Centenas de ovos de pterossauros descobertos em escavação revolucionária

Os bem-preservados ovos jogam luz a como os répteis voadores se reproduziam – e o comportamento de seus filhotes.

Por Michael Greshko
Publicado 4 de dez. de 2017, 15:10 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
A reconstrução da vida do Hamipterus tianshanensis, espécie de pterossauro que viveu no que hoje é a China, mais de 100 milhões de anos atrás. Paleontólogos acabaram de encontrar centenas de seus ovos, o que representa um avanço considerável em nossa compreensão de como os répteis se procriavam.
Foto de Ilustração de Zhao Chuang

Em algo inédito no mundo, paleontólogos que trabalham no noroeste da China descobriram um esconderijo de centenas de antigos ovos botados por pterossauros, os répteis voadores que viveram ao lado dos dinossauros. Alguns dos ovos contêm os mais detalhados embriões de pterossauro já encontrados.

Apesar de cientistas estudarem os pterossauros por mais de dois séculos, nenhum ovo fora descoberto até o início dos anos 2000 (em inglês), e menos de uma dúzia foram encontrados nos anos subsequentes. A nova área extraída, descoberta por Xiaolin Wang, paleontólogo da Academia Chinesa de Ciências, inclui ao menos 215 ossos de pterossauro impressionantemente preservados – e talvez o número chegue a 300.

A equipe de Wang também encontrou 16 embriões no interior dos ovos, e eles suspeitam que outros permaneçam guardados na rocha. Wang e seus colegas anunciaram as descobertas no dia 30 de novembro, na Science (em inglês).

“Estamos acostumados a muitas hipérboles na paleontologia, mas isso é muito fenomenal”, diz David Hone, um pesquisador da Queen Mary, Universidade de Londres, que não está envolvido com o estudo. “O conhecimento está bem no início, porém o simples material bruto é potencialmente revolucionário.”

Dois dos recém-encontrados ovos de pterossauro. Paleontólogos dizem que encontraram centenas de ovos até agora, incluindo ao menos 215 em um único bloco de arenito. Provavelmente mais estão escondidos no interior da rocha.
Foto de Wang et al., Science 2017

AS TEMPESTADES PERFEITAS

Os ovos recém-encontrados pertencem aos Hamipterus tianshanensis (em inglês), uma espécie já conhecida de pterossauro que viveu no noroeste da China há mais de 100 milhões de anos. Com uma envergadura da asa de 3 metros e provável gosto por peixes, esses animais talvez se pareçam com as garças de hoje, por viverem próximos aos cursos d’água que cruzam terrenos do interior.

“O lugar fica no deserto de Gobi, e há ventos fortes, muita areia, com algumas plantas e animais”, diz o coautor do estudo, Shunxing Jiang, da Academia Chinesa de Ciências. “Entretanto, na época em que os Hamipterus viveram, o ambiente [era] muito melhor – o chamamos de Éden dos Pterossauros.”

Os Hamipterus não apenas se alimentavam nesse paraíso há tanto tempo perdido, eles também se reproduziam ali, provavelmente enterrando ninhadas de ovos na vegetação ou nos litorais. Os ovos fossilizados nos sedimentos do lago se agitaram pela rápida água corrente, um sinal de que tempestades devam ter inundado a área do ninho e sacudido os ovos até um lago maior, onde a lama ensopada os enterrou. Os ovos não escoaram todos de uma vez: eles se dividem em quatro camadas de sedimento distintas, o que sugere que múltiplas enchentes os depositaram ao longo do tempo.

A equipe de Wang sugere que um antigo ninho talvez fora inundado repetidamente. Isso implicaria que, como aves e tartarugas modernas, os Hamipterus sempre utilizavam os mesmos locais de ninho. Além do mais, o expressivo número de ovos sugere que os Hamipterus se procriavam em grandes grupos, a exemplo de algumas aves atuais.

DEIXANDO O NINHO

Conforme as águas se enfureciam no velho lago chinês, muitos dos ovos de pterossauro       racharam, deixando entrar sedimentos que no final das contas preservaram suas formas retangulares. Em pelo menos 16 desses ovos, os sedimentos também embalaram os delicados esqueletos de embriões de pterossauros em desenvolvimento, inclusive um osso que a equipe pensa que pertencera a um animal previamente chocado.

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    Situado em Xinjiang, no noroeste da China, a região dos fósseis de Hamipterus tem revelado centenas de ossos de pterossauro.
    Foto de Alexander Kellner, Museu Nacional, UFRJ

    “Podemos olhar para os ossos e observar que aspectos caracterizam um embrião, um animal previamente chocado e um jovem indivíduo já desenvolvido”, diz a coautora Juliana Sayão, especialista em estrutura óssea da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Esse é um registro único para os pterossauros – pela primeira vez, temos o espectro completo.”

    Ao comparar ossos isolados de pterossauros de diferentes épocas, pesquisadores podem de certa forma reconstituir como os Hamipterus se desenvolveram. Eles descobriram que o estágio mais recente dos embriões ainda não possuía dentes, e suas asas eram menos desenvolvidas que as patas traseiras. A constatação de braços aparentemente fracos foi uma surpresa, pois muitos paleontólogos pensavam que os pterossauros eram voadores desde o momento em que saíam do ovo. Os fósseis de Hamipterus, por sua vez, implicam um crescimento mais lento do pterossauro que, quando filhotes, galopavam sobre quatro patas.

    “Eu penso que eles têm um bom argumento, [e] esse é um resultado interessante”, diz Mike Habib, paleontólogo da Universidade do Sul da Califórnia e especialista na reconstituição de como os pterossauros se deslocavam. Ele espera que o trabalho futuro com esses fósseis possa usar análises mecânicas para testar quão bem esses pequenos répteis de fato voassem.

    A área das pedras contém uma mistura de ovos de Hamipterus preservados, assim como ossos soltos de adultos da mesma espécie. Paleontólogos ainda não têm certeza do motivo pelo qual encontraram apenas restos de Hamipterus nesses depósitos.
    Foto de Alexander Kellner, Museu Nacional, UFRJ

    Novos estudos devem ajudar a concretizar ainda mais detalhes sobre como esses animais com asas se reproduziam. As cascas se assemelham às dos ovos rígidos das atuais tartarugas, o que significa que os Hamipterus provavelmente enterravam seus ovos para protegê-los – mas onde ou como é algo desconhecido. Além disso, ainda não se sabe quantos ovos uma única fêmea Hamipterus bota ou o tamanho de seus grupos de reprodução.

    Dado o incompleto registro fóssil, também é possível que a sequência de crescimento do Hamipterus proposta precise ser ajustada. Talvez os maiores embriões que a equipe encontrou não estavam prontos para chocar, o que descartaria a cronologia de desenvolvimento. Mais fósseis ajudariam, e a equipe de Wang continua as buscas no noroeste da China.

    “O que está na minha lista de desejos”, diz o coautor Alexander Kellner, paleontólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Número um: encontrar mais embriões. Número dois: que encontremos ovos in situ – ou seja, ‘não movidos’. Nós aprenderíamos muito com isso.”

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