Qual é a origem do Dia de Finados?
Uma imagem típica de um Dia de Finados no Brasil, onde milhares de pessoas vão aos cemitérios de todo o país homenagear seus falecidos. Acima, uma foto do Cemitério Municipal da cidade de Votuporanga, interior de São Paulo, em 2018.
Oficialmente um feriado nacional no Brasil desde 2002, o dia 2 de novembro se tornou o Dia de Finados e também é celebrado nesta data em diversos países do mundo. Suas origens mais antigas remontam à uma celebração pagã de mais de 2 mil anos e que era realizada pelos povos celtas na Europa.
Com o objetivo de ser uma data de homenagem às pessoas que já faleceram, no Dia de Finados é costume que pessoas de diferentes religiões visitem seus entes queridos em cemitérios para prestar sua reverência em memória aos mortos, em especial quando se trata dos cristãos da Igreja Católica. Isso porque trata-se de uma efeméride criada pela Igreja, como explica o site oficial do Vaticano.
A criação do Dia de Finados, porém, tem uma ligação direta com uma antiga celebração pagã. Entenda qual é a origem secular de se homenagear os mortos justamente nessa época do ano.
(Você pode se interessar: Medo de voar, de aranhas e até de palhaço: o que são as fobias específicas e quais as mais comuns?)
Uma das principais tradições no Dia de Finados no Brasil é levar flores aos túmulos dos entes queridos, como forma de homenagear os mortos. Na foto, o Cemitério Municipal de Votuporanga, interior de São Paulo, em 2015.
Conheça a origem do Dia de Finados
O Dia de Finados no Brasil e em muitos países é celebrado no dia 2 de novembro desde sua criação oficial pela Igreja Católica Apostólica Romana no ano 998 d.C. – em pleno século 10, na Idade Média, época de grande influência da Igreja na sociedade. Neste ano, o abade francês Odilo de Cluny (994-1048) tornou obrigatória a data em homenagem aos mortos em todos os mosteiros, de acordo com o site do Vaticano.
Anos depois, em 1915, o Papa Bento 15 concedeu permissão aos sacerdotes para celebrar várias missas nesse dia. Segundo a fonte oficial da Igreja católica, sua liturgia é voltada para destacar a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte.
Mas por que a Igreja escolheu justamente o início de novembro para reverenciar os mortos? A escolha dessa época do ano está ligada à incorporação de celebrações pagãs, tanto que anteriormente os católicos já celebravam seus falecidos no terceiro dia após a morte de alguém e depois, sete e 30 dias depois – algo feito até os dias de hoje, como explica o site do Vaticano.
Na Idade Média, porém, a Igreja resolveu criar algumas datas específicas justamente para incorporar e modificar uma celebração bem mais antiga e com muitos adeptos na Europa – só que pagã, realizada pelos celtas: o Samhain.
O Samhain era um ritual praticado já há mais de 2 mil anos pelos povos celtas da Europa Central no dia 31 de outubro (local que hoje compreende vários países como Irlanda, Escócia, Inglaterra, País de Gales, Holanda, Dinamarca, entre outros), conforme explica a plataforma de conhecimento sobre história mundial).
Os celtas eram um povo pagão que acreditava em diversos deuses e em lendas. Para eles, o Samhain (entre o outono e o inverno do Hemisfério Norte) era um período especial de colheita e preparação para o inverno, época também em que o mundo dos deuses se tornava visível e havia uma intensidade sobrenatural, tanto que os espíritos dos mortos saiam de suas tumbas e caminhavam na noite especial do dia 31, conta a fonte histórica.
A Igreja Católica sempre buscou reverenciar os mortos, mas somente criou uma data específica no século 10. Acima, uma imagem de escultura medieval sobre a morte da Virgem Maria intitulada "Death of the Virgin", escultura que pertence ao Metropolitan Museum of Art, de Nova York, Estados Unidos.
Por que foi criado o Dia de Finados
Os cristãos chegaram nos países que vivam celtas, especialmente na Irlanda, por volta do século 5, segundo a World History Encyclopedia. E os padres católicos acharam mais fácil converter as pessoas à sua fé incorporando algumas das celebrações pagãs ao calendário da Igreja.
Assim, o Samhain influenciou o surgimento de algumas datas importantes e conhecidas até hoje, inclusive o Halloween e o Dia de Finados. Inicialmente foi criado o “Dia de Todos os Santos” na Igreja, que elegeu o dia 1º de novembro oficialmente no século 9, para incorporar essa comemoração aos deuses, mas agora voltada aos santos católicos.
A noite anterior ao Dia de Todos os Santos ficou conhecida como “All Hallow’s Eve”, que era uma noite de vigília aos santos. Ao longo dos anos, essa noite do dia 31 de outubro passou a ser conhecida como Halloween – e foi levada pelos imigrantes irlandeses para os Estados Unidos e Canadá. Atualmente é uma celebração que mistura muitas referências e ainda guarda algumas características do Samhain.
O dia seguinte ao Dia de Todos os Santos foi destinado pelos católicos à homenagem aos mortos, algo que já era feito pelos celtas também no Samhain. A Igreja incorporou esse costume pagão como uma data específica, o Dia de Finados (All Soul’s Day) no dia 2 de novembro, data criada um pouco depois, no século 10, pelo o abade francês Odilo de Cluny.
No México, diferente da maioria dos países, o “Dia de los Muertos” é comemorado de forma distinta e única no dia 1º de novembro, pois além da influência católica, a data lá remonta aos festivais astecas.