Boto-cor-de-rosa: a lenda do animal que “se transforma em humano” e outras curiosidades
Além de ser parte do folclore da região norte do Brasil, e inspirar uma lenda popular, o boto-cor-de-rosa cumpre um importante papel no ecossistema.
Espécie de boto-cor-de-rosa, que também é conhecido como o maior golfinho aquático de água doce do mundo.
De todos os animais da Amazônia, há um em especial que guarda uma famosa lenda folclórica e muitas curiosidades por trás de sua existência. Trata-se do boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), conhecido como o maior golfinho de água doce do mundo e que pode ser encontrado em Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela, segundo a Animal Diversity Web (ADW), base de dados online sobre seres vivos do planeta.
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A seguir, leia algumas curiosidades sobre esse fascinante mamífero aquático.
A popular lenda de que o boto-cor-de-rosa se transforma em homem
O boto-cor-de-rosa faz parte do folclore brasileiro. Há a lenda de que, durante à noite, ele se transformaria em um belo e charmoso rapaz, saindo da água para conquistar as mulheres ribeirinhas na Amazônia.
“Os botos vão aos bailes e dançam alegremente com elas, que logo se envolvem em meio a seus galanteios. Apaixonam-se e engravidam deste rapaz. O boto em sua versão humana anda sempre de chapéu, pois dizem que de sua cabeça exala um forte cheiro de peixe”, conta uma nota do Ministério da Pesca e Aquicultura, órgão do Brasil responsável pela atividade pesqueira e aquícola (relacionada à água) do país, explicando a famosa lenda local.
Segundo essa lenda, o boto desaparece antes do amanhecer e volta à sua forma animal na água sem que ninguém o veja. Obviamente, a popular história não possui embasamento científico e deve ser compreendida como parte do folclore regional amazônico.
O boto-cor-de-rosa desempenha um importante papel no ecossistema
Além da sua importância cultural, o boto também cumpre uma função essencial para manter o equilíbrio do ecossistema.
Como predador, o animal ajuda no controle populacional de peixes e outros animais aquáticos e também é presa para espécies como onças e jacarés.
O Ministério da Pesca e Aquicultura brasileiro relata ainda o comportamento chamado de “várzea-jardinagem”: ao locomover-se pelos rios, o boto ajuda na dispersão de sementes de plantas aquáticas, o que é importante para a polinização e reprodução das espécies vegetais.
O boto-cor-de-rosa enfrenta ameaças humanas em seu hábitat
O animal é classificado como “ameaçado” pela União Internacional Para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A organização, que monitora a situação de diferentes espécies ao redor do mundo, registra que a população de botos na natureza está em declínio.
Uma das ameaças a esse mamífero é a captura por pessoas que usam a sua carne como isca para a pesca de piracatinga (Calophysus macropterus), peixe apelidado de “urubu d’água” por se alimentar dos restos de outros animais.
Essa situação fez com que, desde janeiro de 2015, o Brasil proibísse a pesca e comercialização de piracatinga, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
“Brincalhão” e geralmente solitário: como é o comportamento do boto-cor-de-rosa na natureza
O boto é, no geral, um animal solitário, sendo raramente visto em grupos de mais de três indivíduos (geralmente mães com seus filhotes), informa a ADW.
Em momentos como o da alimentação e do acasalamento, é comum ver diferentes indivíduos juntos. Na hora de perseguir presas, o boto chega a se associar até mesmo a animais de outras espécies, como a ariranha (Pteronura brasiliensis).
“Os botos são bastante brincalhões e curiosos na natureza. Não é incomum que eles se esfreguem nas canoas e agarrem os remos dos pescadores nos rios, e já foram observados jogando gravetos e brincando com troncos e animais menores (inclusive peixes e tartarugas)”, explica ainda a ADW.