Baratas-d’água gigantes comem tartarugas, patinhos e até mesmo cobras

Novo estudo, que compila décadas de pesquisa, revela um predador aquático destemido.

Por Joshua Rapp Learn
Publicado 5 de abr. de 2019, 15:29 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Uma barata-d’água, Lethocerus deyrollei, ataca um peixe em Saitama, Japão.
Uma barata-d’água, Lethocerus deyrollei, ataca um peixe em Saitama, Japão.
Foto de Yasuda Mamoru, Minden Pictures

BARATAS-D’ÁGUA GIGANTES são predadoras vorazes que se alimentam de tudo, de patinhos a cobras venenosas, aponta novo estudo que reúne décadas de pesquisa sobre insetos aquáticos.

São “o tipo de predador que fica à espreita,” diz Charles Swart, professor universitário da Trinity College em Connecticut, que estuda baratas-d’água gigantes. “Elas ficam posicionadas, segurando-se em uma planta na água e pegam tudo que se move à sua frente, tentando devorá-los”.

A pesquisa, publicada no periódico Entomological Science, analisa mais a fundo a ecologia das baratas-d’água, encontradas em quase todo o mundo, com cerca de 150 espécies conhecidas. As maiores, Lethocerus grandis Lethocerus maximus, vivem na América do Sul e podem chegar a mais de dez centímetros.

O autor do estudo Shin-ya Ohba, professor adjunto de entomologia da Universidade de Nagasaki, no Japão, é fascinado por insetos desde a primeira vez em que viu um deles em uma pet shop, aos sete anos de idade.

“Entomologistas japoneses gostam das baratas-d’água gigantes porque elas têm uma morfologia interessante”, conta ele: suas patas dianteiras, por exemplo, o fazem lembrar dos braços do Popeye.
 

Cardápio variado

Para seu estudo, Ohba leu artigos anteriores sobre baratas-d’água, muitas das quais ele havia pesquisado no Japão, onde as quatro espécies nativas, incluindo a bastante estudada Kirkaldyia deyrolli, são predadoras do topo da cadeia em campos de arroz e áreas alagadas.

Kirkaldyia deyrolli devorando uma tartaruga — uma observação rara.
Foto de Shin-ya Ohba

Todos os artigos apresentavam um tema recorrente: esses insetos parecem ser praticamente destemidos durante a predação. Por exemplo, em 2011, Ohba relatou a primeira observação de uma barata-d’água gigante devorando uma tartaruga.

Apesar de seu tamanho, esses bichinhos amarronzados se confundem com as plantas às quais se prendem e ficam de ponta cabeça para que consigam respirar por meio de uma espécie de “esnórquel” que sai de seu traseiro.

Assim que a presa entra em uma área de alcance, os predadores rapidamente fecham as patas dianteiras e agarram a criatura com as outras patas. Em seguida, perfuram a presa com um probóscide parecido com um punhal, injetando enzimas e possivelmente substâncias químicas anestésicas.

Swart, que não participou do estudo, destaca que a composição das toxinas da barata-d’água ainda não está bem clara, nem se são realmente venenosas.

“Decompõem o tecido e, em seguida, o sugam”, conta ele, e acrescenta que em presas maiores, o processo pode levar algumas horas e é possível que a vítima ainda esteja viva durante parte desse período.

Swart acrescenta que a nova pesquisa é uma “análise realmente abrangente de tudo que se sabe sobre elas.”

Mães infanticidas

Baratas-d’água gigantes estão entre os insetos incomuns nos quais os machos são os principais responsáveis pelo cuidado dos ovos.

Em algumas espécies, machos protegem as postas, até cinco de uma vez só, de predadores, como formigas. Em outras, as fêmeas colam seus ovos diretamente nas costas dos machos, e eles os carregam por aí até eclodirem em ninfas.

O estudo de Ohba também destaca que, em algumas espécies, como K. deyrolli, as fêmeas estão tão dispostas a encontrarem um parceiro que comam os ovos de outras fêmeas.

“Ao destruir os ovos da concorrente, uma fêmea pode copular com o parceiro da outra e se certificar de que o macho tome conta de seus ovos”, explica Ohba.

Além disso, as ninfas de baratas-d’água, cujo ciclo de vida dura até 60 dias, precisam ser tão valentes quanto os adultos. Na maioria das espécies, elas eclodem em uma estação em que presas menores são menos abundantes, forçando-as a procurar presas aparentemente impossíveis, como girinos ou peixes pequenos.

De acordo com Ohba, as “armas” das ninfas são suas patas dianteiras bastante curvas, o que as ajuda a agarrar a presa mais facilmente.

No entanto, Swart acrescenta que o mundo também dá voltas na cadeia alimentar, pois as baratas-d’água gigantes acabam virando presas de peixes maiores, patos e, possivelmente guaxinins ou tartarugas. Algumas pessoas também as comem fritas ou cozidas no Sudeste da Ásia.

Por que precisamos de insetos gigantes

Por mais assustadoras que as baratas-d’água possam parecer, seus status de predadores no topo da cadeia alimentar significa que são importantes para manter o ecossistema equilibrado.

A poluição da água pode prejudicar suas populações, além disso, espécies invasoras, como lagostins e rãs-touro, podem caçar as baratas-d’água.

Isso significa que os cientistas deveriam focar seus esforços a fim de garantir água doce limpa e sem invasores para essas espécies fundamentais, diz Ohba.

“Podemos conservar ecossistemas inteiros por meio da conservação de baratas-d’água gigantes”.

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