Praia recém-formada no Havaí já está poluída por microplásticos

A atividade do vulcão Kilauea no ano passado acabou por criar novas praias na ilha Havaí – e elas já estão contaminadas por plástico.

Por Sarah Gibbens
Publicado 3 de jun. de 2019, 11:43 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma foto da praia de Pohoiki tirada em setembro de 2018, um mês após a atividade ...
Uma foto da praia de Pohoiki tirada em setembro de 2018, um mês após a atividade vulcânica do Kilauea ter cessado.
Foto de Hawaii Department of Land and Natural Resources

Há apenas um ano, correntes de lava jorraram do vulcão Kilauea no Havaí, fechando estradas e avançando sobre o campo. Essas correntes acabaram atingindo o oceano, onde a lava quente entrou em contato com a água fria do mar, fazendo explodir pequenos cacos de vidro e destroços, ou seja, areia nova.

Por fim, novas praias se formaram, como Pohoiki, uma praia de areia preta que se estende por cerca de 300 metros na Ilha Havaí. Os cientistas que trabalham no local ainda não têm certeza se a praia se formou rapidamente após a erupção do vulcão em maio de 2018, ou se o processo aconteceu lentamente conforme a lava parou de jorrar em agosto. Contudo, com base nas amostras coletadas nessa nova praia, foi constatado que ela já está poluída – coberta com centenas de pedaços minúsculos de plástico.

Pohoiki é mais uma prova de que o plástico está onipresente nas praias: mesmo naquelas que parecem intocadas.

Teste das águas

O microplástico mede menos de cinco milímetros e raramente ultrapassa o tamanho de um grão de areia. A olho nu, Pohoiki parece intocada.

“Ela é maravilhosa,” diz Nic Vanderzyl, estudante da Universidade do Havaí em Hilo, que encontrou plástico nessa praia.

Vanderzyl viu na nova praia uma oportunidade de estudar novos sedimentos que provavelmente não tiveram influência humana. Ele coletou 12 amostras de diversas partes da praia. Utilizando uma solução de cloreto de zinco, mais densa que o plástico e menos densa que a areia, ele conseguiu separar os dois ao forçar o plástico a flutuar para a superfície enquanto a areia afundava. O método de separação foi publicado no periódico Environmental Pollution em 2017.

Imagens mostram lava do vulcão Kilauea engolindo carro e casas no Havaí
O vulcão entrou em erupção em 3 de maio, mas a lava continua a escorrer.

Vanderzyl encontrou em média 21 pedaços de plástico a cada 50 gramas de areia. Segundo ele, a maior parte consistia em microfibras, fibras da espessura de um fio de cabelo que são expelidas de tecidos sintéticos como o poliéster ou o nylon, bastante utilizados atualmente. Elas entram na água por meio de águas residuais provenientes de máquinas de lavar ou simplesmente de banhistas que mergulham no mar.

Steven Colbert, ecologista marinho e mentor acadêmico de Vanderzyl, afirma que o plástico provavelmente foi arrastado com as ondas e acabou ficando na praia à medida que minúsculos grãos de areia se misturavam a ele. Em comparação às amostras retiradas de duas praias vizinhas que não foram formadas por vulcões, Pohoiki possui cerca de 30% a 50% a mais de plástico que as outras praias.

Vanderzyl e Colbert planejam monitorar Pohoiki continuamente a fim de avaliar se a quantidade de plástico aumentará ou permanecerá a mesma.

O fim das praias intocadas

Colbert comenta sobre as amostras de microplástico: “eu não queria ter encontrado nada, mas não fiquei surpreso”.

“Existe a ideia romantizada de uma praia tropical remota, limpa e intocada, como a praia para a qual Tom Hanks foi arrastado [no filme Náufrago]”, afirma Colbert. “Esse tipo de praia não existe mais.”

O plástico, incluindo o microplástico, já foi levado a algumas das praias mais remotas do mundo, que não são habitadas por pessoas.

Os cientistas compararam o estado atual do oceano com uma sopa de plástico. Os microplásticos são tão prolíficos que caem do céu em regiões montanhosas remotas e aparecem em grande parte do nosso sal de cozinha.

Ainda não está claro como o excesso de plástico afetará os ecossistemas marinhos, mas cientistas suspeitam que pode haver consequências perigosas à vida selvagem e à saúde humana. Diversas vezes, grandes mamíferos marinhos como as baleias foram arrastadas para a costa com o estômago cheio de plástico, mas uma recém-descoberta feita pelos cientistas mostrou que as larvas de peixe estão ingerindo microplástico desde os primeiros dias de vida.

Diferentemente dos itens maiores de plástico, como sacolas e canudos, que podem ser apanhados e jogados no lixo, os microplásticos são ao mesmo tempo abundantes e invisíveis. Um estudo publicado no início deste mês revelou que limpezas feitas em praias normalmente deixam para trás milhões de pedaços de plásticos.

Grupos de conservação como a organização Hawaii Wildlife Fund se uniu a universidades para desenvolver instrumentos de limpeza da praia que atuam basicamente como um aspirador, sugando a areia e separando os microplásticos. Contudo, o tamanho da máquina, seu custo e a tendência de recolher também a vida microscópica presente, apenas permite que o instrumento seja usado em praias com alto nível de poluição.

Embora já esteja repleta de plástico, ainda falta muito para que Pohoiki concorra com lugares como a famosa praia do lixo do Havaí.

Vanderzyl planeja voltar para Pohoiki no próximo ano para observar as mudanças ocorridas na praia, caso haja alguma. Mas segundo Colbert, a pesquisa inicial já mostra que a poluição de praias agora ocorre de forma instantânea.

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