Por que ainda não pescamos o maior peixe do mundo?

"Pensei que haveria uma resposta simples", admite Zeb Hogan, um explorador da National Geographic, após filmar uma arraia de 300 quilos. Mas ele está convencido de que existem criaturas maiores por aí.

Por Stefan Lovgren
Publicado 13 de abr. de 2023, 10:06 BRT
Cientistas identificam e liberam uma arraia gigante de água doce na bacia do rio Chao Phraya, ...

Cientistas identificam e liberam uma arraia gigante de água doce na bacia do rio Chao Phraya, no centro da Tailândia. Esta espécie ameaçada de extinção tem como habitat grandes rios, da Índia até a Indonésia.

Foto de of Zeb Hogan

Há duas décadas, Zeb Hogan estava trabalhando no Rio Mekong, no Sudeste Asiático, quando teve a ideia do Projeto Megafishes, uma busca para encontrar, estudar e proteger os maiores peixes de água doce do mundo. “Eu pensei que haveria uma resposta simples, mas eu estava errado", diz Hogan, biólogo de peixes da Universidade de Nevada, nos Estados Unidos. 

Durante anos ele viajou pelos cursos d'água da Terra, muitas vezes como anfitrião do programa Monster Fish, do Nat Geo Wild. Embora ele tenha chegado perto em muitas ocasiões, ele não conseguiu encontrar um peixe com um peso verificado maior que os 293 quilos de arraia gigante Mekong, capturados na Tailândia em 2005. Em vez disso, Hogan descobriu que os gigantes do rio ao redor do mundo estavam mal estudados e, na maioria dos casos, em sério declínio, com algumas espécies à beira da extinção.

Cientistas marcam e soltam um bagre gigante no rio Mekong, no Camboja. Esta espécie criticamente ameaçada ...

Cientistas marcam e soltam um bagre gigante no rio Mekong, no Camboja. Esta espécie criticamente ameaçada de extinção pode crescer até ter pelo menos 2,7 metros de comprimento e pesar 293 quilos.

Foto de Zeb Hogan

“Eventualmente, começamos a escrever um livro, Chasing Giants: In Search of the World's Largest Freshwater Fish, publicado este mês pela University of Nevada Press”, conta Hogan. Mas mesmo depois de terminar o manuscrito no ano passado, ele ainda não tinha uma resposta para a pergunta central.

Então, milagrosamente, a equipe de pesquisa de Hogan no Camboja recebeu um telefonema de pescadores afirmando ter capturado uma arraia gigante de água doce no rio Mekong, muito maior do que qualquer outra capturada anteriormente. Descobriu-se que a arraia tinha 4 metros de comprimento e pesava 661 quilos, que o Guinness World Records reconheceu como o maior peixe de água doce já registrado em 2022.

A descoberta estimulava os esforços de conservação para proteger esses gigantes. Ao contrário do peixe-gato que foi abatido e vendido para carne em 2005, a arraia capturada no ano passado foi liberada viva após ser equipada com um receptor acústico. Isto permitiu aos pesquisadores rastrear seus movimentos para aprender mais sobre uma espécie sobre a qual praticamente nada era conhecido.

"Temos perdido estes peixes sem realmente conhecê-los", diz Hogan. "Agora temos as ferramentas para estudar e proteger essas incríveis criaturas. Então, precisamos aproveitar esse novo conhecimento e transformá-lo em uma proteção significativa. Não é tarde demais, os peixes grandes ainda estão por aí", acrescenta. Hogan está convencido de que um peixe mais pesado do que a arraia gigante ainda pode ser encontrado.

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    Foto de of Zeb Hogan

    Para seu projeto, que foi apoiado pela National Geographic Society, Hogan identificou mais de duas dúzias de espécies sob o termo "mega-peixe" – peixes de água doce que podem crescer até pelo menos 1,8 metro de comprimento ou alcançar pesos de 90 quilos. Eles compõem um conjunto diversificado de criaturas com diferentes formas e histórias de vida, desde carpas e peixes-gato colossais até enguias e peixes-elétricos.

    O que eles têm em comum, além de seu enorme tamanho, é que muitas de suas populações foram dizimadas pela pesca excessiva, construção de represas, poluição, espécies invasoras e mudanças climáticas. 

    O peixe-espada chinês, que poderia crescer até mais de 6 metros de comprimento, foi declarado extinto durante as primeiras etapas da busca de Hogan. "A percepção de que estes peixes, alguns dos quais estão na Terra há centenas de milhões de anos, estavam desaparecendo foi incrivelmente perturbadora", diz ele.

    Os peixes gigantes são indicadores da saúde dos rios, portanto, seu declínio é um sinal preocupante para os ecossistemas de água doce do mundo, que estudos mostram que muitas vezes estão mais degradados do que seus equivalentes marinhos e terrestres.

    Qual poderia ser o maior peixe de água doce do mundo?

    Tendo se concentrado no peixe-gato gigante do Mekong no início de sua carreira, Hogan chegou a suspeitar que a espécie, juntamente com a maior carpa do mundo, o barbo gigante, tinha desaparecido do Mekong. Outros possíveis concorrentes para o maior peixe foram o pirarucu, que habita a bacia amazônica da América do Sul, e o peixe-gato, o maior peixe de água doce da Europa e uma espécie com um apetite voraz.

    No entanto, a arraia gigante de água doce, que habita os rios do sudeste asiático, onde a maioria de suas populações estão em perigo, surgiu como a principal candidata ao título, embora seu status possa ser melhor do que o de muitas outras espécies de peixes gigantes. 

    Durante vários anos, Hogan concentrou sua busca no rio Mekong, no centro da Tailândia, não muito longe de Bangkok, onde pescadores esportivos estavam capturando e soltando enormes arraias. Durante uma filmagem de Monster Fish, a tripulação de Hogan pegou uma arraia que ele acreditava ser de tamanho recorde, mas a tripulação não tinha uma balança suficientemente grande para pesar o enorme animal.

    Hogan suspeitou, entretanto, que o rio Mekong, no Camboja, também tinha arraias gigantes. O projeto de pesquisa da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) que ele liderou desde 2017, Wonders of the Mekong, tem se concentrado cada vez mais em um trecho biologicamente rico do rio no norte do Camboja, onde acredita-se que as altas profundidades do rio são um paraíso para muitos peixes grandes. 

    Os pescadores disseram a Hogan que capturaram regularmente arraias pesando até 450 quilos, mas esses relatos eram difíceis de verificar. Na época, uma equipe de cientistas estadunidenses estava na área para realizar o primeiro levantamento de telemetria no norte do Camboja para entender melhor os padrões de migração e comportamento dos peixes no sistema do rio Mekong. Uma notável arraia fêmea se tornou o primeiro peixe a ser implantado com uma etiqueta acústica para o estudo.

    Os registros hidrofônicos mostraram que o raio marcado permaneceu quase que exclusivamente na área específica do rio onde foi descoberto. Isto significa que uma abordagem de gerenciamento baseada no local, como a criação de uma reserva de não captura na área, ajudaria a proteger as arraias. Tais reservas são comuns no sudeste asiático, mas exigem um forte envolvimento das comunidades locais.

    "Planejamos expandir ainda mais nosso trabalho de conscientização pública e participação local para proteger estas espécies, incluindo a arraia", diz Heng Kong, diretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Pesca Interna, da Administração de Pesca do Camboja.

    A procura continua

    Para Hogan, a procura pelo maior peixe de água doce ainda não terminou. "Esta arraia provavelmente não é o maior peixe do rio", diz ele. "Os pescadores me dizem o tempo todo que já pescaram arraias maiores do que essa”.

    Alguns especialistas sugerem que outras espécies, particularmente o pirarucu, podem alcançar pesos semelhantes aos da arraia. Cientistas estudando a deposição de anéis de crescimento nas escamas do pirarucu que vivem no rio Essequibo, na Guiana, mostraram que estes animais podem pesar muito mais do que os do Brasil.

    Por exemplo, a relação comprimento-massa desenvolvida pelos cientistas infere que um pirarucu capturado há alguns anos no Brasil, que tinha cerca de 3 metros de comprimento e pesava 244 quilos, teria pesado mais de 317 quilos na Guiana se tivesse sido de comprimento semelhante.

    "Prevejo que o recorde mundial definitivo de pirarucu virá da Guiana", disse, por e-mail, Donald Stewart, professor de pesca da Universidade Estadual de Nova York, nos Estados Unidos, que liderou a pesquisa.

    Hogan diz que sua busca sempre foi mais do que apenas encontrar os maiores peixes: "Sempre foi aprender mais sobre estes animais". Encontrar essa arraia é prova e evidência de que estes peixes ainda estão por aí, e isso é um sinal positivo. Mas nós estamos longe, em termos de nosso conhecimento sobre eles.

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