Os 5 dados sobre a selva de Darién: entenda por que ela é uma das florestas mais perigosas do mundo
O geólogo David Buchs tirou essa foto quando pesquisava a evolução tectônica inicial do istmo do Panamá e da selva de Darién - aqui, se vê o Cerro Sapo ao fundo.
Uma região bem quente e úmida, caracterizada por possuir florestas tropicais, manguezais e cadeias de montanhas baixas com vegetação florestal, a selva de Darién sempre foi pouco povoada, como define a Encyclopædia Britannica – plataforma de conhecimento do Reino Unido.
A selva de Darién tem uma floresta densa e posição estratégica geopoliticamente, porque liga fisicamente a América do Sul à América Central – já que fica localizada no início do istmo do Panamá, a noroeste da Colômbia, na fronteira entre os dois países.
Veja alguns dados e características da selva de Darién que fazem dela um lugar estrategicamente importante e, também por conta disso, um dos mais perigosos do mundo de diversas maneiras.
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Acima, vemos a localização exata no mapa da selva de Darién que liga a América do Sul (fazendo fronteira com a Colômbia) e a América Central (no Panamá).
1. A densa vegetação da selva de Darién e sua fauna
Alguns dos motivos que fazem da selva de Darién um local de difícil acesso é sua flora, caracterizada por um tipo de floresta muito úmida e com chuvas constantes. São cerca de 96 quilômetros de extensão de matas tropicais, montanhas muito íngremes e rios, como explica um artigo do Alto Comissariado das Nações Unidas Para os Refugiados (Acnur) sobre o local.
Darién possui uma extensa selva com florestas tropicais virgens – sendo a mais extensa floresta tropical de planície na costa do Pacífico da América Central. E ainda florestas de altitude com montanhas que chegam a mais de 2.500 metros de altitude, além de grandes manguezais, de acordo com o site do Parque Nacional Darién, do Panamá.
A composição da flora de Darién é tão diversa que do nível do mar até o pico de suas montanhas a área tem também uma grande variedade de ecossistemas e habitats costeiros, além de praias arenosas, costões rochosos e inúmeros pântanos. Há também vários riachos e grandes rios sinuosos, como o Tuira ou o Chucunaque.
2. A diversidade da fauna da selva de Darién
Outro ponto que faz de Darién um local extremamente perigoso é sua fauna silvestre muito variada, onde é possível encontrar animais selvagens como a onça-pintada, a jaguatirica e o gavião-real.
Entre as 169 espécies de mamíferos da região, estão o macaco-aranha de cabeça marrom, criticamente ameaçado de extinção, a anta centro-americana, também em perigo de ser extinta, o tamanduá-bandeira, as capivaras e ainda o cachorro-do-mato e o pecari de lábios brancos (uma espécie de porco-do-mato), entre outros, conforme relata o site da Unesco.
Já as mais de 530 espécies de pássaros registradas incluem a arara-verde, ameaçada de extinção; o vulnerável mutum-grande e uma grande população do gavião-real, que também corre risco.
Há também uma notável diversidade de répteis e anfíbios, com 99 e 78 espécies respectivamente – incluindo muitas serpentes, aranhas venenosas e escorpiões, os quais fazem da selva Darién muito perigosa às pessoas.

Uma menina indígena do grupo Chocó, nativo da região, brinca com um papagaio na selva de Darién, na parte panamenha.
3. A população original de Darién é indígena
Desde muito antes da chegada de europeus na região, Darién já era habitada por diferentes grupos indígenas – muitos dos quais seguem vivendo nessa área. Os maiores grupos são os Chocó (especificamente os Embera e Wounaan, ou Waunana – que vivem na porção panamenha da selva) e os Kuna. As estimativas dessas populações indígenas locais variam muito, de 1.200 a cerca de 25 mil pessoas, segundo a Britannica.
Esses grupos vivem tradicionalmente em aldeias espalhadas pela floresta, mas algumas famílias se mudaram para vilas e cidades próximas. Os indígenas que vivem na região costumam cultivar banana-da-terra, milho e arroz, como subsistência, relata a fonte inglesa.
A selva de Darién possui dois grandes parques florestais contíguos que administram grande parte da região: o Parque Nacional Darién, no Panamá, e o Parque Nacional Los Katíos, na Colômbia.
O parque panamenho foi estabelecido como a Reserva Florestal do Alto Darién em 1972 e elevado ao status de parque nacional em 1980, cobrindo cerca de 5970 km². Já o parque colombiano foi criado em 1974 e ampliado em 1980 para cobrir cerca de 720 km². A Unesco incluiu o Parque Nacional Darién na Lista do Patrimônio Mundial em 1981, seguido por Los Katíos em 1994.
4. A selva de Darién recebeu os primeiros europeus em 1501
A selva de Darién foi vista e adentrada pela primeira vez pelos europeus em 1501; e foi encontrada por Cristóvão Colombo em sua última viagem, como relata a Britannica. O primeiro assentamento europeu bem-sucedido no continente americano foi justamente na região e se chamava Santa María de la Antigua del Darién, sendo iniciado em 1510.
Alguns anos depois, porém, colonos deixaram a colônia de Darién para fundar a Cidade do Panamá e, por fim, o assentamento de Santa María foi abandonado. Segundo a fonte inglesa, outra tentativa de colonização da região durou pouco e foi feita no século 17, quando uma empresa escocesa fundou um vilarejo de colonos na metade do caminho entre Portobelo, no Panamá, e Cartagena, na Colômbia.
Atualmente, as cidades próximas à selva de Darién e à fronteira internacional entre o Panamá e a Colômbia são Jaqué, Yaviza e El Real de Santa María (no Panamá) e também Juradó, Salaquí e Ríosucio (na Colômbia).

A selva de Darién, com suas montanhas e floresta tropicais, vista desde o oceano Pacífico.
5. Os perigos de Darién que vão além da natureza
Apesar de ser a única rota terrestre que liga a América do Sul à América Central, a selva de Darién é dificílima de ser atravessada. Isso graças à sua configuração natural geograficamente complexa por conta da vegetação e montanhas. E também por causa disso (e de questões políticas), a Rodovia Pan-Americana não atravessa Darién, o que efetivamente bloqueia o transporte terrestre entre as Américas.
Porém, isso não impede que milhares de pessoas anualmente tentem atravessar a selva de Darién, especialmente imigrantes ilegais que sem condições financeiras para tentar viagens tradicionais e têm como objetivo chegar até os Estados Unidos, na América do Norte, se arriscam em travessias extremamente perigosas.
Conforme o Acnur, a travessia chega a durar dez dias ou mais. Normalmente as pessoas percorrem o trajeto a pé ou em meios de transporte pouco seguros (embarcações de madeira, por exemplo), ficando vulneráveis à temperaturas de mais de 40ºC, à desidratação, às chuvas torrenciais, a doenças (como dengue e malária), a ataques de animais selvagens e a afogamentos nas correntezas dos rios.
Acontece que Darién possui também perigos que vão além da natureza. Por conta de sua localização e da grande procura de pessoas para atravessá-la, a região tornou-se local de atuação de grupos criminosos conhecidos por cometerem atos de violência, incluindo tráfico de pessoas, abuso sexual, tráfico de drogas e roubos.
A Vice-Alta Comissária da Acnur, Kelly T. Clements, foi a Darién em 2024 e viu uma situação migratória perigosa e alarmante, com aproximadamente 520 mil pessoas tentando atravessar a temível selva anualmente. "Antes de um agravamento da situação, torna-se necessário mais cooperação e apoio da comunidade internacional para oferecer às pessoas deslocadas em situação de vulnerabilidade alternativas para as travessias perigosas e irregulares que empreendem nas Américas", disse Clements.
