Galeria de fotos: Por dentro da capital do garimpo de ouro ilegal da Amazônia
Reportagem visitou garimpos e 'currutelas' em Jacareacanga, município no Pará onde estima-se que 80 kg de ouro sejam extraídos por semana, a maior parte em terras indígenas e unidades de conservação.

Garimpo no meio da floresta amazônica no Alto Tapajós, Pará. O ouro é extraído nos 'baixões' – áreas de várzea próximas a igarapés, onde o minério lavado pelas chuvas se acumula. Confira a reportagem completa.
Para extrair em média 300 g de ouro em um intervalo de duas semanas, os barrancos são escavados até que o cascalho subterrâneo seja exposto – é ali onde está depositado o ouro atualmente, até 30 metros embaixo da superfície.
Garimpeiro exibe anéis de ouro em Jacareacanga, Pará. Joias como anéis e relógios são itens obrigatórios entre garimpeiros de todo a região.
Mãe de Alan Carneiro, empresário do setor de peças e reparos de escavadeiras, exibe seus anéis em Jacareacanga.
Maria Saw Munduruku deixou a aldeia ainda adolescente para se casar com um pariwat, como seu povo chama os não indígenas. Aos 71 anos, vive desde 1993 às margens da BR-230, e conta que desde o último presidente a pisar na região foi Ernesto Geisel.
Antônio Filho garimpa desde os 13 anos. Hoje, com 56, voltou de Mato Grosso depois de 20 anos para tentar extrair ouro de uma fazenda arrendada às margens da Transmazônica.
Ex-presidente da Associação de Moradores da Vila de São José, Vanderlei Pinheiro, de 48 anos, encabeçou uma série de ações judiciais contra a mineradora Ouro Roxo, de propriedade da canadense Albrook Gold Corporation, que tenta até hoje explorar exclusivamente uma área antes garimpada pela comunidade.
A música alta dos jukebox dos bares, tocando geralmente forró, arrocha e sertanejo, encobre o barulho dos geradores de energia a diesel, única fonte de energia elétrica de alguns povoados encravados na floresta.
Além da extração de ouro, o comércio – inflacionado devido o excesso de 'moeda' e os custos de frete – é a única atividade nos vilarejos garimpeiros, conhecidos como currutelas, como o povoado de São José do Pacu.
Aberta na década de 1970, a BR-230, mais conhecida como Transmazônica, é o único elo de ligação terrestre entre os municípios vizinhos de Itaituba e Jacareacanga, no Pará. Durante o inverno chuvoso, a lama torna a estrada um risco, e são comuns acidentes e engarrafamentos.
Diariamente partem de Jacareacanga dezenas de voadeiras e balsas transportando pessoas e produtos para os garimpos na região do entorno – muitos localizados em terras Indígenas.
Com a mão-de-obra local dedicada quase exclusivamente à extração de ouro, não há produção de alimentos, bebidas ou madeira. Aos moldes do ciclo do ouro nos séculos 17 e 18, tudo é trazido de fora a preços mais altos que até mesmo nas grandes capitais. Uma garrafa de 600 ml de cerveja não sai por menos de R$20.
As cozinheiras são as únicas presenças femininas nos garimpos, responsáveis pelas cinco refeições diárias que sustentam os trabalhadores. Ao contrário dos garimpeiros, que recebem uma porcentagem do ouro extraído, geralmente 3%, as cozinheiras recebem salário – em média 20 gramas de ouro por mês.
Mulher lava louças ao lado da balsa que atravessa o rio Tapajós. Segundo laudo da Polícia Federal, a cada 11 anos, o garimpo despeja no rio Tapajós a mesma quantidade de rejeitos que chegou ao rio Doce depois do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG).
Marcado aberto em Itaituba, outra cidade mineradora vizinha a Jacareacanga, que concentra empresas de combustível, maquinário e veículos utilizados nos garimpos.
Com o aumento da mecanização, o reparo e venda de peças para escavadeiras torna-se um mercado cada vez maior e lucrativo em Jacareacanga. Alan Carneiro – um dos principais nomes na luta pela legalização do garimpo – veio de Rondônia há quatro anos para aproveitar a oportunidade.
Com a forte e crescente mecanização nos últimos anos, operadores de escavadeiras se tornaram os profissionais mais bem pagos dos garimpos. Mazio Silva aprendeu a operar a máquina no Suriname, onde passou um ano extraindo ouro.
Bares que também funcionam como bordeis acabam dominando o comércio nos vilarejos garimpeiros, ao lado apenas de mercearias e dormitórios que recebem visitantes e eventuais clientes das garotas de programa.
Hospital em Jacareacanga, um dos municípios com maior taxa de infecção por covid-19 do Pará. A alta produção de ouro não se reflete em riqueza para grande parte da população da cidade, que possui o 51º pior IDH entre os 5.565 municípios do país, em parte graças à falta de tributação. O ouro produzido na capital do garimpo amazônico é "esquentado" em outras cidades, sobretudo Itaituba, que ficam com os impostos.