Os segredos dos insetos: por que eles são vitais para o planeta e como impedir que desapareçam

Borboletas, formigas, abelhas, baratas e incontáveis outros insetos vivem na Terra há milhões de anos e são indispensáveis para a natureza. Saiba porque 40% dessas espécies podem se extinguir nas próximas décadas.

As formigas cortadeiras carregam as folhas para o formigueiro. Costa Rica.

Foto de Charlie Hamilton James
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 28 de nov. de 2022, 14:41 BRT, Atualizado 29 de nov. de 2022, 10:12 BRT

Do Ártico à zona equatorial, e dos vales até as montanhas mais altas: os insetos estão em todo o mundo. O único lugar onde eles não são encontrados é no ambiente marinho, diz José Carlos Otero, PhD em biologia, entomólogo, professor e autor do livro La vida secreta de los insectos (A Vida Secreta dos Insetos, em tradução livre, e ainda não publicado no Brasil).

Esses pequenos animais habitam a Terra há mais de 350 milhões de anos e sobreviveram a cinco grandes extinções. Eles desempenham papéis diferentes e demonstram que, apesar do tamanho pequeno, são vitais para a vida no planeta. 

Especialistas revelaram à National Geographic alguns dos segredos que tornam os insetos indispensáveis e alertam sobre o preocupante declínio de várias espécies. 

O que são os insetos?

Os insetos são animais invertebrados caracterizados por possuírem pernas ou membros articulados, o que os faz pertencer ao grupo dos artrópodes, explica Jorge Frana, agrônomo, entomólogo e membro da Sociedade Entomológica Argentina.

Segundo Frana, este é o mais numeroso e diversificado grupo de insetos do planeta. De acordo com  Rafael Guzmán Mendoza, especialista mexicano formado em biologia e doutorado em ciências biológicas, estima-se que existam cerca de 10 milhões de espécies de insetos, embora até o momento só se tenha verificado a existência de aproximadamente um milhão.

Um besouro rola-bosta empurra uma bola de esterco na estrada. Reserva Nacional Masai Mara, Quênia.

Foto de Charlie Hamilton James

Por que os insetos são importantes para o meio ambiente?

Os insetos são fundamentais para a população humana e são a base para o funcionamento de todos os ecossistemas, diz o entomólogo e escritor Otero. São eles que permitem a polinização e a decomposição da matéria vegetal, servem de alimento para muitas espécies e contribuem para a saúde humana.

Entre suas capacidades, os insetos podem influenciar as propriedades físicas e químicas do solo. Fazem isso, por exemplo, quando alguns granívoros (como certas formigas) constroem galerias para armazenar sementes; ou quando os decompositores (como besouros rola-bosta) transformam a matéria orgânica do solo (folhas, pedaços de caules e galhos, ou mesmo outros insetos). 

Eles também influenciam a composição da paisagem ao estabelecer quais plantas sobrevivem, quantas sobrevivem, ou sob qual a distribuição desses vegetais. "Tudo isso pode ser determinado por papéis feitos por granívoros ou herbívoros", diz o biólogo Guzman.

Além disso, há predadores (tais como as joaninhas) que se aproveitam de outros insetos. Eles agem como fatores naturais de mortalidade e controle de pragas, explica o entomólogo Frana. 

Outra tarefa fundamental dos insetos é a polinização, essencial para a nossa alimentação. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostram que um terço da produção mundial de alimentos depende apenas das abelhas. "Os polinizadores ajudam na reprodução das plantas e aumentam a diversidade genética das plantas", diz Guzmán.

As abelhas enchem um favo de mel com mel. Komchen, México.

Foto de Nadia Shira Cohen

Além disso, a entomofagia (consumo de insetos pelo homem) é praticada em países ao redor do mundo e seu uso para alimentação humana e animal (na forma de ração) "traz uma série de benefícios ambientais, sanitários, sociais e de subsistência", de acordo com um estudo de 2013 da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

O documento da FAO também destaca outras funções dos insetos: "Eles fazem parte da medicina tradicional há milhares de anos. Como por exemplo, as larvas de mosca que são usadas para limpar tecidos mortos em feridas, e produtos derivados de abelhas como própolis, geleia real e mel, que têm uso por suas propriedades curativas". 

Além disso, as pessoas têm nesses pequenos animais inspiração para projetar vários produtos e processos. E "eles estão sendo testados quanto à sua capacidade de reduzir estrume, como o gerado pelos porcos, e de mitigar os odores", diz o documento da FAO.

Uma mosca (família Syrphidae) pousa em uma flor de calêndula na Floresta Nacional de Coronado. Floresta Nacional de Coronado, Arizona, Estados Unidos.

Foto de David Liittschwager

Quais são as ameaças aos insetos?

"O uso generalizado de inseticidas, a fragmentação do habitat e as mudanças climáticas representam múltiplas ameaças aos insetos, e suas populações estão em declínio acentuado", adverte um resumo das projeções da ONU para o Meio Ambiente de 2019.

Um estudo publicado em 2019 na revista Biological Conservation, revela "taxas dramáticas de declínio que podem levar à extinção de 40% das espécies de insetos do mundo nas próximas décadas".

A pesquisa afirma que os principais motores desse declínio são: perda de habitat e conversão para agricultura intensiva e urbanização; poluição, principalmente por pesticidas e fertilizantes; fatores biológicos, incluindo patógenos e espécies introduzidas; e a mudança climática.

Soma-se a isso, "grande parte da culpa pela perda da biodiversidade reside em atividades humanas como a caça e a perda de habitat por desmatamento, expansão e intensificação da agricultura, industrialização e urbanização", outros pontos que afetam diretamente a vida dos insetos.

Para Otero, "0 desmatamento está causando enormes danos na perda da biodiversidade e, naturalmente, as monoculturas também estão agindo de forma importante no declínio dos insetos, especialmente os polinizadores". 

Frana acrescenta que fatores como a luminosidade noturna têm um impacto sobre os insetos. Por exemplo, a intensidade da luz nas cidades afeta a comunicação entre os vaga-lumes. 

Guzmán acredita que ainda há falta de dados observacionais e estudos de campo de médio a longo prazo para saber com precisão quantos insetos estão sendo perdidos, quais as espécies mais ameaçadas e quão rápido eles estão desaparecendo.

Ele também reconhece que há fatores que podem afetar as populações de insetos. Por exemplo, o ritmo no qual o uso da terra, a floresta ou outras paisagens naturais estão sendo modificados. 

“Não podemos pedir heroísmo às pessoas comuns.”

por RAFAEL GUZMÁN MENDOZA
especialista em biologia e doutorado em ciências biológicas

Além disso, acrescenta Guzmán, certas atividades agrícolas de monocultura também modificam seus padrões de comportamento. A aplicação de inseticidas ou herbicidas reduz a heterogeneidade ambiental, remove algumas plantas e deixa outras de interesse comercial e reduz a diversidade florística, o que elimina áreas de refúgio e recursos que impedem que os insetos se refugiem, reproduzindo-se ou aguardando a chegada das presas para serem capturadas. 

"Os ambientes tornam-se mais homogeneizados e isto desloca espécies importantes, como os insetos", diz Guzmán. "Quando são aplicados inseticidas, não somente as populações de insetos são reduzidos, mas também outros animais são prejudicados indiretamente." 

O que pode ser feito para evitar prejudicar os insetos?

Para o entomólogo José Carlos Otero, há algumas ações que podem ter um impacto positivo, como a reciclagem, a conservação do que está ao nosso redor e o não-consumo excessivo de todos os recursos. Mas, segundo ele, "não podemos pedir heroísmo às pessoas comuns". 

Na mesma linha, Jorge Frana diz que é importante eleger representantes políticos que atuarão de acordo e criar espaços de debate. Além disso, diz ele, é necessário divulgar informações e educar os cidadãos sobre a importância dos insetos, especialmente entre as crianças.

Otero concorda e argumenta que a ignorância sobre a importância dos insetos pode estar ligada a uma falta de informação, o que leva à pouca apreciação do verdadeiro valor desta biodiversidade.

Guzmán convida cada grupo a dar sua contribuição: do setor acadêmico é possível gerar conhecimento para projetar novas estratégias; no caso da agronomia ou da agricultura, promover políticas voltadas para o manejo do habitat através do enriquecimento dos cultivos, trabalhar no nível da policultura e compreender a dinâmica da paisagem para modular espaços que possam servir como áreas de refúgio para os insetos. 

Finalmente, Guzmán também diz que a sociedade deve se preocupar com a maneira como consome, questionando de onde vêm os vegetais, grãos ou carne que come diariamente e como eles são produzidos, e procurar boas alternativas. "Isto, de alguma forma, começará a regular os processos de produção”.

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