Serpente marinha venenosa é encontrada na Califórnia – como ela chegou lá?

A cobra-do-mar-pelágio normalmente habita os oceanos tropicais do mundo.

Por Jason G. Goldman
Publicado 18 de jan. de 2018, 19:04 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
cobra-do-mar-pelagio
A cobra-do-mar-pelágio encontrada na praia de Newport estava perto da morte e foi humanamente sacrificada.
Foto de Natural History Museum of Los Angeles County

A cobra-do-mar-pelágio é uma das serpentes de maior âmbito do planeta. E, se os últimos anos são alguma indicação, seu alcance pode estar ficando ainda maior – graças às mudanças climáticas.

Em janeiro, uma dessas cobras altamente venenosas e coloridas foi encontrada na praia de Newport, trazida pela maré ao sul da Califórnia. Esse foi apenas o quinto espécime já registrado na região.

Nativo dos oceanos tropicais do mundo, o réptil estava a algumas centenas de quilômetros ao norte do seu habitat tradicional – do sul do México ao norte do estado mexicano Baja California. Outros três foram encontrados nos invernos de 2015 e 2016 e um quarto em 1972e 1972.

Todas as quatro cobras anteriores tinham algo em comum: elas foram trazidas pela maré durante os anos do El Niño, quando as correntes oceânicas mudam e, algumas vezes, levam aleatoriamente as espécies para longe de seu habitat.

"As correntes estão fazendo coisas estranhas, e as temperaturas dos oceanos estão ficando mais altas. Então, fenômenos desse tipo fazem muito sentido", disse Greg Pauly, herpetologista do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles.

O que faz menos sentido é o porquê da ocorrência de um caso em 2018, em nada relacionado ao El Niño.

PERDIDO NO MAR

 

A cobra-do-mar-pelágio é a única cobra-marinha que vive em mar aberto, alimentando-se de pequenos peixes na superfície e flutuando nas correntes, de acordo com o biólogo e especialista em cobras-marinhas da Universidade da Flórida Harvey B. Lillywhite.

Os animais sobrevivem bebendo água da chuva que cai na superfície do mar e dá à luz – tipicamente de três a seis descendentes de cada vez – direto na água.

A espécie é mais feliz em águas acima de 18,5ºC; em ambientes mais frios, não conseguem digerir alimentos. No entanto, por causa das correntes oceânicas que determinam em grande parte seus movimentos, os répteis às vezes flutuam para além de seu habitat preferido, explica Lillywhite.

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    Greg Pauly holds the sea snake on January 9. The venomous reptiles live in tropical oceans the world over.

    Foto de Natural History Museum of Los Angeles County

    "Assim, de vez em quando, um aparecerá na Nova Zelândia, outra na Califórnia. Estamos falando da aparição de um excluído ocasional", disse Lillywhite.

    EVENTOS ATUAIS

    A Corrente de Davidson corre do sul para o norte, abaixo da superfície, a cerca de 16 e 32 quilômetros da Baja California e da Califórnia, ao longo da margem da plataforma continental.

    De outubro a fevereiro, a corrente sobe para a superfície, quando pode-se observar cobras flutuando próximo à Baja California e acompanhar seu deslocamento para o norte. Historicamente, poucas serpentes são vistas ao longo da Costa do Pacífico da Baixa Califórnia.

    Mas Pauly suspeita que o aquecimento das águas esteja causando algo nas cobras-do-mar-pelágio que as arrasta em direção norte ao longo da costa do Pacífico – aumentando as chances de que mais animais sejam levados pela Corrente de Davidson.

    "Isso é tudo especulação", ele admite, mas há um fator com o qual Lillywhite concorda. "Com o aquecimento global, antecipamos que algumas áreas de cobras marinhas estão se expandindo", disse Lillywhite.

    Faz sentido que as mudanças climáticas afetem a grande diversidade de espécies de águas abertas, em primeiro lugar, disse Pauly. Tome o exemplo do atobá-pardo, uma ave-marinha de águas abertas.

    "Há décadas, ele está se movendo em direção norte, ao longo da costa do Pacífico, e já nesse ultimo mês de novembro sua presença foi documentada em um pequeno pedaço de rocha próximo às ilhas Canal" ele disse.

    DIVERTIDO... MAS ASSUSTADOR

    Estressadas, exaustas e com corpos inapropriados para deslizar na areia, as cobras-do-mar-pelágio são geralmente mortas ou acabam morrendo no momento quando alguém as vê na praia.

    The sea snake will be a specimen for future study at the Natural History Museum of Los Angeles County.

    Foto de Natural History Museum of Los Angeles County

    No dia em que a mais recente cobra apareceu trazida pela maré, a superfície do mar estava fria – a 16,1ºC –, o que provavelmente a deixou a beira da morte.

    O animal foi reportado primeiro para os biólogos do Centro de Mamíferos Marinhos do Pacífico, que entrou em contato com Pauly.

    Humanamente sacrificadas e adicionadas às coleções do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles, o espécime pode ajudar os biólogos a compreenderem como as mudanças climáticas podem estar alterando comunidades selvagens do sul da Califórnia.

    "Por um lado, estou bastante entusiasmado por cobras-do-mar-pelágio terem aparecido ao longo da costa. Como herpetologista, isso é divertido", diz Pauly.

    "Mas o motivo por trás disso é bastante assustador."

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