A Igreja Católica está prestes a canonizar seu primeiro santo “millenium”: o que é necessário para ser santificado na era moderna?

Conhecido como “influenciador de Deus”, será que sua canonização pode ser um sinal de mudança em uma prática secular?

Por Amy McKeever
Publicado 27 de ago. de 2024, 07:00 BRT
The Catholic Church has approved the canonization of its first millennial saint, Carlo Acutis, a young ...
The Catholic Church has approved the canonization of its first millennial saint, Carlo Acutis, a young Italian teenager who died in 2006. The decision is expected to energize young Catholics like those pictured here attending the installation of a relic in Acutis' image at the chapel of the Lycee Notre-Dame de la Galaure in France.
Foto de Nicolas Guyonnet, Hans Lucas, Redux

Ele já foi chamado de “influenciador de Deus” e também de “o santo padroeiro da Internet”. E agora Carlo Acutis será o primeiro millennial a ser nomeado santo pela Igreja Católica Apostólica Romana

Em 1º de julho de 2024, o Vaticano aprovou a canonização do gênio da tecnologia adolescente que morreu de leucemia em 2006. Muito se falou sobre o anúncio, que vira de cabeça para baixo a imagem tradicional de um santo

O italiano Carlo Acutis não é uma figura bíblica antiga ou um mártir religioso das Cruzadas. Ele criou um site para catalogar milagres. Em outras palavras, ele é um santo moderno.

A canonização tem a ver fundamentalmente com santidade, mas também com relevância”, explica Kathleen Sprows Cummings, professora de história da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, e autora do livro “A Saint of Our Own”. 

Como os jovens estão deixando a Igreja Católica em massa, talvez não haja ninguém mais relevante atualmente no universo católico do que o primeiro santo da geração do milênio. “Ele é um santo no qual eles [os jovens] podem se ver refletidos”, diz Cummings. “Esse é realmente o objetivo dos santos.”

Mas o que é preciso para se tornar um santo na era moderna? Veja como a prática secular está se mantendo relevante.

Quem pode se tornar um santo?


Na Igreja Católicaa santidade é uma confirmação oficial de que uma pessoa entrou na presença eterna de Deus – basicamente, que ela chegou ao céu por ter vivido uma “vida heroicamente virtuosa”

Os santos não são diferentes de qualquer outra pessoa no céu. O título simplesmente muda a forma como eles são venerados na Terra: A Igreja pode construir santuários para eles ou designar dias em sua homenagem, por exemplo. 

Mas nem todo mundo que teve uma vida heroicamente virtuosa será formalmente declarado santo. Isso ocorre porque o processo é árduo e estratégico.

Qualquer pessoa pode abrir uma petição para um santo, mas primeiro deve convencer seu bispo de que a causa é digna. Um candidato à santidade também precisa estar morto há pelo menos cinco anos, embora o Papa possa abrir exceções

Quando uma causa é aberta, os investigadores locais examinam os textos sobre o candidato e entrevistam todas as pessoas que os conheceram para provar suas virtudes, incluindo fé, esperança, caridade, justiça e coragem. Se essas virtudes forem demonstradas – e o Papa afirmar isso – a pessoa é declarada “venerável”.  

É nesse momento que os milagres entram em cena. A Igreja Católica exige a comprovação de um milagre para beatificar um possível santo, o que permite à igreja local venerar uma pessoa, uma prática de conceder-lhe honras especiais. Após a ocorrência de um segundo milagre nesse estágio, a Igreja Católica pode canonizá-lo oficialmente.

O que é considerado um milagre na era de ciência?


No século 20, 99% dos milagres foram médicos, escreve a médica e historiadora Jacalyn Duffin. Isso se deve ao fato de que eles são um pouco mais simples de argumentar do que, por exemplo, a multiplicação espontânea de pães e peixes. 

Para provar uma cura milagrosa, o Vaticano convoca um comitê de médicos para avaliar os registros médicos de um paciente e testemunhar que não havia uma explicação científica para a cura. 

O mais difícil de provar é que a cura só poderia ter ocorrido por meio de intervenção divina. Cummings diz que é mais provável que a Igreja declare um milagre se uma lesão estava além da esperança e foi curada rapidamente. Para que o santo em potencial receba crédito por isso, os devotos devem jurar que oraram somente a ele e a mais ninguém.

Mas mesmo esses milagres estão se tornando cada vez mais complicados com a medicina moderna, afirma Cumming. De fato, o requisito para a santidade costumava ser quatro milagres antes que as reformas do Papa João Paulo 2º reduzissem esse número pela metade em 1983.

O que torna um santo relevante?


A santidade é uma honraria rara, em parte porque pode ser muito difícil para um caso passar pela burocracia do Vaticano. (Por exemplo, o Vaticano rejeitou milagres por causa de erros na papelada.) Mas isso também tem a ver com quem você conhece – e como você pode ajudar a Igreja a permanecer relevante.

A criação de santos desempenha um papel importante na energização dos membros católicos. Os pesquisadores da Universidade de Harvard, Robert Barro e Rachel McCleary, demonstraram isso em sua análise de 2016 de todas as beatificações e canonizações de 1590 a 2009. Conforme a população protestante de uma região crescia, eles descobriram que o mesmo acontecia com o número de santos católicos.

Desde cerca de 1900, a nomeação de pessoas abençoadas parece refletir uma resposta da Igreja Católica à concorrência do protestantismo ou do evangelicalismo”, escreveram eles. Então, será que a canonização de Acutis é também uma jogada estratégica para atrair a geração do milênio de volta à Igreja Católica?

“É claro que é”, afirma Cummings. Ela argumenta que isso não diminui sua santidade, mas só faz sentido agora, à medida que a diferença de idade na religião aumenta em todo o mundo. Ainda mais revelador, ela acrescenta, é que o Vaticano parece estar pronto para formalizar a decisão durante o Jubileu de 2025, um importante período de peregrinação.

“Imagine só todos os jovens que virão para essa canonização”, diz Cummings. “Isso enviará uma mensagem poderosa”.

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