Axolote ameaçado de extinção no México ganhou fama — mas será o suficiente para salvá-lo?

Diversas iniciativas correm contra o tempo para salvar essa excêntrica salamandra, mas especialistas alertam que a única solução eficaz de fato seria a restauração do habitat.

Por Tina Deines
fotos de Luis Antonio Rojas
Publicado 19 de jan. de 2022, 07:00 BRT
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Imagem de axolote projetada em estrutura simulando uma pirâmide para uma peça em Xochimilco, Cidade do México, em 8 de novembro de 2019.

Foto de Luis Antonio Rojas

CIDADE DO MÉXICO Na Cidade do México, no moderno bairro de Roma, o pátio da cervejaria Monstruo de Agua está movimentado com conversas de jovens em meio a ceviche de abacate defumado, tempurá de cogumelos e cervejas artesanais. Cada cerveja da microcervejaria traz um rótulo com a imagem do curioso axolote, inteiro com sua coroa de brânquias em formato de penacho.

A cervejaria escolheu a salamandra criticamente ameaçada de extinção como mascote na esperança de conscientizar a população mexicana, afirma o fundador Matías Vera-Cruz Dutrenit. “Se nosso produto for apreciado, pode atuar como um embaixador do animal”, conta ele.

Tendo recebido seu nome em homenagem a Xolotl, deus asteca do fogo e do relâmpago, o axolote é um importante símbolo da cultura mexicana há séculos. “Monstruo del Agua” significa “monstro d’água”, a tradução da palavra axolotl do náuatle (língua dos antigos astecas) para o espanhol.

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Agricultor rema ao lado de uma chinampa — ilha artificial utilizada para fins agrícolas — em um canal em Xochimilco, Cidade do México, em dezembro de 2019.

Foto de Luis Antonio Rojas

Anteriormente presentes nos lagos de elevadas altitudes no entorno da Cidade do México, esses anfíbios de 30 centímetros de comprimento agora estão limitados a apenas poucos canais próximos ao Lago Xochimilco, onde restam apenas entre 50 e mil indivíduos. Essa população precariamente pequena enfrenta uma infinidade de ameaças: poluição hídrica; predação por carpas e tilápias invasoras; e, a mais importante: a perda de habitat. Com o declínio da salamandra na última década, a conscientização pública sobre o axolote aumentou.

Os axolotes atualmente são personagens do jogo online Minecraft e da plataforma global de jogos Roblox. A nova cédula de 50 pesos, lançada no fim de 2021, apresenta o axolote na frente.

Axolotes – normalmente marrons ou cinzas na natureza – também se tornaram extremamente populares como bichos de estimação, geralmente brancos com realces cor-de-rosa, uma mutação genética causada pela reprodução em cativeiro.

Apesar do amplo reconhecimento, Luis Zambrano, especialista em axolotes da Universidade Nacional Autônoma do México, está cético de que a nova cédula ou a fama crescente do axolote resultarão em mudanças significativas.

“Há milhões de axolotes (em cativeiro) em todo o mundo”, conta Zambrano, mas “é necessária a existência do habitat” — uma tarefa desafiadora em uma metrópole ampla de 22 milhões de habitantes, adverte ele.

Não há “uma solução simples para a conservação dessa espécie”.

Conscientização sobre o axolote

A cervejaria Monstruo de Agua abastece cerca de 300 distribuidores diretos e, em 2020, começou a exportar para lojas nos Estados Unidos.

 

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      Em fevereiro de 2021, agricultor conclui canteiro feito a partir da lama em Xochimilco. A chinampa é uma técnica milenar na qual agricultores criam ilhas artificiais a partir da terra fértil entre corpos d’água.

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      Carlos Sumano, do Laboratório de Restauração Ecológica da Universidade Nacional Autônoma do México, fotografa a água de um canal de Xochimilco para analisar sua qualidade em dezembro de 2020.

      fotos de Luis Antonio Rojas

      Usar a imagem do axolote no rótulo de sua empresa implica uma obrigação moral, observa Dutrenit, natural da Cidade do México. Por exemplo, a empresa fornece materiais publicitários a seus distribuidores de cerveja com informações básicas sobre axolotes e como protegê-los.

      Em uma tarde de dezembro, ao degustar homus de seu cardápio, Dutrenit fala animadamente sobre paralelos entre os axolotes e os valores de sua empresa: o legado mexicano, a regeneração e a sustentabilidade.

       

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        Em abril de 2021, axolote de três meses nada em aquário no Laboratório de Restauração Ecológica da Universidade Nacional Autônoma do México. Os axolotes são fáceis de criar em cativeiro e se tornaram bichos de estimação populares em todo o mundo.

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        Larva de axolote de 10 dias nada em balde de plástico em laboratório de ecologia. Os axolotes são incomuns, pois mantêm sua aparência larval até mesmo na idade adulta.

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        A salamandra pode regenerar seus membros, corações, medulas espinhais e até mesmo segmentos de seus cérebros perdidos ou lesionados. Da mesma forma, prossegue Dutrenit, sua empresa adota práticas agrícolas regenerativas em relação a seus ingredientes nativos, como agave e amaranto, o que inclui a policultura — ou cultivo simultâneo de mais de uma cultura agrícola, prática que melhora a qualidade do solo.

        Por fim, a empresa está comprometida com a sustentabilidade, o que inclui o aproveitamento da água da chuva na produção de cerveja e o transporte de mercadorias por bicicleta, tudo para reduzir o impacto humano na natureza da Cidade do México, incluindo em Xochimilco, habitat do axolote.

        Restauração do habitat: tarefa crucial, mas desafiadora

        Em 1993, o governo mexicano tomou medidas para proteger o habitat dos axolotes, criando o Parque Ecológico e Mercado de Plantas de Xochimilco de cerca de 214 hectares. Mas o progresso é vagaroso: a poluição das estações de tratamento de águas residuais e a urbanização ainda ameaçam grande parte da região, afirma Zambrano.

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        Em março de 2021, formas jovens de axolotes descansam em aquário em criadouro em Xochimilco.

        Foto de Luis Antonio Rojas

        Até o momento, esses axolotes mantidos em cativeiro servem como uma reserva populacional: Zambrano disse que os cientistas não os soltarão em Xochimilco a menos que a população selvagem desapareça completamente.

        Agricultura tradicional salva as salamandras

        Dionísio Eslava Sandoval, natural de Xochimilco e líder comunitário, resolveu tomar essa responsabilidade para si ao restaurar as chinampas tradicionais pré-hispânicas, ilhas agrícolas artificiais cercadas por canais estreitos que filtram a poluição.

        As chinampas proporcionam um habitat ideal aos axolotes, porém 95% delas estão improdutivas, abandonadas ou mal cuidadas devido ao declínio da agricultura tradicional.

        A maioria dos estrangeiros conhece os barcos coloridos de festejos de Xochimilco denominados trajineras, que levam turistas em passeios pelo sistema de canais da região. Contudo, naquela manhã límpida, o capitão pessoal de nossa trajinera tinha uma missão diferente. Ele navegou seu barco, passando por uma placa de Xochimilco com um sorridente axolote cor-de-rosa choque, e atracou na chinampa recém-restaurada por Sandoval.

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          A construção de uma ponte de seis faixas destruiu parte do pântano de Xochimilco, como observado em junho de 2021. Essa perda de habitat continua sendo a principal ameaça aos axolotes.

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          Chinampa abandonada é dominada por ervas daninhas em Xochimilco em dezembro de 2020. A tradição da chinampa diminuiu ao longo das décadas, em parte devido à falta de apoio aos agricultores.

          fotos de Luis Antonio Rojas

          Quando Sandoval desembarcou, ele se recordou do quanto sua chinampa havia avançado; anteriormente um “grande depósito de lixo”, agora se tornou uma próspera horta de cerca de 185 metros quadrados, produzindo cenoura, alho, brócolis e outros legumes plantados com sementes nativas e métodos de agricultura orgânica.

          A chinampa de Sandoval também é o novo lar de 11 axolotes, que Sandoval — com autorização do governo — transferiu do sistema de canais principais para fossos interconectados, onde dois filtros semelhantes a telas impedem a entrada de metais pesados e outros poluentes, bem como de carpas e tilápias. Produtores rurais e agricultores soltaram no mínimo outros 240 axolotes em fossos semelhantes nas proximidades utilizando esse método.

          Embora não atue diretamente com Sandoval, Zambrano e sua equipe gerenciam o Projeto Refúgio Chinampa, que criou 20 refúgios semelhantes de axolotes com a contribuição de 28 produtores rurais de chinampas na região, que também transferiram animais a partir dos canais principais.

          Sandoval espera que ainda mais pessoas sigam seu exemplo. “A expectativa é que a iniciativa seja ampliada”, revela ele. “Como conscientizar as pessoas? Pelo exemplo.”

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          Em abril de 2021, axolote fêmea nada em aquário no Laboratório de Restauração Ecológica da Universidade Nacional Autônoma do México.

          Foto de Luis Antonio Rojas

          Luis Antonio Rojas é um Explorador da National Geographic e fotógrafo de documentários, residente na Cidade do México. Siga-o no Instagram.

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