
Aranhas em guerra: essas tarântulas macho possuem genitais enormes para se defenderem das fêmeas
As tarântulas, como todas as aranhas, não têm pênis; elas têm palpos. E os da espécie Satyrex ferox são enormes. Na foto, uma fêmea é retratada – elas costumam matar os machos após o acasalamento.
Quando os cientistas descobrem uma nova espécie, geralmente dão a ela o nome da característica mais notável da criatura. Então, por que um grupo de cientistas recentemente batizou um gênero recém-descoberto de aranhas tarântulas com o nome de sátiros, designação dada aos homens meio cabra e meio humano da mitologia grega?
Assim como os sátiros, a nova espécie tem órgãos genitais enormes que superam os de todas as outras tarântulas, explicam os cientistas em um estudo publicado em julho de 2025 na revista científica “ZooKeys”. As aranhas fêmeas deste gênero são extremamente agressivas, então os cientistas especulam que os machos desenvolveram órgãos genitais gigantescos para manter uma distância mais segura durante o acasalamento.
“Novas espécies são encontradas com bastante regularidade, mas descobrir aranhas de grande porte com um comportamento tão ousado e características tão únicas não é algo que acontece todos os dias”, diz Alireza Zamani, aracnologista da Universidade de Turku, na Finlândia, e coautor da nova descoberta. “Há muito ainda que não sabemos sobre o nosso planeta.”

As tarântulas fêmeas (Satyrex speciosus na foto) são conhecidas por comer os machos após o sexo.
Como é o sexo entre as tarântulas
Em 2024, Zamani estava examinando registros antigos de avistamentos de tarântulas quando percebeu algo estranho. Os registros científicos, a plataforma de ciência cidadã “iNaturalist” e até mesmo as redes sociais estavam repletos de relatos de tarântulas com órgãos sexuais enormes na Península Arábica e na região do Chifre da África.
As tarântulas, como todas as aranhas, não têm pênis; elas têm palpos. Localizados perto da boca da aranha, os palpos são apêndices semelhantes a pernas que são usados para tudo, desde o acasalamento até a alimentação. Os machos têm estruturas em seus palpos conhecidas como bulbos palpais. Os bulbos se parecem com luvas de boxe e funcionam como seringas.
Quando chega a hora do acasalamento, os machos depositam esperma em uma de suas teias e, em seguida, transferem-no para seus bulbos palpais. Assim que têm uma fêmea em suas garras, eles inserem um de seus palpos na abertura genital da fêmea e depositam seu esperma.
Embora o tamanho dos palpos varie de espécie para espécie, os palpos que Zamani estava vendo eram diferentes de todos os que ele já tinha visto antes. Ele entrou em contato com pesquisadores na África e no Oriente Médio e, por fim, conseguiu oito espécimes preservados, com seus impressionantes palpos intactos, além de fotos e vídeos deles em seu habitat natural.
Ao estudar sua estrutura e DNA, Zamani e seus colegas conseguiram determinar que essas tarântulas não apenas pertenciam a quatro novas espécies, mas também compunham um gênero totalmente novo. Eles batizaram esse novo gênero de Satyrex, que é uma combinação de Satyr e da palavra latina rēx, que significa rei. Todas as aranhas deste gênero vivem no subsolo e são “altamente defensivas e agressivas”, diz Zamani.
A mais agressiva do grupo é a Satyrex ferox. Essa aranha, que é a maior do gênero, tem palpos que podem atingir incríveis cinco centímetros, tornando-os quase tão longos quanto suas pernas mais compridas.
Seu nome vem da palavra latina para “feroz”. De acordo com Zamani, essa aranha assume uma postura defensiva ao menor sinal de perturbação, levantando as patas dianteiras e esfregando-as uma na outra para produzir um som sibilante.
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Devorar seus companheiros pode dar às fêmeas (Satyrex arabicus na foto) um impulso de energia para criar uma ninhada de ovos.
A dança do acasalamento das tarântulas
Os pesquisadores especulam que os membros machos da espécie Satyrex podem ter desenvolvido seus enormes palpos para evitar serem atacados e comidos pelas fêmeas durante o sexo. Para muitas tarântulas, o acasalamento é um duelo mortal. Durante essas lutas, os machos se esforçam para inseminar e escapar, enquanto as fêmeas lutam para fazer de seus pretendentes uma refeição.
Em quase todas as tarântulas, incluindo a nova espécie Satyrex, os machos desenvolveram ganchos nas patas dianteiras que utilizam para prender as presas das fêmeas durante o acasalamento, impedindo-as de os morder. Embora esses pequenos ganchos funcionem para a maioria das tarântulas, Zamani suspeita que, por si só, eles provavelmente não protegem os membros da espécie Satyrex das suas fêmeas agressivas. Ter palpos enormes pode ajudar as aranhas Satyrex machos a manter uma distância segura das fêmeas durante o acasalamento, diz ele.
“Acho que é uma hipótese fascinante e muito testável”, diz Chrissie Painting, ecologista comportamental que estuda sistemas de acasalamento na Universidade de Waikato, na Nova Zelândia.
Painting, que não participou do estudo, diz que essas aranhas podem estar no meio de uma corrida armamentista evolutiva, com as fêmeas evoluindo para se tornarem mais agressivas a fim de conseguir um “lanche” que as sustente na maternidade e os machos evoluindo melhores meios de acasalar com elas sem serem comidos. Embora sejam necessárias mais pesquisas para confirmar isso, diz Painting, o canibalismo sexual é um forte impulsionador da evolução.
Em outras espécies de aranhas com canibalismo sexual, Painting destaca que os machos desenvolveram a capacidade de transferir esperma extremamente rápido para reduzir as chances de serem comidos durante o ato.

Ter órgãos genitais mais longos, semelhantes a pernas, pode ajudar as tarântulas machos da espécie Satyrex (Satyrex arabicus na foto) a manter uma distância segura das fêmeas agressivas durante o acasalamento.
Por dentro do diverso mundo das aranhas
Zamani e seus colegas ficaram surpresos com o fato de as aranhas descritas neste estudo terem passado despercebidas por tanto tempo. Mas nosso planeta abriga mais de 1 mil espécies de tarântulas, e muitas ainda não foram encontradas. “A realidade é que a maioria da biodiversidade da Terra permanece sem documentação”, diz ele.
Quando se trata da variedade de aranhas estranhas ainda a serem descobertas, essas tarântulas podem ser apenas a ponta do iceberg.
