Após Amsterdã, qual será a nova capital do turismo de cannabis?

Países como a Tailândia e a África do Sul estão lentamente se abrindo para o turismo da maconha, um setor multibilionário. Mas outros querem evitar os problemas de Amsterdã.

Por Ronan O’Connell
Publicado 8 de set. de 2023, 10:00 BRT
The Bulldog, uma “cafeteria” de cannabis, abriu em Amsterdã em 1975, um ano antes de a ...

The Bulldog, uma “cafeteria” de cannabis, abriu em Amsterdã em 1975, um ano antes de a capital holandesa descriminalizar a cannabis. Novas regras buscam coibir o tabagismo na área turística central da cidade.

Foto de Chun Ju Wu Alamy

Amsterdã dominou o turismo de cannabis por 40 anos, mas agora está se afastando desse setor multibilionário, criando oportunidades para destinos emergentes de maconha na Ásia, África e Américas. Novas regras na área turística central da cidade holandesa limitam a venda de bebidas alcoólicas, exigem que os bares fechem mais cedo e impõem uma multa de 100 euros para quem fumar maconha em público.

A prefeita de Amsterdã, Femke Halsema, disse à mídia que o turismo da maconha é uma praga para a cidade, fomentando o crime e a desordem pública, e propôs a proibição da entrada de estrangeiros em seus cafés de maconha. Desde que a Holanda descriminalizou a maconha em 1976, o país tem sido um destino obrigatório para os entusiastas da erva.

Especialistas em turismo dizem que as novas políticas de Amsterdã podem alterar o setor global de turismo de cannabis, recentemente estimado pela Forbes em 17 bilhões de dólares por ano. Tailândia, África do Sul, Uruguai, Jamaica, Malta, México, Canadá e Estados Unidos flexibilizaram suas leis sobre a maconha, o que poderia atrair cada vez mais turistas, segundo a previsão dos especialistas. A Alemanha também pode entrar nessa equação, pois em breve legalizará a maconha.

Próxima capital do turismo de cannabis

Liderando o grupo de possíveis sucessores de Amsterdã está a Tailândia. Conhecida há muito tempo pelas rígidas leis sobre drogas, a nação asiática legalizou o uso da maconha no ano passado. O país está se tornando rapidamente um importante destino para a cannabis, diz Michael O'Regan, professor de turismo da Caledonian University, da Escócia.

"A Tailândia é um ambiente livre no momento, com pouquíssimas restrições ao consumo por parte dos turistas", comenta O'Regan, especialista em turismo de maconha. "O país está atraindo turistas de maconha de toda a região asiática e pode atrair cada vez mais europeus."

Os turistas são os principais clientes das lojas de maconha da Tailândia, diz Mendel Menachem, porta-voz da High Thailand, um site que cataloga locais que vendem a erva. Os populares destinos tailandeses, Bangkok, Phuket, Koh Samui e Chiang Mai, têm muitas lojas onde os turistas podem comprar a droga livremente.

Mais de um milhão de residentes tailandeses se registraram para cultivar cannabis legalmente, informa Pipatpong Fakfare, professor assistente de turismo na Universidade de Bangkok. Mas ele adverte que as leis sobre a maconha na Tailândia são complicadas. Os produtos legais de cannabis não podem conter mais de 0,2% de THC.

Esse é um nível muito baixo para a maconha recreativa. Lojas da Califórnia vendem maconha com 35% de THC. "Acho que precisamos de uma diretriz e regulamentação firmes sobre onde e como a maconha deve ser vendida ou distribuída aqui antes que a Tailândia possa se tornar uma capital da maconha", acredita Fakfare.

Em comparação, é improvável que a Alemanha adote o turismo de cannabis se legalizar a droga, diz Julius Arnegger, do Instituto Alemão de Pesquisa de Turismo. "Os políticos a favor da liberalização da cannabis fazem questão de explicar que não haverá turismo de cannabis como resultado da nova lei [proposta]", enfatiza Arnegger.

"Eles apontam explicitamente para a Holanda como um modelo a ser evitado. De acordo com a nova lei, a cannabis só estará disponível para compra em quantidades limitadas e para consumo próprio por pessoas registradas nos chamados clubes de cannabis, o que dificultará a compra por turistas internacionais."

Nenhum destino europeu se apressará em se tornar a próxima Amsterdã, prevê O'Regan. "Não creio que nenhuma cidade queira repetir a mesma experiência e ter turistas voando de vários lugares para consumir drogas", diz ele. "Barcelona estava usando um modelo de boate semelhante [como a Alemanha propôs], e muitas boates estavam abertas aos turistas. No entanto, isso levou a uma proliferação de clubes e recrutadores que abordavam os turistas para participar desses clubes. Isso levou a uma recente repressão em Barcelona a todos os clubes."

Enquanto isso, um cenário de turismo de cannabis menos conhecido está se desenvolvendo na África. A África do Sul, por exemplo, descriminalizou o uso de cannabis em espaços privados em 2018.

"O turismo de cannabis da África do Sul está pronto para ser um importante segmento de turismo de nicho para o país", diz Tafadzwa Matiza, professor de turismo da North-West University. Ele diz que a venda de tecidos, roupas e produtos alimentícios à base de cânhamo pode criar mais oportunidades econômicas. A África do Sul também tem um número cada vez maior de passeios com o foco em maconha e locais de "bud and breakfast", que oferecem tanto acomodação quanto cannabis legal.

O turismo da cannabis nas Américas também está se expandindo, destaca John Lipford, professor de turismo da Grand Valley State University, EUA. Seu estado natal, Michigan, que tem a meta de ultrapassar 3 bilhões de dólares em vendas de cannabis este ano, tem uma variedade de acomodações, restaurantes e festivais com temas relacionados à maconha.

O mesmo acontece com o Canadá e os estados norte-americanos do Colorado, Califórnia, Oregon e Washington. No futuro, diz Lipford, o turismo de cannabis pode crescer na Costa Rica, Panamá, Argentina, Brasil, Colômbia, Equador e Peru – todos os países que flexibilizaram suas leis sobre a maconha nos últimos anos.

Pesquisando sobre o turismo de cannabis

Lipford adverte os turistas que gostam de maconha a pesquisarem as lojas onde podem comprar maconha com segurança. Descubra se é permitido fumar em público, a potência dos produtos de cannabis oferecidos e esclareça dúvidas sobre o uso medicinal e o recreativo. "Isso faz toda a diferença entre ter férias agradáveis ou ser potencialmente preso no exterior", aconselha.

O comportamento desrespeitoso dos turistas talvez seja a maior ameaça ao futuro do turismo da maconha, acredita Lipford. "Não é sensato que os turistas que consomem cannabis acreditem que estão em algum tipo de lugar protegido, onde as regras não se aplicam a eles, ou que estarão seguros durante sua experiência", acrescenta.

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