sempre quis.