Tubarões em grave declínio em recifes de todo o mundo
No maior estudo do gênero, cientistas constataram ausência de tubarões que vivem próximos a recifes de coral em 58 países. Mas ainda há esperança.
O tubarão-cinzento-dos-recifes, observado na imagem na Baía de Kimbe, em Papua Nova Guiné, é uma das espécies que desapareceu de parte de seu habitat nativo.
Os tubarões já estão em sérios apuros em todo o mundo, sobretudo em razão da pesca predatória, porém um novo estudo revela que a situação dos animais é ainda mais precária do que se acreditava.
Em um levantamento abrangente conduzido em 371 recifes em 58 países, entre o Pacífico Central e as ilhas Bahamas, os cientistas constataram que em cerca de 20% dos locais não havia tubarões. Por serem predadores essenciais no topo da cadeia alimentar, os tubarões ajudam a manter as populações de peixes saudáveis, alimentando-se de indivíduos doentes e evitando uma explosão populacional de suas presas.
As populações de tubarões mais dizimadas estavam localizadas em alguns dos recifes mais próximos de populações humanas, como no Catar, República Dominicana, Colômbia, Sri Lanka e Guam.
Tubarões-galhas-pretas-de-recife nadam perto de Kirabati, no Oceano Pacífico.
A pesquisa, publicada na revista científica Nature, parte do Projeto Global FinPrint, “é o maior estudo sobre tubarões de recifes já conduzido”, afirma Enric Sala, coautor do estudo e Explorador Residente da National Geographic Society.
Aaron MacNeil, biólogo da Universidade de Dalhousie, e colegas instalaram mais de 15 mil armadilhas fotográficas com iscas e as fotos obtidas nesses locais revelaram que espécies como o tubarão-cinzento-dos-recifes, o tubarão-galha-preta-de-recife e o tubarão-bico-fino estavam frequentemente desaparecidas dos recifes onde sempre viveram.
“Após ter mergulhado em centenas de locais ao redor do mundo, tanto locais intocados quanto degradados, não me surpreendeu a ausência de tubarões em um quinto dos recifes pesquisados”, afirma Sala, que fundou a iniciativa Pristine Seas em 2008 para conservar os oceanos do mundo.
E mesmo em locais onde ainda podem ser encontrados tubarões-de-recifes, suas populações reduziram tanto que não conseguem mais desempenhar os mesmos papéis ecológicos de predadores, acrescenta Sala.
Os tubarões-bico-fino, antes o tubarão de recife mais abundante do Caribe, entrou em declínio nas últimas décadas.
Nick Graham, biólogo marinho da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, que não participou da pesquisa, ressalta que, embora a abordagem de armadilhas fotográficas “seja testada e comprovada regionalmente, na prática, esse estudo coordena uma avaliação global.”
“A pesca predatória de tubarões é comum”, concorda Graham, acrescentando que esses peixes são “raramente avistados em mergulhos realizados em muitos países”.
‘A venda de um tubarão morto só gera receita uma única vez’
Dois terços das 500 espécies de tubarões do mundo estão ameaçadas pela pesca predatória, muitas vezes para atender à demanda por barbatanas e carne de tubarão, mas, ao mesmo tempo, redes e equipamentos de pesca de espinhel capturam acidentalmente tubarões, reduzindo drasticamente suas populações.
Mas ainda resta uma esperança para os tubarões. “A boa notícia é que, se implantarmos uma proteção total contra a pesca nessas áreas, a vida marinha e os tubarões poderão se recuperar”, afirma Sala. A proteção das águas ao redor de Cabo Pulmo, no México, por exemplo, regenerou comunidades subaquáticas abundantes, inclusive de tubarões.
A regeneração de populações saudáveis de tubarões não é obtida simplesmente por meio da criação de reservas de recuperação para os animais — o manejo da pesca também é fundamental, pois impõe limites à pesca e restrições aos equipamentos de pesca prejudiciais a tubarões. Segundo Graham, o novo estudo “destaca a importância” dessas abordagens.
Com uma regulamentação mais rigorosa para a pesca de tubarões e uma redução dos tubarões capturados acidentalmente, as populações terão uma chance maior de recuperação, acrescenta ele.
A comunicação e o conscientização também exercem um papel imprescindível, segundo Carlee Jackson, pesquisadora de tubarões da Universidade Nova Southeastern. “Muitos países atuam no comércio de carne de tubarão com bastante regularidade, mas não adianta dizer a esses países que se trata de um ‘erro’”, conta Jackson.
Em vez disso, é mais importante ajudar a conscientizar as pessoas ao redor do mundo sobre a importância dos tubarões para a saúde dos oceanos. E parte desse processo pode implicar uma transição da pesca para o ecoturismo com enfoque nos tubarões e nos recifes habitados por eles.
“As populações locais também são beneficiadas pela receita gerada continuamente com mergulhos turísticos com tubarões, “ao passo que a venda de um tubarão morto só gera receita uma única vez”, afirma Sala.