Contar mortos e alimentar sobreviventes: o trabalho no Pantanal após o fogo

Reportagem acompanhou cientistas que tentam estimar o tamanho da tragédia para a fauna e guarda-parques que dispõe alimentos para animais famintos.

Por Juliana Arini
fotos de Bruna Obadowski
Publicado 14 de dez. de 2020, 07:00 BRT, Atualizado 17 de dez. de 2020, 21:12 BRT
entrega de comida animais rppn sesc pantanal

Equipe da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, no município de Barão de Melgaço (MT), leva alimento para os animais que sobreviveram à maior temporada de queimadas do Pantanal em décadas.

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Imagem aérea feita na RPPN Sesc Pantanal mostra que a paisagem ainda não se recuperou dos incêndios que consumiram mais de 90% da área da reserva em meados deste ano.

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Com 28% de sua área consumida por queimadas em 2020, a vida no Pantanal está ameaçada. O fogo atingiu diretamente 4,1 milhões de hectares, segundo levantamento do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais, mas a dimensão desse impacto sobre a fauna ainda é incerto. Quantos animais morreram ou ainda irão morrer por efeito direto ou indireto do fogo é uma questão perseguida por vários pesquisadores que continuam trabalhando no Pantanal no período pós-fogo.

Muitos ninhais e áreas primordiais para alimentação de aves foram completamente devastados. Em Barão de Melgaço (MT), quinto município brasileiro mais afetado pelo fogo em 2020, o verde ressurge aos poucos. Apesar da aparente resiliência, a região está longe da tradicional abundância da fauna.

“Me assustei muito quando vim para cá depois do incêndio [em outubro]. Foi a primeira vez que vi o Pantanal em silêncio", disse o biólogo Igor Pfeifer Coelho, doutor em ecologia e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista à reportagem. "Não há mais o intenso canto dos pássaros que tanto me marcou quando conheci o bioma.”

Coelho estuda a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal há 18 anos. Localizada em Barão de Melgaço, a 200 quilômetros da capital de Mato Grosso, a reserva foi uma das primeiras unidades de conservação a serem atingidas pelos incêndios que assolaram o bioma.

O objetivo inicial de sua pesquisa era estimar a população de onças-pintadas. Antes, 30 indivíduos eram monitorados, mas as queimadas o fizeram mudar o foco. Agora, um outro monitoramento vem sendo feito com apoio da UFRGS, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Museu Nacional e Fundação Oswald Cruz (Fiocruz) para descobrir quantos animais sucumbiram ao incidente.

“Começamos a acompanhar o incêndio sem muita preocupação, pois todo ano há fogo no Pantanal. Mas as imagens de satélite e as fotos dos animais agonizando nos mostraram que esse foi um evento de outras proporções.”, diz Coelho. “Voltamos pra região porque precisamos colocar um número nisso.”

Carcaça de uma anta encontrada no Tanque Verde, uma área elevada da reserva Sesc Pantanal.

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Carcaça de um felino, talvez uma onça-pintada, na RPPN Sesc Pantanal. Dado às péssimas condições do cadáver, pesquisadores não conseguiram confirmar a espécie à reportagem.

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Os pesquisadores usam um aplicativo de sensoriamento remoto desenvolvido pela Fiocruz. A metodologia é similar a de outras catástrofes, como derramamento de óleo no oceano. A proposta é ir a campo e contar carcaças para chegar a uma estimativa. 

São 20 pesquisadores que realizam uma varredura em uma área de 107,9 mil hectares, correspondente a 1% do Pantanal Mato-grossense. Eles investigam 200 parcelas de amostragem e fazem a contagem sobre o número de animais mortos encontrados. As questões investigadas envolvem quais espécies morreram, quantos indivíduos e quais áreas foram as mais impactadas.

“É complicado, não é um censo. A nossa população são as carcaças e muitos dos que já morreram não estão mais lá, pois foram removidos por animais sobreviventes que os devoraram ou foram degradados pelo ambiente”, diz Coelho.

O estudo converge com outras pesquisas de Mato Grosso do Sul e da região da rodovia Transpantaneira, em Mato Grosso, coordenadas pelo pesquisador Walfrido Moraes Tomas, da Embrapa Pantanal. “Apesar das metodologias diferentes, ambas devem convergir em resultados sobre os impactos do fogo no Pantanal”, explica Cristina Cuiabália, bióloga e gerente de pesquisa, meio ambiente e educação ambiental da RPPN Sesc Pantanal, do parque Sesc Baía das Pedras e do Hotel Sesc Pantanal. 

Sem alimento

Uma das primeiras constatações dos pesquisadores que atuam na região é que os impactos do fogo na fauna não ocorrem apenas no momento do incêndio. Muitos animais acabam perdendo fontes de alimento e sucumbem por inanição ou asfixiados. O cenário apocalíptico pode ser percebido durante uma breve caminhada pela RPPN. Em uma área elevada, conhecida como Tanque Verde, restos mortais da fauna pantaneira são encontrados dispostos quase que em uma fileira perfeita.

A primeira ossada avistada pela reportagem parecia com a de um porco-do-mato, mas era uma anta, provavelmente filhote. Vários outros corpos são encontrados em um raio de dez metros. A paisagem remete ao imaginário do que seria um campo de guerra. Embaixo de uma árvore, a pele de um enorme jacaré repousa.

“Muitos morreram de fome, não pelo fogo. Encontramos muitos animais exaustos no trabalho de socorro à fauna", conta Cuiabália. "O incêndio primeiro atingiu uma área ao norte da RPPN, que conseguimos combater, mas depois veio outra frente do sul. Tentamos a todo custo preservar o centro da reserva, mas não conseguimos. Os animais acabaram correndo de outras regiões para essa área já queimada no dia 2 de agosto. Não havia mais focos de fogo, porém quase não restou alimento.” 

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      O guarda-parque Giovani Fabricio de Arruda Correa e os pesquisadores Igor Pfeifer, Douglas de Oliveira e Pedro Gustumas realizam varredura para contagem de carcaças na reserva Sesc Pantanal.

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      Com ajuda de um aplicativo de sensoriamento remoto, os pesquisadores contam a quantidade de animais em uma área determinada para obter uma estimativa da quantidade de bichos mortos.

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      A professora Cátia Nunes da Cunha, da UFMT e do Centro de Pesquisas do Pantanal, analisa a vegetação queimada na reserva Sesc Pantanal.

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      A bióloga Cristina Cuiabália analisa um acuri na RPPN Sesc Pantanal. A palmeira é uma das principais fontes de alimentos para araras, tucanos e papagaios. Com sorte, devem voltar a dar frutos em março de 2021.

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      A violência do fogo deixou marcas nos troncos das árvores. O verde que ressurge no solo ainda não foi capaz de modificar o tom marrom acinzentado que predomina por quilômetros. A reserva, a maior unidade de conservação privada do Brasil, teve 98 mil hectares queimados, o equivalente a 91% do território. As áreas não atingidas foram as baías e áreas às margens do rio Cuiabá, onde a fauna ficou mais concentrada.

      Os bosques de acuri são uma das fontes de sustento que devem demorar para se recuperar dos incêndios. Dentro da RPPN, o fogo atingiu uma área de cinco quilômetros quadrados coberta por acuris, uma palmeira que oferece frutos para aves como araras, tucanos e papagaios. Os acuris queimados neste ano só devem ressurgir em março de 2021, isso se as árvores resistirem aos danos causados pelo fogo.

      “Não sabemos como será o comportamento da flora. São vários eventos de perturbações – primeiro uma seca histórica e depois o fogo", avalia Cátia Nunes da Cunha, professora doutora em ecologia da UFMT e pesquisadora associada do Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP). "Algumas espécies são mais resistentes, outras não vão responder tão rapidamente e podem demorar anos para florir novamente. O futuro comportamento da palmeira acuri é um dessas incógnitas.”

      Para reduzir os danos e dar apoio à fauna, Cristina Cuiabália coordena um programa na RPPN que oferece alimento aos sobreviventes desde outubro. São 60 nichos de comida com cochos com água, frutas e ovos. Levam-se três dias para percorrer todos os locais. A disposição dos alimentos é mapeada por aplicativos de georreferenciamento.

      “Mesmo com chuvas, que chegaram no início de novembro, não podemos acreditar que está tudo bem e que já há alimento", diz Cuiabália. "Não sabemos ao certo como as árvores irão reagir e se haverá frutos. Por isso, nos empenhamos em distribuir cerca de três toneladas de alimentos por semana."

      Os insetos também se beneficiaram da ação. Era quase impossível se aproximar de um dos cochos de água – muitas abelhas rondavam o local. “No início, os enxames eram até mais intensos. Era nítido que elas [as abelhas] também estavam desesperadas por comida e água. Com o fim das queimadas, percebemos que o fogo atingiu toda a vida no Pantanal”, explica a bióloga.

      O guarda-parque Alessandro Rodrigues de Amorim segura ovos que devem alimentar os animais da RPPN Sesc Pantanal.

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        Guarda-parque carrega uma melancia que alimentará os animais sobreviventes na RPPN Sesc Pantanal. Os funcionários da reserva espalham 3 ton de alimentos por semana.

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        Na região da Transpantaneira, em Poconé (MT), a 200 km de Cuiabá, a alimentação dos animais perdura com apoio de alguns voluntários. “Podemos dizer que o Pantanal está em silêncio, no sentido de bichos e de pessoas apoiando. Muito do socorro que antes ocorria acabou”, afirma Sandro Lucose, professor do Instituto Técnico Federal de Mato Grosso e voluntário do projeto É o Bicho.

        O grupo foi um dos últimos a deixar a Transpantaneira, já no final de novembro. “Choveu, mas não estava tudo bem porque precisávamos esperar que as árvores tivessem frutas. E não é porque esverdeou que já há frutas – tudo que colocamos era consumido rapidamente”, diz Lucose.

        Além da oferta de alimentos, os centros emergenciais de apoio à fauna continuam ativos. Na pousada Rio Mutum, também em Barão de Melgaço, o centro é coordenado pela ONG Ampara Silvestre. Apesar das chuvas, o local ainda recebe animais feridos pelos incêndios e trata os que não conseguiram se recuperar e voltar à vida livre na natureza. 

        Um filhote de anta muito debilitado pelo fogo é um dos que ainda precisam de cuidados. “Recentemente, também encontramos uma sucuri muito machucada, apesar de já ter passado tanto tempo do fim do pior dos incêndios", conta Jorge Aparecido Salmão, veterinário da Ampara. "No centro também há outros animais como um ouriço, outros dois filhotes de antas e um cateto."

        Segundo o veterinário, parte do trabalho de atendimento à fauna não será desmobilizado. “Além da região de Barão de Melgaço, haverá uma base fixa no parque Baía da Pedras. Esses dois locais ficarão continuamente atendendo à fauna."

        Ninhais

        Além da perda de alimento, importantes berçários de aves foram atingidos. No ninhal Porto da Fazenda, às margens do rio Cuiabá e a 60 km do centro de Barão de Melgaço, a paisagem revela marcas de um incêndio tão intenso quanto o que atingiu a RPPN do Sesc Pantanal.

        As lembranças das queimadas seguem nas memórias dos pantaneiros. “As labaredas do fogo lambiam alto e pulavam de uma margem a outra do rio. As chamas rodearam as casas", conta o pescador Antônio Bento da Silva, 60 anos, conhecido como seu Totó. "Foi tudo queimado, do ninhal até aqui. Por sorte não perdemos nossos entes.”

        Morador da comunidade da Correa d’água, seu Totó é vizinho do ninhal, um dos maiores do Pantanal. A região ficou conhecida internacionalmente como uma das áreas mais ricas em avifauna do bioma, fundamental para reprodução de garças-brancas, cabeças-secas, maguaris, colhereiros e outras aves.

        À direita, garças dividem espaço em um dos últimos corixos, ou pequenos rios perenes, a resistirem à seca e ao fogo no ninhal Porto da Fazenda, Pantanal Matogrossense.

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        Após passagem do fogo, ninhos estão vazios no ninhal da Fazenda, em Barão do Melgaço, um dos maiores do Pantanal Matogrossense.

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        Garça-moura procura alimento às margens do rio Cuiabá após passagem de incêncio que consumiu boa parte do ninhal Porto da Fazenda, em Barão de Melgaço (MT).

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        Na década de 1990, o ninhal Porto da Fazenda foi estudado pela ornitóloga holandesa Brunhild Angelika Luzia Juncke. A pesquisadora dedicou sua vida para promover o turismo de natureza na região.

        Relatório de 2003 estimou entre 600 e 700 ninhos de biguá e cerca de 200 de anhingas, ou biguatingas, em um raio de 5 km do ninhal. Essas aves ocupam os ninhos conhecidos como pretos entre janeiro e junho. Os ninhos brancos são ocupados por garças, colhereiros e cabeças-seca, entre outras aves, de agosto a setembro, no auge da seca e das queimadas.

        Os moradores de Barão de Melgaço afirmam que a seca que assola o Pantanal desde 2019 pode ter ajudado a evitar uma tragédia maior. “O ninhal quase não se forma há uns dois anos. Aqui, a seca já chegou antes do fogo", diz seu Totó. "Na verdade, tudo mudou desde a construção da hidrelétrica do rio Manso [entre 1998 e 2000], mas foi ficando pior. O peixe foi diminuindo.”

        Na região do ninhal, que mesmo sem a abundância do passado deveria abrigar centenas de aves para reprodução, a paisagem é desoladora. As antigas ilhas cercadas de colônias de nidificação e cantos de aves foram tomadas por um tom amarronzado e um imperioso silêncio. É possível ver alguns restos de ninhos queimados, porém há pouquíssimas aves que sobrevoam entre os galhos enegrecidos.

        A paisagem da Lagoa Bonita, que margeia os ninhos, choca quem conheceu o local em seu apogeu. O barqueiro e guia Waldileno Xavier da Silva, que chegou a atuar com a pesquisadora Angélika Jüncke, tem dificuldade em encontrar a trilha. Ao chegar no que seria a lagoa, um pequeno círculo de água reúne algumas garças. “Queimou tudo mesmo. Não imaginava que teria sido tão intenso. Nunca imaginei ver essa região assim, sem vida”, diz da Silva.

        Estudadas por 30 anos pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT), as colônias de nidificação são regiões frágeis e fundamentais para a biodiversidade. “As aves são dispersoras de sementes e acabam alimentando os peixes. É um ciclo de vida interligado, um depende do outro”, explica a pesquisadora Cátia Nunes da Cunha, do CPP. 

        A proteção do ninhal é uma atribuição da Sema-MT, regulada pela Lei Estadual 038/95 e o código ambiental de Mato Grosso. Mas, segundo a secretaria, as ações na região foram interrompidas há quase oito anos. Moradores contam que nenhuma equipe do corpo de bombeiros ou de qualquer outra brigada atuou na defesa do ninhal Porto da Fazenda, nem mesmo no auge do fogo, entre agosto e setembro, período que chega a reunir mais de 15 mil aves, principalmente de espécies migratórias da América do Sul.

        O barqueiro e guia Waldileno Xavier da Silva se assustou ao encontrar o ninhal porto da Fazenda todo queimado.“Queimou tudo mesmo. Não imaginava que teria sido tão intenso. Nunca imaginei ver essa região assim, sem vida.”

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        O pescador Antônio Bento da Silva, conhecido como seu Totó, é vizinho do ninhal Porto da Fazenda, um dos maiores do Pantanal. "Foi tudo queimado, do ninhal até aqui. Por sorte não perdemos nossos entes."

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        “Fomos nós mesmos que cuidamos do fogo, ficamos mais focados nas casas. Foi impossível impedir que as chamas pulassem o rio”, conta seu Totó.

        Segundo nota da assessoria de imprensa da Sema-MT, a Coordenadoria de Fauna e Recursos Pesqueiros está reorganizando os trabalhos internos para retomar o trabalho de monitoramento dos ninhais interrompido em gestões anteriores. Durante a primeira fase do monitoramento, entre 2007 e 2012, a Sema distribuiu um Guia de Ninhais para todas as pousadas e hotéis que atuavam com turismo no Pantanal nos municípios de Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres e também para escolas, pescadores, ribeirinhos, fazendeiros, entre outros moradores da região.

        A secretaria afirmou manter contato com o Instituto Ambiental Augusto Leverger (IAAL), que atuaria na proteção do ninhal Porto da Fazenda, para a atualização de informações do local. A reportagem entrou em contato com os diretores do instituto, o engenheiro sanitarista Albeci dos Reis e a presidente Silvana Dias Campos. Segundo os representantes, o instituto não responde por nenhuma ação no ninhal.

        “Já fizemos várias denúncias pelas ameaças ao local, que tem áreas únicas, como uma região de reprodução de iguanas de mais de mil indivíduos", explicou Dias Campos. "Gostaríamos muito de termos a gestão da área, mas, para isso, a Sema deveria nos delegar essa atividade, o que nunca aconteceu."

        Para o IAAL, o fogo é apenas um dos problemas do ninhal. “A área precisa ser regulada, os proprietários da fazenda Campina, onde está o ninhal, devem ser contatados para isso. Também há falta de fiscalização e gestão ambiental mínima”, diz a presidente do instituto.

        A reportagem encontrou um aeroporto em construção em uma pousada a menos de 20 metros do ninhal. O local estava cercado de placas avisando sobre a ilegalidade da ação de maquinários pesados, mesmo assim, homens trabalhavam no local.

        Nem a Sema, nem os trabalhadores souberam informar a quem pertencia a obra, e se havia licenciamento para a mesma.

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          Esculturas em uma pousada próxima ao ninhal Porto da Fazenda relembram um tempo não muito distante quando a região recebia milhares de aves migratórios em reprodução.

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          O desaparecimento dessas regiões é um segundo impacto ainda não contabilizado no pós-fogo no Pantanal. O que se sabe é que as aves podem levar décadas para voltar a ocupar um ninhal queimado.

          Em 2010, o ninhal Presidente, em Cáceres (MT), a 250 km de Cuiabá, considerado um dos maiores de todo o Pantanal, foi totalmente queimado. Após o evento, um estudo coordenado por Marcos Ferramosca, médico veterinário da Sema-MT, identificou outros 30 locais de nidificação no estado. Porém, apesar de ter ocupado uma área com raio de até um quilômetro, o ninhal do Presidente nunca mais se formou, mesmo após uma década.

          “Provavelmente em Barão [do Melgaço] deve acontecer a mesma situação. É normal que as aves abandonem antigos ninhais e comecem a ocupar outras áreas menores, mais dispersas e protegidas, mas é um processo lento. Quando perturbadas abruptamente, como em um evento de queimada, há um impacto em toda paisagem ”, explica Carolina Joana da Silva, pesquisadora e professora doutora em ecologia da Universidade do Estado de Mato Grosso que estudou o ninhal Porto da Fazenda e sua correlação com os ambientes aquáticos do Pantanal.

          Para os pesquisadores, será muito difícil estimar o número exato da população de aves afetada pelo fogo. As carcaças desses animais são frágeis e desaparecem muito rapidamente. Na RPPN Sesc Pantanal, a contagem dependerá dos sons emitidos pelas aves. “Vamos instalar gravadores em alguns pontos para tentar descobrir quais espécies desapareceram. Será o silêncio das matas que poderá nos dar alguma resposta sobre o impacto do fogo na avifauna do Pantanal", diz Igor Pfeifer Coelho, da UFGRS. "Nossa pergunta agora não é mais quantos animais existem, e sim quantos morreram.”

          Os repórteres viajaram ao Pantanal com patrocínio da iniciativa Observa-MT.

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