Exames de DNA revelam um parente dos seres humanos com dentes gigantes
Análise genética sugere que os denisovanos viveram na Eurásia por milênios.

A análise de um dente fóssil da Sibéria revelou que um povo misterioso conhecido como Denisovanos, descobertos há apenas cinco anos, conviveram por séculos com os humanos modernos e de Neandertal.
A descoberta revela que os ancestrais da nossa espécie, Homo sapiens, compartilharam o continente da Eurásia com outras populações humanas. Por centenas de milhares de anos, humanos modernos viveram juntos com homens de Neandertal, uma espécie irmã de hominídeos que morreram há cerca de 40.000 anos. Aparentemente, os hominídeos de Denisova também compartilharam alguns territórios.
O novo estudo, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, marca um passo importante para os cientistas compreenderem onde os Denisovanos se encaixam na árvore genealógica humana.
Em 2010, equipes de geneticistas e antropólogos liderados por Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, anunciou estranhas sequências de DNA obtidas do osso de um dedo e de um molar encontrados na remota caverna Denisova, nos Montes Altai, na região siberiana da Rússia.
“É um lugar maravilhoso”, disse Pääbo, “porque é, na verdade, o único local do mundo onde sabemos que três grupos de humanos com diversas histórias diferentes viveram".
O DNA do osso do dedo e do dente analisado anteriormente mostrou que os hominídeos de Denisova deixaram suas marcas nos humanos modernos, contribuindo com cerca de 5% do genoma dos melanésios modernos, que vivem na Papua Nova Guiné e outras partes do Pacífico.

Primo Perdido
Os pesquisadores, no entanto, ainda não sabiam quase nada sobre esses hominídeos. Sabiam apenas que existiram e percebiam uma espécie de sombra genética no presente. Quem eram os Denisovanos? Quanto tempo viveram nos Montes Altai? Os hominídeos de Denisova realmente tinham dentes tão grandes, ou os pesquisadores encontraram uma anomalia biológica?
Felizmente, a caverna de Denisova tinha mais a dizer sobre o assunto. Em 2010, os pesquisadores encontraram um segundo dente do siso, enterrado no final da caverna. Quem fez a análise foi Bence Viola, uma antropóloga da Universidade de Toronto. Ela já tinha examinado o primeiro dente denisovano e se confundindo, acreditando se tratar do dente de um urso; o tamanho e as raízes eram grandes demais para pertencer a um hominídio.
Viola descobriu que os dois dentes eram consistentes entre si e diferentes dos dentes dos homens modernos e dos homens de Neandertal, a primeira indicação consistente de que os dentes enormes eram parte do pacote Denisovano.
“Embora seja difícil dizer como os grandes dentes denisovanos seriam, os dentes do siso têm formas muito variáveis e existem poucas dúvidas de que dentes grandes com raízes gigantes provavelmente necessitariam de grandes mandíbulas”, disse Viola.
Mistério do DNA
Os resultados também revelam a genética inovadora cada vez mais usada pelos antropólogos para saber mais sobre o passado. "Essa é uma pesquisa incrível que representa a nova e ciência da paleoantropologia de ponta", disse Pontus Skoglund, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Harvard, que não se envolveu com o estudo.
Susanna Sawyer do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva liderou o esforço genético para descrever e datar o dente encontrado recentemente.

Sua equipe resgatou o DNA mitocondrial do dente, uma porção de material genético que fica presa ao fóssil.
Mas encontrar um pedaço limpo de DNA denisovano não foi fácil. Sawyer e Pääbo tiveram que identificar e definir a contaminação de humanos modernos, bactérias modernas e hienas antigas, que aparentemente vagaram pela caverna por muito tempo.
Uma vez que Sawyer pegou o DNA mitocondrial do novo dente, ela conseguiu verificar que de fato era de um Denisovano. O DNA também permitiu que Sawyer reconstruísse o genoma mitocondrial do ancestral comum dos três indivíduos encontrados na caverna.
O DNA do ancestral comum deu uma base importante para a equipe, calibrando um cronômetro genético que acumula mutações a cada segundo. denisovanos que morreram mais próximos da época do ancestral comum tinham menos mutações em seus genomas que os denisovanos mais recentes. Sawyer descobriu que o dente encontrado recentemente tinha metade do número de mutações que os outros, sugerindo que era mais antigo.
A discrepância sugere que o denisovano dono do dente viveu cerca de 60 mil anos antes dos indivíduos que deixaram para trás o osso do dedo e o outro dente. Pelo menos, essa árvore genealógica em miniatura mostra que os Denisovanos eram um único grupo biológico que habitaram a região esporadicamente por pelo menos a mesma quantidade de tempo que os humanos modernos.
“Porém, o mundo naquela época deveria ser muito mais complexo do que anteriormente”, diz Sawyer. Quem sabe quantos outros hominídeos viveram e quis efeitos eles tiveram sobre nós?
Como era a aprarência deles?
Cientistas ainda têm muito para aprender.
Para começar, os pesquisadores ainda não sabem a idade real dos fragmentos denisovanos, apenas que têm mais de 50 mil anos de idade, a data mais antigas que o radiocarbono pode fornecer com certeza.
E em relação ao galho mais recente da árvore genealógica humana, as últimas descobertas parecem entrar em conflito com os estudos de 2010, que analisaram o DNA encontrado em núcleos de células, ao invés de DNA mitocondrial. O novo estudo sugere que os denisovanos não têm uma relação tão próxima aos homens de Neandertal como as descobertas indicaram anteriormente.
Também não ajuda o fato dos cientistas não saberem como os denisovanos se pareciam, se locomoviam e se comportavam. “Paradoxalmente, sabemos bastante sobre eles do ponto de vista genético”, disse María Martinón-Torres, antropóloga da Universidade College London que não participou do estudo.

Felizmente, existem muitos outros denisovanos escondidos pela Ásia, às vezes erroneamente designados em museus como humanos ou Homo erectus, outro ancestral hominídeo antigo. Os autores do estudo enfatizam as descobertas recentes no sul da China, onde antropólogos encontraram um dente humano com algo entre 80 mil e 120 mil anos e que compartilha características modernas e antigas, muito parecido com o dente denisovano.
“Eu não me surpreenderia se algum deles fossem denisovanos”, disse María Martinón-Torres, que analisou o dente chinês.
Mas os cientistas não terão certeza se os denisovanos estão se escondendo a luz do dia até que façam mais testes genéticos.
“Isso é um pouco surreal”, disse Sawyer. “Às vezes, estou sentada em uma sala vazia e paro para pensar quão louco é estar segurando um dos únicos restos conhecidos até de um grupo hominídeo novo e misterioso.”
Publicado em 16 de novembro de 2015.
