Cientistas brasileiros descobrem 6 espécies de tamanduás-anões

Noturnos e moradores de árvores, tamanduás-anões da América Central e do Sul têm frequentemente se esquivado dos cientistas – até agora.

Por Jason G. Goldman
Publicado 11 de dez. de 2017, 17:51 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Pensava-se que tamanduás-anões compunham uma única espécie, mas pesquisadores agora determinaram que a população é formada por sete espécies distintas.
Foto de Karina Molina, Alexandre Martins e Flávia Miranda

A primeira pista era a pele.

Enquanto estudava tamanduás-anões no Brasil, a bióloga Flávia Miranda começou "a ver diferenças entre as cores da população da Amazônia e da Mata Atlântica”, ela lembra.

Existia apenas uma espécie reconhecida – Cyclopes didactylus –, mas ela estava curiosa para saber se esses moradores de árvores pouco conhecidos se classificavam em duas espécies diferentes.

Miranda, da Universidade Federal de Minas Gerais, e seus colegas fizeram 10 expedições no Brasil e no Suriname ao longo de uma década, em busca de tamanduás-anões, além de terem vasculhado museus de história natural à procura de amostras biológicas suplementares.

No final, a equipe se deparou com amostras de DNA de 33 tamanduás selvagens e informações anatômicas coletadas em mais 280 espécimes de museus.

Sua intuição inicial estava certa: os dois grupos de tamanduás-anões eram distintos. Na verdade, talvez existam até sete espécies diferentes de tamanduá-anão, de acordo com seu estudo, publicado em 11 de dezembro na Zoological Journal of the Linnean Society (em inglês).

“Esse é um bom exemplo dos resultados surpreendentes que podem emergir quando um animal comum, que mal fora estudado minuciosamente, é examinado por meio de técnicas modernas pela primeira vez”, diz Kristofer Helgen, especialista em mamíferos da Universidade de Adelaide, na Austrália. “Não me espantaria se futuras pesquisas sobre esses belos animais mostrassem ainda mais espécies ocultas”, ele diz.

Pesquisadores colhem uma amostra de sangue de um tamanduá-anão selvagem. Ao todo, eles coletaram amostras de DNA de 33 tamanduás selvagens.
Foto de Karina Molina, Alexandre Martins e Flávia Miranda

DISCRETOS MORADORES DE ÁRVORES

Em 2005, Miranda soube que cientistas não tinham certeza se tamanduás-anões ainda viviam no nordeste da Mata Atlântica, o que inspirou seu estudo sobre os enigmáticos mamíferos.

O primeiro desafio de sua equipe era desvendar como capturá-los.

Noturnos e com 50 centímetros de comprimento, eles são os tamanduás menos estudados, em grande parte por serem tão difíceis de encontrar. Espalhados por toda a América do Sul e Central, tamanduás-anões também passam suas vidas escondidos nas copas das árvores, alimentando-se principalmente de formigas.

Miranda e seus colegas distribuíram panfletos pelas comunidades indígenas do Brasil, para solicitar o conhecimento no rastreio e na captura desses bichos peludos. “Levamos 2 anos até capturar o primeiro animal”, ela diz. 

Enquanto alguns pesquisadores propõem dividir os tamanduás-anões em um conjunto de subespécies, Miranda começou do zero, trabalhando da suposição de que existia apenas uma espécie, o Cyclopes didactylus. Além do material genético, a equipe contou com medição craniana e coloração da pele como formas em potencial para distinguir cada espécie.

As análises genômicas e anatômicas confirmaram que quatro das subespécies anteriormente propostas eram, certamente, distintas. Então, a equipe identificou outras três espécies que nunca haviam sido propostas, e alcançou um total de potencialmente sete espécies diferentes.

Pesquisadores realizam medições anatômicas detalhadas em um tamanduá-anão selvagem. A partir dos dados de medição de vários tamanduás, eles conseguiram identificar diferenças entre as espécies.
Foto de Karina Molina, Alexandre Martins e Flávia Miranda

“APENAS O COMEÇO”

A União Internacional para a Conservação da Natureza classifica o C. didactylus como uma espécie de menor importância (em inglês), em parte por estarem amplamente distribuídos.

Mas, com a nova divisão na árvore genealógica, ainda não está claro qual é a situação de cada espécie.

Os pesquisadores agora trabalham duro para identificar as ameaças que enfrenta cada nova espécie descrita, para que então conservacionistas possam protegê-las.

Miranda suspeita que ao menos duas das novas espécies estão ameaçadas de extinção, afetadas pelo desmatamento relacionado à mineração e à agricultura.

Após passar 10 anos em busca de animais evasivos nas florestas tropicais do Brasil e do Suriname, Miranda está empolgada em continuar sua maior aventura. “O trabalho está apenas começando”, ela diz.

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