Veja o que o calor extremo faz com o corpo

A exaustão pelo calor pode ocorrer em poucas horas. A insolação pode ser fatal. Veja como reconhecer o impacto que a temperatura está causando em seu corpo e o que fazer a respeito.

Os seres humanos resfriam seus corpos por meio da evaporação do suor. Embora essa técnica funcione bem nas savanas secas da África, onde os humanos evoluíram, ela é muito menos eficaz em climas úmidos. 

Foto de Atsushi Taketazu The Yomiuri Shimbun, AP Images
Por Meryl Davids Landau
Publicado 3 de ago. de 2023, 10:03 BRT

Nas últimas semanas, o calor bateu recordes em três continentes diferentes. Os Estados Unidos registraram o maior número de avisos de calor de todos os tempos. Partes da China “assaram” simultaneamente, e as temperaturas da Europa subiram tanto que os residentes apelidaram extraoficialmente a onda de calor de Cerberus, em homenagem ao monstro de O Inferno de Dante.

Graças à mudança climática, esses recordes de calor – incluindo o dia mais quente (considerando a média) da Terra, em 3 de julho – provavelmente serão superados em breve. Por isso é importante entender as maneiras pelas quais o calor prejudica o corpo humano e como evitá-las, adverte Kurt Shickman, diretor de iniciativas de calor extremo no Adrienne Arsht-Rockefeller Foundation Resilience Center em Washington, D.C., Estados Unidos. "O calor é extremamente perigoso e a mudança climática tornará mais áreas propensas", diz ele.

O fato de as temperaturas extremas poderem prejudicar – e às vezes matar – envolve vários fatores. A temperatura marcada pelo termômetro é fundamental, é claro, mas a umidade também é importante, pois os seres humanos resfriam o corpo principalmente por meio da evaporação do suor. 

Embora essa técnica funcione bem nas savanas secas da África, onde os seres humanos evoluíram, ela é muito menos eficaz na pantanosa Washington, D.C., no subtropical sul da Flórida e em muitas outras partes dos EUA, diz W. Jon Williams, especialista em saúde térmica do National Institute for Occupational Safety and Health dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. 

O calor não leva muito tempo para ferir o corpo, e é por isso que reconhecer os sinais de doenças causadas pelo calor – e conhecer as medidas que devem ser tomadas – pode salvar vidas.

A brotoeja se desenvolve em poucas horas em dias úmidos

As brotoejas são pequenas bolhas semelhantes a espinhas que surgem quando o suor preso sob roupas apertadas não consegue evaporar e os poros ficam obstruídos. A erupção geralmente aparece no peito, no pescoço e/ou nas axilas, quando a camisa está apertada, ou ao redor dos seios ou na virilha, se o sutiã, o short ou a roupa íntima estiverem apertados.

A brotoeja é diferente da queimadura solar porque não é necessário se expor ao sol e as bolhas normalmente não são perigosas.

Assim que as erupções forem detectadas, as pessoas devem ir para um ambiente fresco e remover as roupas incômodas. A colocação de compressas frias sobre a pele pode acelerar a cicatrização. A maioria dos casos se resolve em poucas horas, mas se a vermelhidão ou a dor persistirem, ou se houver febre, pode se tratar de uma infecção, o que irá exigir antibióticos.

Cãibras de calor durante esforço ao ar livre

As cãibras de calor são espasmos dolorosos e involuntários após atividades esportivas extenuantes ao ar livre. Elas são um sinal precoce de que seu corpo não está lidando bem com o calor, explica Kristopher Paultre, médico de medicina esportiva da Universidade de Miami.

As cãibras são desencadeadas quando a transpiração intensa causa a perda de eletrólitos importantes; uma queda repentina de sódio, potássio e cálcio pode desencadear contrações involuntárias. Os músculos com maior probabilidade de sofrer cãibras são os que estão envolvidos durante a atividade da pessoa. "Se você estiver correndo no calor, é mais provável que tenha cãibras nas pernas", alerta Williams. Cada cãibra dura vários minutos.

Para acabar com as cãibras e garantir que elas não se transformem em doenças mais graves causadas pelo calor, é necessário interromper o esforço e ir para um local fresco. A melhor maneira de repor o sódio perdido é comer alimentos salgados, como batatas fritas, diz Williams.

A hidratação adequada pode evitar cãibras causadas pelo calor. Beber água é suficiente se as atividades ao ar livre forem planejadas para duas horas ou menos, uma vez que o corpo autorregula os eletrólitos durante esse período (inclusive capturando os minerais secretados no suor e devolvendo-os ao sangue). Depois disso, devem ser consumidas bebidas esportivas com eletrólitos que contenham esses minerais.

A exaustão pelo calor pode ocorrer em poucas horas

A exaustão pelo calor ocorre quando os esforços do corpo para manter a temperatura padrão de 37 °C começam a falhar. Durante um episódio de exaustão por calor, a temperatura corporal pode chegar a 38 °C, e os sintomas se tornam muito mais graves do que cãibras musculares.

Alguns sintomas da exaustão pelo calor decorrem do esforço cada vez mais frenético do corpo para baixar a temperatura: a transpiração se intensifica e a produção de urina diminui para acumular líquidos. Ocorre fadiga intensa ou até mesmo desmaio, para forçar o repouso. "Se estivermos trabalhando duro em um ambiente quente, estaremos gerando muito calor metabólico, além do alto calor ambiental", explica Williams.

Além disso, os eletrólitos ficam cada vez mais esgotados, provocando dores de cabeça e vertigem, e a temperatura corporal mais alta promove náusea e irritabilidade.

O tratamento da exaustão por calor envolve ir imediatamente para um local fresco, de preferência com ar-condicionado, beber água e diminuir rapidamente a temperatura corporal tomando um banho de chuveiro ou banheira ou aplicando bolsas de gelo no tronco. Durante muitos torneios esportivos universitários da Flórida, banheiras de gelo ficam à disposição caso os jogadores superaquecidos precisem mergulhar, cita Paultre.

Quando a temperatura central se recupera, a maioria das pessoas não precisa de cuidados médicos. No entanto, pessoas com doenças cardíacas devem ir ao pronto-socorro para garantir que não haja danos, aconselha Williams.

Para uma em cada 10 pessoas que sofrem com isso, seja porque continuam a atividade física ou porque as circunstâncias as impedem de obter alívio, a condição aumenta rapidamente para insolação, diz Williams.

A insolação ocorre imediatamente após a exaustão pelo calor 

A insolação ocorre quando o corpo não consegue mais controlar sua temperatura interna, que sobe para 40 °C ou mais. A pele fica vermelha e quente ao toque, e a transpiração cessa. "Nesse ponto, o corpo parou de tentar se resfriar. Ele desistiu", explica Paultre.

Essa condição é tão grave que mata até 65% das pessoas que chegam a esse estado. Os casos clássicos incluem um idoso sem ar condicionado que morre após dias de calor e umidade implacáveis, ou uma criança deixada em um carro fechado que morre em poucos minutos.

Trabalhadores ao ar livre e atletas sofrem insolação por esforço. Nesse caso, um corpo forçado a escolher entre manter o coração e os músculos funcionando ou reduzir a temperatura corporal elevada geralmente prioriza a primeira opção. Os homens, que têm maior probabilidade de trabalhar ao ar livre, são responsáveis por mais de dois terços das mortes por calor nos EUA. A onda de calor do último verão europeu matou 61 000 pessoas, a maioria homens jovens e mulheres idosas, concluíram os cientistas recentemente.

As altas temperaturas corporais afetam o sistema nervoso central, causando delírio, convulsões e, com frequência, perda de consciência. Formam-se coágulos no sistema cardiovascular e a inflamação se espalha pelo corpo, danificando os rins, o coração e outros órgãos.

Uma pessoa que sofre insolação não consegue se ajudar. Ela sobrevive somente quando as pessoas ao seu redor ligam para o serviço de emergência, tiram-na do calor e molham seu corpo com gelo e/ou água fria. Forçá-la a beber não é prudente, diz Williams, pois os níveis de fluidos devem ser avaliados por profissionais.

Aqueles que se recuperam geralmente sofrem danos permanentes nos órgãos.

"Uma pessoa que sofre insolação passará muito tempo no hospital", diz Williams. Além disso, seu corpo provavelmente terá dificuldade para regular a temperatura por meses ou mais, o que torna ainda mais importantes as ações de proteção contra o calor futuro.

Estratégias para se manter seguro contra o calor extremo

As pessoas podem se proteger do calor extremo passando pelo menos parte dos dias de calor escaldante em um ambiente com ar-condicionado; permanecer na sombra quando estiver ao ar livre; evitar esforços (seja para trabalho ou atletismo) nas horas mais quentes do dia; e garantir uma hidratação adequada.

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