Chapada dos Guimarães volta a queimar e fogo atinge pontos turísticos

Brigadistas do Corpo de Bombeiros e do ICMBio trabalham há pelo menos um mês para conter focos de incêndio próximos ou dentro da área do parque nacional. Calor e baixa humidade espalham o fogo com mais velocidade.

Por Juliana Arini
Publicado 28 de ago. de 2019, 14:05 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Três incêndios seguidos atingiram a região da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, no mês de agosto. Brigadistas já conseguiram apagar dois, um deles consumiu 13% da área do parque nacional.
Foto de Juliana Arini

Nota do editor: a reportagem foi atualizada para reportar novos focos de incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

De Cuiabá (MT) | “O fogo pulou a estrada”, alerta um brigadista do Instituto Chico Mendes de Conservação (ICMbio) que permaneceu em campo por quase três semanas para conter as queimadas no entorno do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.

Uma equipe de 35 pessoas corre pelo cerrado para evitar que o incêndio se espalhe em direção às áreas urbanas e volte a atingir o parque. A região conhecida como baixada cuiabana enfrentou três incêndios consecutivos desde 9 de agosto. O último foco foi no Parque Estadual das Nascentes do Cuiabá. O primeiro, contido em 19 de agosto, consumiu 13% do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. Foram necessários dez dias para que a brigada decretasse o fogo extinto no parque de 33 mil hectares que preserva importantes nascentes do bioma Pantanal.

No entanto, dias depois do Corpo de Bombeiros declarar que o fogo estava controlado, outros três grandes focos de incêndio voltaram a queimar a área do parque nacional. Segundo reportagem do G1, o fogo atinge a região do Manso, do Portão do Inferno e do Peba, pontos turísticos importantes. Bombeiros e brigadistas do ICMBio trabalham para conter os incêndios. Trechos da estrada que liga Cuiabá ao município Chapada dos Guimarães está com visibilidade próxima de zero devido à fumaça.

A operação de combate chegou a envolver dezenas de veículos, dois aviões e mais de 70 brigadistas – esforço direcionado para conter apenas um foco de fogo. Desde o início do período proibitivo em Mato Grosso, quando não se pode fazer nenhuma espécie de queima em áreas naturais, já foram registrados mais de 20 mil focos de incêndio apenas entre os estados do Pará e Mato Grosso, os campeões em queimadas.

Desde 1º de agosto, quando o primeiro foco de queimada foi identificado na Chapada dos Guimarães, brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação tentam controlar os incêndios. O estado do Mato Grosso está em periodo de proibição de uso de fogo e governador acredita que maioria dos focos foram provocados.
Foto de Juliana Arini

Esforço heroico

Um grupo de cinco homens cobertos por uma capa de poeira negra cambaleia morro acima com um galão de 20 litros de água nas costas. Eles precisam cruzar uma área de quase um quilômetro para alcançar as chamas. No mesmo local, outros homens usam abafadores para evitar que o fogo se intensifique.

Muitas vezes o esforço dá certo e o incêndio é contido, ou cercado, como se considera quando uma queimada é controlada. “Nesse caso, o fogo é isolado para uma região até se extinguir naturalmente ou com a ajuda de água”, explica Luís Gustavo Gonçalves, analista ambiental do ICMBio.

A longa estiagem deste ano somada à facilidade do cerrado brasileiro entrar em combustão parecem vencer. Mal combatem um foco em um local e outro aparece – uma dança de chamas que tem marcado todo o território nacional.

Até 19 de agosto 2019, o país registrou um aumento de 87% nos focos queimadas em relação ao mesmo período de 2018, segundo informações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os dados mostram que até 27 de agosto o fogo ameaçava 33 Unidades de Conservação e 32 Terras Indígenas no Brasil. Em Cuiabá, a capital mato-grossense, uma névoa permanente paira sobre a cidade. Todos os hospitais estão lotados de pessoas com problemas respiratórios, crianças e idosos são os mais afetados.

As brigadas lutam na região de Chapada para conter o incêndio de forma quase heroica, mas não há contingente para combater todos os focos de calor. O governo estadual afirma que destinou uma sala de situação ativada temporariamente com objetivo de fortalecer as ações de monitoramento, prevenção e resposta rápidas aos incêndios. Mas nem os 1.327 combatentes, entre civis e militares, parecem conseguir vencer as chamas.

A Terra Indígena Manoki tem 206 mil hectares e já perdeu 20% de seu território para o fogo. Localizada no município de Brasnorte (MT), os indígenas pedem socorro e afirmam que não há nenhum contingente os ajudando.

[Relacionado: O que os incêndios na Amazônia significam para os animais silvestres]

Falta de verba

Na terça-feira (27), governadores de cinco estados da Amazônia entregaram pedidos formais ao Presidente da República. O governador mato-grossense, Mauro Mendes pediu apoio do Exército para levar bombeiros para os locais afetados. “A situação é crítica, a maioria das queimadas foi provocada”, disse em coletiva à imprensa em 23 de agosto.

Os governadores também solicitaram ao Superior Tribunal Federal a destinação de pelo menos R$ 1 bi do fundo da Lava-Jato para conter a crise ambiental. O estado é um dos que será mais afetado pela perda dos recursos do bilionário Fundo Amazônia após desentendimentos sobre sua gestão com os principais financiadores, Noruega e Alemanha.

Segundo o Comando Militar do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, dos R$ R$ 16,742.500,00 milhões empregados para combater incêndios em 2019, R$ 12.518.230 vieram do Fundo, o restante foi repassado por emendas parlamentares.

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