
7 de setembro: quem foi D. Pedro 1º? Os 4 fatos sobre o português que declarou a Independência do Brasil
Acima, um retrato de D. Pedro 1º do Brasil com roupas militares feito por Simplício Rodrigues de Sá em 1830 e que pertence ao Museu Imperial, que fica em Petrópolis, Rio de Janeiro.
Coube a um português promulgar a Independência do Brasil para separar o território de… Portugal. A história brasileira é suigeneris e única dentro do cenário sul-americano. Afinal, foi o único país que ao deixar de ser uma colônia europeia não se tornou diretamente uma República e, sim, um Império, justamente pelas mãos do herdeiro do trono português – Pedro de Alcântara.
A Independência do Brasil foi proclamada no dia 7 de setembro de 1822, em um momento no qual a maioria dos países sul-americanos já não eram mais colônias. Foi o então príncipe regente Pedro de Alcântara que deu o famoso “Grito do Ipiranga” e marcou a separação política do Brasil de Portugal.
Mas quem foi o português que se tornou o primeiro Imperador do Brasil? Personagem complexo e polêmico, Pedro coleciona episódios marcantes como poucos na história política nacional. A National Geographic Brasil apresenta a trajetória de Pedro, um homem que nasceu e morreu em Portugal, foi aclamado no Brasil e adorava música.
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Pedro Alcântara (Príncipe Regente português que se tornou o primeiro Imperador do Brasil) retratado em um quadro do pintor paulista Benedito Calixto.
1. Dom Pedro 1º: da infância em Portugal à regência no Brasil
Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Ciriano Serafim de Bragança e Bourbon – sim, este é o enorme nome de batismo do futuro imperador do Brasil – nasceu em 12 de outubro de 1798 em Queluz, Portugal. Era filho do Rei D. João 6º com a rainha consorte Carlota Joaquina de Bourbon, como conta o site do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Quando Pedro tinha apenas nove anos de idade, o líder francês Napoleão Bonaparte conquistou Portugal em 1807. No mesmo ano, ele foi com a família real portuguesa em sua fuga para o Brasil, chegando em janeiro de 1808 a Salvador, na Bahia.
Na época, o Brasil era a principal colônia de Portugal, como informa a Encyclopædia Britannica (plataforma de conhecimento do Reino Unido). A corte portuguesa ficou em terras brasileiras de 1808 até 1821, transformando as relações coloniais e impulsionando o desenvolvimento de várias cidades, especialmente do Rio de Janeiro – que se tornou “a casa” da família real.

Quadro de Jean-Baptiste Debret que retrata o desembarque de D. Leopoldina no Brasil, para se tornar esposa do então Príncipe Regente, Pedro Alcântara. A obra pertence ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Ainda na adolescência, Pedro se interessou por música e aprendeu a tocar vários instrumentos, como relata o escritor Paulo Rezzutti no seu livro “D. Pedro – A história não contada” (Ed. Leya).
Aos 19 anos, em abril de 1817, Pedro se casou com Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena (que no Brasil passou a ser chamada de Maria Leopoldina), que era uma arquiduquesa austríaca, indica a Britannica. Ao mesmo tempo, já era atribuído ao jovem príncipe alguns relatos de amantes, como relata a historiadora Isabel Lustosa no livro “D. Pedro I – Um herói sem nenhum caráter” (Ed. Cia das Letras).
Em 1821, a família real portuguesa decide retornar à Portugal; porém o rei D. João 6º resolve deixar Pedro no Brasil para assumir a liderança política local como Príncipe Regente, segundo a Britannica.
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No quadro de Oscar Pereira da Silva, é possível observar o então Príncipe Regente Pedro com o ministro José Bonifácio ao seu lado enquanto expulsa o oficial português Jorge Avilez (à esquerda) para Portugal após sua rebelião fracassada. Atualmente, o quadro pertence ao acervo do Museu do Ipiranga, em São Paulo (SP).
2. “Dia do Fico” e a proclamação da Independência: como Dom Pedro se tornou o primeiro imperador
Próximo da proclamação da independência, o príncipe regente Pedro enfrentava uma situação política difícil como governante. Estava crescendo o antagonismo entre portugueses e brasileiros, e vários grupos favoráveis à separação do Brasil de Portugal e da instituição da República ganhavam influência em diversas cidades da colônia, seguindo o exemplo de países vizinhos sul-americanos que se tornavam independentes, virando repúblicas, como conta a fonte inglesa.
Em meio a tensões e pressões, o parlamento português ordenou que Pedro retornasse à Europa, ao que ele respondeu dizendo que iria ficar no Brasil. Essa data ficou conhecida como o “Dia do Fico” e ocorreu em 9 de janeiro de 1822.
Pedro queria conciliar as diferentes frentes políticas, mas a situação estava insustentável. E graças a uma articulação entre o ministro José Bonifácio de Andrada e Silva e a princesa Leopoldina, os trâmites para a efetivação da Independência do Brasil foram acelerados.
Próximo à data que viria a ser a da independência, Pedro viajou para fora do Rio de Janeiro (capital do governo) e deixou Leopoldina legalmente no comando. Enquanto isso, Bonifácio escreveu uma declaração de Independência que foi enviada pela princesa para chegar por mensageiros até Pedro em trânsito.

O quadro original "Independência ou Morte", de Pedro Américo, pode ser observado no Museu do Ipiranga, em São Paulo.
3. Como foi dado o “Grito do Ipiranga”
No dia 7 de setembro de 1822, a declaração de independência o alcançou em São Paulo, conforme detalha um artigo da Agência Brasil, órgão oficial de comunicação governamental brasileiro.
Conforme conta o escritor Laurentino Gomes em seu livro “1822” (Ed. Globo Livros), após ouvir seus conselheiros e refletir por alguns minutos, Pedro tomou a decisão. Foi então que, às margens do córrego do Ipiranga e em cima de um burro, “o regente explodiu sem titubear e gritou, diante de apenas algumas pessoas de sua comitiva: ‘É tempo! Independência ou morte! Estamos separados de Portugal’”.
Já em 12 de outubro de 1822, dia de seu aniversário, Pedro foi aclamado como o primeiro Imperador do Brasil. Só que o governo de Pedro não foi dos mais tranquilos. De acordo com a Britannica, a sua popularidade inicial diminuiu e, em 1823, quando a Assembleia Brasileira preparava uma constituição liberal, em um ato impulsivo ele dissolveu o órgão e exilou José Bonifácio (que por anos foi seu braço direito).
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Quadro de Jean-Baptiste Debret retratando o segundo casamento de D. Pedro 1º, que se uniu à princesa italiana Amélia de Leuchtenberg - obra que pertence ao acervo do Itaú Cultural.
4. Pedro enfrenta crise no Brasil e retorna à Portugal
Em 25 de março de 1824, porém, Pedro aceitou uma constituição um pouco menos liberal, redigida pelo Conselho de Estado a seu pedido e promulgou a 1ª Constituição Brasileira da história. O modo autocrático de Pedro governar e seu profundo interesse pelos assuntos portugueses antagonizaram seus súditos, assim como o fracasso das forças militares brasileiras na Guerra Cisplatina pelo território que hoje é o Uruguai – e até então pertencia ao Brasil, relata a enciclopédia inglesa.
Em 1826, a Imperatriz Leopoldina faleceu, o que piorou ainda mais a popularidade de Pedro, já que muitos brasileiros simpatizavam com a sua esposa. Pouco tempo depois, em 1829, D. Pedro 1º se casa pela segunda vez, agora com a princesa italiana Amélia de Leuchtenberg, com quem teve uma única filha.
Apesar da simpatia popular pela Imperatriz Amélia, a forte oposição no Parlamento brasileiro ao imperador e uma série de revoltas locais levaram Pedro a abdicar em 1831 em favor de seu filho Dom Pedro 2º, que tinha então apenas cinco anos de idade.
Pedro então retornou a Portugal para tentar restabelecer a ordem na Coroa Portuguesa. Isso porque anos antes, com a morte do rei João 6º, em 1826, Pedro 1º do Brasil tornou-se também o rei titular de Portugal como Pedro 4º – algo que durou apenas dois meses, pois ele abdicou do trono português em favor de sua filha Maria da Glória, que tinha só sete anos.
Em Portugal, Pedro travou uma Guerra Civil por dois anos contra o seu irmão D. Miguel, que tomou o trono de Maria, ainda criança, e foi enviada para a Áustria.
Com a vitória de Pedro, D. Miguel foi expulso e ele assumiu como regente até a coroação da filha, que se torna rainha Maria 2ª. Apenas quatro dias depois disso, D. Pedro morre vítima de tuberculose em 24 de setembro de 1834 no Palácio de Queluz, em Lisboa, segundo relata o livro "Dom Pedro e Dom Miguel — A querela da sucessão Volume 36", de Oliveira Lima.
