Vacina contra a Covid-19: Devo tomar outra dose de reforço ou esperar uma atualização?

Novas variantes da Ômicron estão levando fabricantes de vacinas a ajustar suas fórmulas. Especialistas ponderam sobre quem precisa de doses de reforço adicionais e se é melhor aguardar pelas doses atualizadas previstas para outubro.

Por Tara Haelle
Publicado 8 de jul. de 2022, 17:39 BRT
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Norte-americano recebe dose de reforço contra a covid-19 em clínica de vacinação.

Foto de Hannah Beier Bloomberg, Getty Images

Os casos sintomáticos de Covid-19 continuam aumentando nos Estados Unidos à medida que novas subvariantes da Ômicron capazes de evadir o sistema imune passam a ser predominantes. A preocupação de especialistas é que a proteção das vacinas atuais contra infecções causadas pela Ômicron e casos graves diminua com o envelhecimento da população. É por esse motivo que são recomendadas as doses de reforço.

As doses de reforço existentes já se revelaram eficazes. Reduziram significativamente casos graves da doença causados pela variante Ômicron BA.1, que assolou os Estados Unidos na metade do ano passado. Agora ajudam a atenuar a gravidade dos casos da doença devidos às novas subvariantes BA.4 e BA.5 – embora em menor grau, de acordo com dados divulgados em uma reunião do comitê independente da Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (“FDA”, na sigla em inglês), realizada em 28 de junho.

Essa conclusão fez com que esse comitê votasse pela inclusão de componentes vacinais com efeito protetor contra variantes da Ômicron no desenvolvimento de doses de reforço atualizadas previstas para outubro. Seguindo as recomendações do comitê, a FDA passou a orientar formalmente fabricantes de imunizantes que as doses de reforço atualizadas devem conter componentes específicos contra a BA.4 e a BA.5, de acordo com Peter Marks, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica da FDA.

É reconhecidamente confuso quando novas recomendações são publicadas em intervalos de poucos meses, mas o motivo disso é que os conhecimentos científicos sobre o vírus avançam em tempo real à medida que novas descobertas são publicadas. “É como tentar alcançar constantemente algo em movimento o tempo todo”, ilustra Kawsar Talaat, professora associada de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg.

Então, quais são as repercussões de tudo isso para a proteção contra casos graves de covid-19 na atualidade? É necessária uma segunda dose de reforço? É melhor aguardar pelas novas doses de reforço previstas para outubro? E se surgir uma nova variante antes? Veja o que é necessário saber, segundo os maiores especialistas.

Quem pode tomar uma segunda dose de reforço?

Em março de 2022, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (“CDC”, na sigla em inglês) começaram a recomendar que maiores de 50 anos recebessem uma segunda dose de reforço de uma vacina de RNAm (Pfizer ou Moderna) se a dose de reforço anterior houvesse sido aplicada a pelo menos quatro meses. O objetivo é oferecer proteção adicional, pois, quanto mais a população envelhece, mais rápido os níveis de anticorpos tendem a diminuir, aumentando a probabilidade de casos graves e de internação hospitalar em decorrência da covid-19 até mesmo após a vacinação.

Os CDC também recomendaram a segunda dose de reforço a maiores de 12 anos com alguns quadros clínicos que comprometem a função de seus sistemas imunes. Esse grupo inclui pacientes transplantados, portadores de HIV não tratado ou avançado, pacientes em tratamento de câncer hematológico e pessoas acometidas com doenças específicas de imunodeficiência ou que estejam tomando medicações imunossupressoras, como esteroides.

Nos Estados Unidos, para aqueles com 50 anos ou mais, uma segunda dose de reforço significa a quarta dose da vacina contra a covid-19; para imunossuprimidos, a segunda dose de reforço corresponde à quinta dose, já que a recomendação geral para pessoas com sistema imune comprometido atualmente é de três doses.

A vacina da Johnson & Johnson é a única vacina sem RNAm aprovada nos Estados Unidos. As pessoas que tomaram dose única dela e depois receberam uma dose de reforço do mesmo fabricante ao menos quatro meses antes também foram aconselhadas a tomar uma dose de reforço de uma vacina de RNAm.

Limitações para a dose de reforço

Apesar da definição do público-alvo da segunda dose de reforço pelos CDC, especialistas sugerem que pode haver flexibilidade com a idade e as diretrizes médicas. Algumas pessoas que atendem aos critérios podem decidir que ainda não necessitam de uma segunda dose de reforço, ao passo que outras que não estejam tecnicamente incluídas nas recomendações podem recebê-las.

“Em caso de enfermidade grave pré-existente, como doença cardíaca, pulmonar, diabetes e outras, é necessária uma avaliação”, afirma William Schaffner, professor de medicina preventiva e doenças infecciosas da Universidade Vanderbilt, no Tennessee, Estados Unidos. Recomenda-se que menores de 50 anos com essas doenças conversem com um médico sobre a imunização com uma dose de reforço adicional, prossegue Schaffner. A mesma recomendação vale para profissões de alto risco de contaminação ou pessoas que vivem nessa situação.

Além disso, nem todos os especialistas concordam que doses de reforço são necessárias quando as pessoas passam de 50 anos.

“Acredito que não faça sentido essa noção geral de que todos os maiores de 50 anos devam receber essa inoculação”, afirma Paul Offit, professor de pediatria da Divisão de Doenças Infecciosas do Hospital Infantil da Filadélfia, nos Estados Unidos, e um dos dois membros do comitê consultivo da FDA que votaram contra a inclusão de componentes contra a Ômicron nas doses de reforço de outubro.

Faz mais sentido para maiores de 70 anos porque seus sistemas imunes menos vigorosos não são tão eficazes em impedir que uma infecção leve progrida para moderada ou grave, explica Offit. Mas embora ele mesmo esteja com 71 anos, Offit tomou apenas uma dose de reforço. Ele acredita que a única dose extra, além do fato de ter tido uma infecção natural recente por covid-19, ofereça a máxima proteção possível, já que os níveis de anticorpos caem abruptamente após receber as doses de reforço adicionais.

Adultos com mais de 50 anos que já foram acometidos com uma infecção por Ômicron nos últimos seis meses já contam com imunidade maior contra o contágio do que obteriam com outra dose de reforço, segundo dados apresentados na reunião do comitê, em 28 de junho.

Dose de reforço agora ou aguardar até outubro?

Por outro lado, Talaat, da Universidade Johns Hopkins, orienta tomar a dose de reforço agora se estiver entre o público-alvo dessa imunização. “Não espere por uma vacina melhor, pois ficará vulnerável”, ressalta Talaat. “Tome as doses de reforços recomendáveis a seu grupo-alvo agora e depois terá oportunidade de tomar outra dose de reforço que ofereça proteção mais ampla em outubro.”

Segundo Talaat, se não possuir risco maior devido à idade ou doença pré-existente, entretanto, não há necessidade de se precipitar e é possível aguardar pela chegada das doses de reforço atualizadas, previstas para outubro. “Se tiver menos de 50 anos, não possuir nenhum fator de risco para doença grave, não for moderado ou gravemente imunossuprimido, se for uma pessoa saudável e já houver tomado a dose inicial de reforço, acredito que seja melhor aguardar,” recomenda Talaat.

Outra razão para esperar é que o risco real de exposição pode ser maior em outubro, observa Offit. Nos Estados Unidos, o início das aulas ocorre neste mês, quando as pessoas passam mais tempo em locais fechados devido à chegada do outono, o que eleva o risco de exposição e contágio. A imunidade adicional obtida com a segunda dose é passageira – diminui dentro de um ou dois meses – então é melhor tomá-la no período de maior necessidade, comenta o especialista.

Uma preocupação persistente, entretanto, é que é cedo demais para determinar a futura eficácia das doses de reforço contra quaisquer versões do vírus que estiverem em circulação quando forem disponibilizadas.

Foi demonstrado um aumento de 1,75 vez nos anticorpos capazes de neutralizar a Ômicron BA.1 após a aplicação da dose de reforço com um componente contra esta variante. Mas a BA.1 não está mais em circulação nos Estados Unidos, e dados divulgados pela FDA revelaram que essas doses de reforço contra a Ômicron quase não fizeram diferença contra contágios pela BA.4 e pela BA.5.

Será necessária uma imunização anual?

Atualmente, não é possível desenvolver uma dose de reforço “à prova de variantes” porque o vírus está em evolução de forma acelerada, explica Talaat. Em vez de uma dose assim, a maioria dos especialistas, incluindo Talaat e Schaffner, acredita que as doses de reforço contra a Covid-19 acabem se transformando em uma imunização anual, como a vacina contra a gripe comum.

“Atualizamos essa vacina anualmente e recomendamos a todos a vacina anual contra a gripe comum, o que proporciona a melhor proteção possível, ainda que não seja 100%”, afirma Schaffner. Ele acrescenta que cientistas estão desenvolvendo um imunizante que alia a vacina anual contra a gripe comum com uma vacina anual contra a covid-19, mas esse lançamento demorará ao menos um ano ou mais para se tornar realidade.

Para imunossuprimidos e pessoas do grupo de risco com mais motivos para se preocupar, Talaat lembra que o Evusheld – um medicamento de anticorpo monoclonal utilizado na prevenção da Covid-19 – está amplamente disponível atualmente nos Estados Unidos e é uma boa opção àqueles aptos a receber a prescrição médica desse medicamento e que estejam preocupados que a vacinação possa não oferecer proteção suficiente.

A segunda dose de reforço reduzirá os riscos de sintomas persistentes?

Diversos estudos recentes apresentam resultados conflitantes sobre a eficácia das vacinas atuais na proteção – ou falta de proteção – contra a “covid prolongada”. Um dos motivos da confusão é a falta de consenso sobre uma definição clara do fenômeno.

Alguns estudos demonstram que as vacinas reduzem substancialmente o risco de covid longa, ao passo que outros revelam um impacto mais modesto. Até que pesquisadores determinem, de comum acordo, um conjunto taxativo de critérios que defina a covid prolongada, será difícil obter respostas categóricas. Contudo, ainda que não seja possível quantificar seus efeitos, especialistas afirmam que a vacinação provavelmente oferece alguma proteção.

“Está evidente que casos graves da doença tornam os pacientes mais propensos a desenvolverem covid longa do que casos mais leves”, afirma Offit. “Se estiver com a vacinação completa, acredito que seja muito menos provável ter covid prolongada pelo fato de ser muito menos provável ter um caso grave da doença”.

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