Qual é a relação do urso panda com a China?
Um panda gigante come bambu no Wolong China Conservation and Research Center.
Personagens principais de filmes de ficção, de animações famosas, documentários respeitados (como o Nascidos na China, disponível no Disney+), os ursos pandas-gigantes atraem a curiosidade das pessoas em todo mundo. Afinal, são ursos com uma impressionante coloração preta e branca, combinada com um rosto redondo, que lhes dá uma aparência cativante e atrai pessoas mundo afora, como afirma até a Encyclopædia Britannica (plataforma de conhecimento do Reino Unido).
Os pandas são da classe Mammalia (mamíferos), da família Ursidae e da espécie Ailuropoda melanoleuca – que justamente só existe na China, como afirma o site Animal Diversity Web (ADW), enciclopédia online sobre a vida animal mantida pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan, dos Estados Unidos.
E como são originários da China, os pandas-gigantes possuem uma intrínseca relação com o maior país da Ásia. Descubra a importância dos pandas para os chineses, desde culturalmente até como símbolo da política internacional do país.
Em que parte da China os pandas são encontrados?
Os pandas-gigantes são animais milenares, mas já eram considerados raros na China Antiga. Só que agora, o seu habitat natural está limitado às florestas temperadas das províncias de Sichuan, Gansu e Shanxi, na parte central do país. A área total dedicada ao animal cobre cerca de 29 km², mas apenas 5.900 km² são, de fato, o habitat dos pandas-gigantes, como afirma a ADW.
Essa região é conhecida por ter florestas de bambu – alimento sempre relacionado aos pandas-gigantes. Isso porque eles realmente comem muito bambu, apesar de serem naturalmente carnívoros (como os demais ursos), os pandas mantêm hábitos rotineiramente herbívoros.
(Veja também: A surpreendente dificuldade de fotografar pandas)
Os pandas adaptaram sua alimentação ao viver na China
Ao longo do tempo, os pandas-gigantes adaptaram seu organismo justamente por conta viverem na região central da China. Cerca de 90 a 98% da dieta do panda consiste em folhas, brotos e caules de bambu – disponível o ano todo nessa região chinesa. Apesar das adaptações nas patas dianteiras, dentes e mandíbulas para o consumo de bambu, o panda-gigante manteve o sistema digestivo de seu ancestral carnívoro e, portanto, não consegue digerir a celulose, um dos principais componentes do bambu.

As cores preto e branco características dos ursos panda fazem parte de importantes símbolos culturais chineses, tamanha a conexão entre o animal e o país.
De acordo com a Britannica, os pandas resolveram esse problema digestivo comendo muito, sem dar tempo para o organismo lidar com a celulose. Eles passam rapidamente enormes quantidades de grama e bambu pelo trato digestivo todos os dias. Isso significa que a cada 24 horas do dia de um panda-gigante, 16 delas são dedicadas à alimentação, e a eliminação de resíduos ocorre até 50 vezes por dia.
A enciclopédia também ressalta que os restos dentários fossilizados de pandas já encontrados indicam que o panda-gigante adotou o bambu como sua principal fonte de alimento há pelo menos 3 milhões de anos.
A China criou um santuário para os pandas
Desde 2006 considerado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) um Patrimônio Mundial por ser um santuário dos pandas-gigantes, o Sichuan Giant Panda Sanctuaries fica localizado na província de Sichuan e é o lar de mais de 30% dos pandas do mundo.
O local possui uma área de mais de 924 hectares espalhadas em sete reservas naturais e nove parques cênicos nas montanhas Qionglai e Jiajin, de acordo com informações da própria Unesco.
O site oficial dos santuários explica que o local constitui o maior habitat contíguo remanescente do panda-gigante, uma relíquia das florestas paleotropicais da Era Terciária. É também o local mais importante da espécie para a criação em cativeiro. Eles estão também entre os locais mais ricos em termos botânicos de qualquer região do mundo fora das florestas tropicais, com entre 5 e 6 mil espécies de plantas em mais de mil gêneros.
A importância cultural dos pandas na China
Os pandas simbolizam a alegria e a harmoniosa convivência do homem com a natureza, de acordo com o site do Consulado da China no Canadá. Eles explicam que inclusive a escolha do animal como mascote das Olimpíadas de 2008, realizada na China, e cujo mascote panda fora batizado de Jingjing – teve a intenção de demonstrar o valor desse animal na cultura chinesa para todo o mundo.
O consulado chinês explica também a relação das similaridades do passado dos pandas e da China, mais um elo que os une. Ambos tiveram que se adaptar a várias adversidades: os pandas mudaram seus hábitos e até se transformaram fisicamente para sobreviver ao longo dos milênios, ao passo que a China também passou por guerras e diferentes momentos sócio-políticos até chegar ao seu atual desenvolvimento em paz.
Eles relatam ainda que os próprios chineses apontam o panda como o “GuoBao”, ou seja, uma herança nacional – afinal é um animal exclusivamente chinês – nenhum panda selvagem vive em outro país do mundo. Até hoje as cores preto e branco do panda fazem parte de outros importantes símbolos culturais chineses, como no Yin e Yang, já que simboliza o dualismo e lados opostos da natureza – complementares, em harmonia e interdependentes.

Os pandas, da especie Ailuropoda melanoleuca só existe na China e geralmente são herbívoros.
Os pandas são importantes até na diplomacia da China
Um artigo da Universidade de Oxford, da Inglaterra, relata que os pandas-gigantes começaram a se tornar um símbolo também político, especialmente durante a Revolução Cultural da China (1966-1976). Nesse período, o panda se tornou uma expressão popular de nacionalismo da época. Ele foi repetidamente reproduzido como uma imagem politicamente segura da China perante os outros países.
A Universidade do Mississipi, nos Estados Unidos, também tem um longo artigo onde explica como desde essa época o panda começou a ser um símbolo político e diplomático para a China como ferramenta influente de soft power a fim de promover uma imagem "mais suave" da China globalmente.
Para isso, entre os anos 1950 e 1980, os pandas-gigantes foram usados como “moeda”, sendo doados pela República Popular da China como um gesto de reconhecimento e amizade com outras nações – em uma prática que ficou conhecida como a Diplomacia do Panda, e até hoje vários países possuem pandas em cativeiro por conta disso.
Atualmente, no entanto, por conta do perigo de extinção dos pandas, o país foi pressionado por ambientalistas a mudar essa prática. Hoje alguns exemplares de pandas-gigantes são “emprestados” a outros países pelo governo chinês por períodos de até dez anos, como explica um artigo da National Geographic.
Em 2024, por exemplo, a Wildlife Conservation Association da China está em negociação com o Zoológico Nacional de Washington para levar mais pandas aos Estados Unidos, sinalizando a melhoria das relações diplomáticas entre as duas superpotências. A associação também negocia o envio para o zoológico de Madri, na Espanha, e ao de Viena, na Áustria, de acordo com a agência Reuters.
