10 descobertas científicas incríveis que passaram despercebidas em 2020

Desde a descoberta de uma poeira estelar mais antiga que o sol até os primeiros embriões de tiranossauro, confira algumas descobertas fascinantes que podem ter sido ofuscadas este ano.

Por Maya Wei-Haas
Publicado 8 de dez. de 2020, 11:09 BRT
Pesquisadores na Caverna Chiquihuite com equipamentos de proteção para evitar a contaminação de áreas de escavação onde ...

Pesquisadores na Caverna Chiquihuite com equipamentos de proteção para evitar a contaminação de áreas de escavação onde buscam assinaturas genéticas de plantas e animais.

Foto de Devlin Gandy

Este ano produziu um frenesi de notícias sem precedentes. Vidas foram perdidas em meio à turbulência da pandemia mortal do coronavírus em todo o mundo e leitores aguardavam ansiosamente cada detalhe sobre o progresso da produção de uma vacina. O assassinato de George Floyd desencadeou protestos em todo o país contra a brutalidade policial e o racismo sistêmico. Incêndios florestais instauraram o caos em todo o oeste da América do Norte, incluindo cinco dos seis maiores incêndios na Califórnia desde 1932, e furacões devastaram cidades costeiras, foram tantos que os cientistas até ficaram sem nomes para as tempestades. Já nos últimos meses de 2020, as manchetes foram dominadas por uma eleição historicamente polêmica.

No entanto, em meio a esses eventos de destaque, estava uma série de descobertas científicas que passaram despercebidas. À medida que 2020 chega ao fim, analisamos 10 acontecimentos significativos que você pode ter perdido.

Explosões de poeira estelar, semelhantes à Nebulosa do Ovo mostrada acima, são uma possível origem dos enormes grãos milenares encontrados em meteoritos.

Image by NASA, W. Sparks STScI and R. Sahai JPL

Esta imagem de microscópio eletrônico de varredura mostra um dos grãos datados nesse estudo. O grão tem aproximadamente oito micrômetros de diâmetro no máximo — menor do que a largura de um cabelo humano.

Image by Heck Et Al. Pnas 2020

O material mais antigo encontrado na Terra antecede a existência do nosso sistema solar

Bilhões de anos antes do surgimento do nosso sol, uma estrela prestes a desaparecer lançou poeira no espaço. Agora, parte dessa poeira estelar, presa em um meteorito que colidiu com a Terra, foi datada como o material mais antigo já encontrado em nosso planeta. A poeira aglutinou-se com outras rochas dentro do que se tornaria o meteorito Murchison, que iluminou os céus da Austrália em setembro de 1969 ao chegar à superfície do nosso planeta.

Uma nova análise dessas antigas rochas encontrou grãos de poeira estelar com 4,6 a 7 bilhões de anos, aproximadamente. Os cientistas estimam que essas partículas de poeira primordiais se ocultam apenas em cerca de 5% dos meteoritos, mas isso não os desanimou e continuaram a busca por essas pistas históricas de nossa galáxia.

Uma ilustração mostra a possível aparência dos filhotes do Tiranossauro rex. Os fósseis embrionários recém-descritos não eram de T. rex, mas de uma espécie antepassada de tiranossauro relacionado que ainda não foi identificada.

Foto de Illustration by Julius Csotonyi

Descoberta dos primeiros embriões de tiranossauro

Pesquisadores identificaram os restos mortais de tiranossauros tão jovens que ainda não haviam deixado por completo as cascas de seus ovos. A descoberta vem de dois sítios arqueológicos diferentes — uma garra da pata desenterrada em 2018 na Formação Horseshoe Canyon em Alberta, no Canadá, e um maxilar inferior recuperado em 1983 na Formação Two Medicine em Montana, nos Estados Unidos. A análise dos restos mortais, que têm entre 71 e 75 milhões de anos, revelou que os primeiros tiranossauros eram surpreendentemente pequenos, medindo cerca de um metro de comprimento — aproximadamente do tamanho de um chihuahua, porém com uma cauda bem comprida. Esse comprimento é apenas cerca de um décimo de suas espécies adultas e pode ajudar a explicar por que os pesquisadores ainda não encontraram outros exemplares desses minúsculos tiranos — a maioria dos cientistas simplesmente não procurava por um predador tão pequeno.

Impressão artística do módulo de aterrissagem InSight em Marte. A missão InSight, que é a sigla em inglês para Exploração Interna utilizando Investigações Sísmicas, Geodésicas e Transporte de Calor, foi desenvolvida para detectar atividade tectônica e impactos de meteoritos, além de estudar o fluxo de calor do planeta e rastrear a oscilação de Marte ao orbitar o sol.

Foto de Illustration by NASA/JPL-Caltech

Marte está zumbindo, e os cientistas não sabem exatamente o motivo

Em novembro de 2018, uma nave espacial pousou na superfície gélida e empoeirada de Marte para examinar o planeta. Conhecido como módulo de aterrissagem InSight, o robô geólogo recentemente transmitiu algumas de suas primeiras constatações à Terra, deixando cientistas eufóricos e perplexos em todo o mundo. Entre essas curiosidades está um ruído marciano — um zumbido sereno e constante que parece pulsar ao som dos “martemotos” que sacodem o planeta.

A origem do zumbido ainda é desconhecida. A Terra tem muitas dessas vibrações em segundo plano, desde o rugido dos ventos até o bater das ondas na costa. Mas a música de Marte reverbera em um tom mais alto do que a maioria dos zumbidos naturais da Terra. Talvez a geologia abaixo do módulo de aterrissagem amplifique um tom em particular, ou ele próprio pode estar gerando o ruído. “É extremamente intrigante”, afirmou Bruce Banerdt, principal investigador da missão InSight, à National Geographic em fevereiro.

Esta imagem de Betelgeuse, uma das estrelas mais brilhantes do céu, é uma composição colorida formada a partir de fotografias obtidas como parte do Digitized Sky Survey 2 (Levantamento Digitalizado do Céu 2).

Foto de Composite Image by ESO/Digitized Sky Survey 2. Acknowledgment: Davide De Martin

O mistério do estranho comportamento da estrela Betelgeuse foi finalmente resolvido

Betelgeuse está geralmente entre as estrelas mais brilhantes do céu, mas em dezembro de 2019, seu brilho intenso se atenuou misteriosamente. A mudança drástica causou alvoroço entre os cientistas: talvez Betelgeuse estivesse no fim de sua vida e pudesse explodir em uma supernova mais brilhante que a lua cheia. Ainda em agosto deste ano, a Nasa anunciou uma explicação muito menos extraordinária para seu aspecto repentinamente sombreado: a estrela havia arrotado.

As observações realizadas pelo Telescópio Espacial Hubble revelaram que a estrela provavelmente enviou um jato superquente de plasma que resfriou à medida que avançava. O processo formou uma nuvem de poeira estelar que pode ter bloqueado a luz de Betelgeuse dos ávidos observadores terrestres. A estrela recuperou seu brilho normal no primeiro semestre — portanto, ainda não foi dessa vez que os observadores do céu puderam presenciar sua morte flamejante.

Há cerca de 110 milhões de anos, onde hoje é o noroeste de Alberta, o nodossauro Borealopelta markmitchelli comia samambaias em uma paisagem recém-queimada — de acordo com uma nova análise detalhada de seu conteúdo estomacal.

Foto de Illustration by Julius Csotonyi

Detalhes impressionantes da última refeição de um dinossauro encouraçado

A metade frontal brilhantemente preservada de um dinossauro encouraçado de 110 milhões de anos — placas ósseas, escamas e todo o resto — surpreendeu e encantou os cientistas depois que foi acidentalmente descoberto em 2011 por um operador de equipamentos pesados que trabalhava em uma mina de areias betuminosas em Alberta. Mas este ano, a criatura escamosa causou ainda mais empolgação quando uma análise revelou que a última refeição do animal tmbém ficou preservada em seu estômago.

O dinossauro era um nodossauro, um tipo de anquilossauro, mas sem o rabo torto característico de alguns de seus primos. O bolo de vegetação fossilizada no estômago do nodossauro revelou que algumas horas antes de sua morte, ele havia comido principalmente um tipo específico de samambaia selecionada a partir de uma variedade de plantas disponíveis. Anéis de galhos lenhosos ingeridos junto com as samambaias revelaram que o nodossauro provavelmente morreu durante o verão. Embora seja apenas uma refeição, a constatação fornece uma visão excepcional das últimas horas de vida de uma criatura há mais de cem milhões de anos.

Um trabalhador de saúde carrega Kakule Kavendivwa, 14 anos, para uma ambulância em Beni no ano passado. No dia anterior, as irmãs de Kakule o levaram a um centro de saúde próximo, mas fugiram quando a equipe as incentivou a levá-lo a um centro de tratamento. O posto de saúde alertou a Organização Mundial de Saúde, que encontrou a família. Depois de várias horas conversando com agentes comunitários, elas autorizaram que uma ambulância o levasse para tratamento.

Foto de Nichole Sobecki

O segundo maior surto de ebola finalmente chegou ao fim

Em 25 de junho, a Organização Mundial da Saúde declarou o fim do segundo maior surto de ebola, que infectou mais de 3,4 mil e matou aproximadamente 2,3 mil pessoas. Conhecido como surto de Kivu, a eventualidade começou em agosto de 2018 com um grupo de casos perto de Kivu, no leste da República Democrática do Congo. O ebola causa uma febre hemorrágica marcada por uma série de sintomas, incluindo sangramento, febre, dores de estômago, fraqueza e erupções na pele — e sua disseminação ocorre por contato direto com uma pessoa infectada ou pelo sangue ou fluidos corporais de animais. A contenção da doença em Kivu foi particularmente difícil devido à agitação local, o que gerou suspeitas sobre os esforços de qualquer governo ou organização internacional para frear a disseminação da doença. No entanto, munidos com uma nova vacina, os profissionais de saúde, liderados por Michael Yao, da OMS, lançaram uma campanha para vacinar qualquer pessoa que possa ter sido exposta. Ao melhorar também o envolvimento da comunidade, esse esforço levou à vacinação de mais de 300 mil pessoas.

“Devemos comemorar esse momento e resistir à complacência”, afirmou o Diretor-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em um comunicado à imprensa sobre o fim do surto. “Os vírus não tiram folga.” Outro surto (agora contido) ocorreu no início de junho próximo à província de Équateur da RDC.

Fragmentos de crânio de um indivíduo Homo erectus foram descobertos na África do Sul — a primeira vez que a espécie foi encontrada na região.

Foto de Reprinted with permission from Herries et al., Science 368:47 2020

Encontrado o mais antigo crânio de Homo erectus 

Extraídas de rochas a noroeste de Joanesburgo, na África do Sul, as partes do crânio inicialmente pareciam ter vindo de um antigo babuíno. Mas quando Jesse Martin e Angeline Leece, ambos alunos da Universidade La Trobe, na Austrália, juntaram as peças, perceberam que estavam diante da primeira caixa craniana de Homo erectus já encontrado na África do Sul. Além disso, datado de cerca de dois milhões de anos, o crânio marca os primeiros vestígios desse ancestral humano. “Acho que nossos supervisores não acreditaram até testemunharem com seus próprios olhos”, contou Martin à National Geographic no primeiro semestre. A descoberta ajuda os pesquisadores a continuar decifrando nossa complexa árvore genealógica, descobrindo quando e onde surgiu o primeiro de nossos parentes primitivos.

Reconstrução do local de nidificação do Hypacrosaurus stebingeri na formação Two Medicine em Montana. No centro, um filhote de Hypacrosaurus sem vida está com a parte de trás do crânio submersa em águas rasas. Um dinossauro adulto enlutado é retratado à direita.

Foto de Illustration by Michael Rothman

Pistas sobre o primeiro DNA de dinossauro

Em Jurassic Park, isolar o DNA de um dinossauro é tão simples quanto extrair sangue de um mosquito pré-histórico envolto em âmbar. Embora ainda estejamos longe de tornar realidade essa cena de ficção científica, os pesquisadores deram um grande salto no estudo do DNA fossilizado. Enquanto estudava fósseis bem preservados com mais de 70 milhões de anos, uma equipe identificou os contornos das células, formas que podem ser cromossomos e inúmeros núcleos possíveis — as estruturas que abrigam o DNA. Eles não extraíram o DNA das células fósseis, portanto, ainda não é possível confirmar se o material é DNA inalterado ou outro derivado genético. Mas é uma visão interessante dos detalhes mais sutis que a fossilização é capaz de preservar. “As possibilidades são absolutamente incríveis”, declarou David Evans, paleontólogo do Museu Real de Ontário que não participou do estudo, à National Geographic em março.

Cientistas comparam anotações sobre a estratigrafia da Caverna Chiquihuite, na preparação para coleta de amostras de vestígios de DNA de plantas e animais dos sedimentos.

Foto de Devlin Gandy

Descobertas surpreendentes em caverna podem alterar a data de início da presença humana nas Américas

Objetos de pedra recuperados das profundezas da Caverna Chiquihuite, no México, sugerem que os humanos podem ter chegado às Américas há 30 mil anos — aproximadamente o dobro da maioria das estimativas atuais de chegada. Essa data é muito debatida entre os arqueólogos, sendo que muitos inicialmente colocam a primeira presença humana nas Américas por volta de 13,5 mil anos atrás, conforme os mantos de gelo recuavam e as rotas de migração da Ásia se abriam. Porém, evidências recentes indicam que a data de chegada dos humanos foi milhares de anos antes. E a nova análise de artefatos de pedra, incluindo lâminas, pontas de projéteis e pedaços de rocha, intercalados com pedaços de carvão datados de cerca de 30 mil anos, sugere que os humanos provavelmente chegaram às Américas antes do derretimento das geleiras.

O estudo da caverna sugere que ela pode ter servido como abrigo há milhares de anos, já que a região provavelmente era muito mais fria, úmida e verde do que é na atualidade. No entanto nenhum vestígio humano foi encontrado, e o novo estudo está gerando controvérsia entre os cientistas. “A principal contribuição da Chiquihuite é trazer outra luz minúscula, outro sinal pequenino, de que existe algo lá”, afirmou o autor principal do artigo e arqueólogo da Universidade Autônoma de Zacatecas, Ciprian Ardelean, à National Geographic em julho.

A torre de coral recém-descoberta, com mais de 500 metros de altura, se soma aos outros sete recifes chamados de “recifes destacados” no norte da Grande Barreira de Corais.

Foto de Schmidt Ocean Institute

Um recife mais alto do que o Empire State Building

Uma equipe de cientistas australianos a bordo do navio de pesquisa Falkor do Schmidt Ocean Institute mapeava o fundo do mar da Grande Barreira de Corais ao norte quando se deparou com um arranha-céu imponente de coral com mais de 500 metros de altura — o primeiro desse tipo descoberto em mais de 120 anos. Conhecido como “recife destacado”, a recém-descoberta torre de coral é uma das oito agora conhecidas na região. Essas estruturas naturais fornecem habitats vitais para criaturas como tartarugas e tubarões, que entram e saem das águas profundas adjacentes à Grande Barreira de Corais. A equipe mapeou o recife destacado, encontrando uma variedade de formas de vida prosperando no ecossistema. Também coletaram amostras de rochas, sedimentos e alguns organismos que serão enviados a laboratórios para análise.

Embora provavelmente surjam mais detalhes sobre esse recife, os taxonomistas que estudam as imagens e os vídeos já identificaram inúmeras novas espécies de peixes. Wendy Schmidt, cofundadora do Schmidt Ocean Institute, declarou em um comunicado à imprensa que a descoberta faz parte de uma revolução na ciência marinha: “utilizando novas tecnologias que funcionam como nossos olhos, ouvidos e mãos nas profundezas do oceano, conseguimos explorar como nunca antes.”

loading

Descubra Nat Geo

  • Animais
  • Meio ambiente
  • História
  • Ciência
  • Viagem
  • Fotografia
  • Espaço
  • Vídeo

Sobre nós

Inscrição

  • Assine a newsletter
  • Disney+

Siga-nos

Copyright © 1996-2015 National Geographic Society. Copyright © 2015-2024 National Geographic Partners, LLC. Todos os direitos reservados