Os dinossauros ainda vivem entre nós?
Ainda hoje convivemos com animais que evoluíram a partir de um grupo de dinossauros com penas que sobreviveu ao impacto de um asteroide há 66 milhões de anos.
Todas as aves são parentes próximos de um grupo de dinossauros com penas dos quais evoluíram ao longo do tempo: os terópodes.
Mesmo nas maiores cidades do mundo, dinossauros continuam a espreitar em busca de uma presa. Às vezes, no entanto, essas presas são restos de salgadinho que alguém deixou cair no chão. Pombos, sabiás, bem-te-vis e socós não inspiram nem de longe o mesmo assombro de um tiranossauro ou velociraptor. Mas poderiam dar essa carteirada – aves, afinal, são dinossauros.
“Dentro de um grupo de dinossauros bípedes, os terópodes, surgiu o grupo que deu origem às aves”, diz Taissa Rodrigues, coordenadora do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). “Então, se a gente for olhar, as aves são um grupo superespecializado de dinossauros que existe até hoje.”
A dica para entender esse parentesco é bem fácil: penas.
Quando Charles Darwin lançou A Origem das Espécies, em 1859, previu que logo começariam a aparecer fósseis com características intermediárias que mostrariam a evolução de determinados grupos. Nos anos seguintes, na Alemanha, vários pesquisadores encontraram restos de um animal que foi chamado de Archaeopteryx lithographica, o arqueoptérix. Além de cauda comprida e dentes reptilianos, ele também tinha penas.
“Era como a previsão do Darwin: lembrava um dinossauro, com várias características semelhantes, mas tinha pena comprida, era possível ver o formato dela”, explica Taissa. “Aí começaram a surgir as primeiras evidências de que existiram dinossauros com penas.”
A professora da Ufes conta que, com o tempo e a descoberta de novos fósseis, os paleontólogos têm hoje acesso a um banco de dados enorme, e análises dessas informações mostram que as penas surgiram razoavelmente cedo no grupo dos terópodes. Os terópodes são bípedes e, em sua maioria, carnívoros. Fazem parte do grupo alguns dos dinossauros mais famosos, como o tiranossauro, velociraptor e espinossauro.
Nenhum deles, no entanto, voa, ao contrário dos pteranodontes, um grupo de répteis voadores parente dos dinossauros. “Isso é uma convergência evolutiva. Na prática, significa que os animais evoluíram estratégias diferentes para a mesma função”, conta Taissa, que trabalha com taxonomia dessa antiga família de bichos voadores.
Em outras palavras, para voar, os pteranodontes seguiram um caminho evolutivo muito diferente das aves, insetos ou morcegos.
“Hoje, para entender a evolução, a gente procura novidades. E, no caso do dinossauro, a novidade é o surgimento da pena”, afirma Taissa. “Como surgiu apenas uma vez, todo mundo que tem é parente. E parente próximo.”
Talvez seja hora de olhar com um pouco mais de respeito para os passarinhos da cidade.
#PossoExplicar é o primeiro talk show de ciência do Brasil, apresentado por Miá Mello. Assista todas as quartas, às 21h, no National Geographic.