A luta indígena no Brasil na visão de um fotógrafo americano

A quarta maior barragem do mundo inundará algumas das terras onde a população viveu durante séculos.

Por Daniel Stone
fotos de Aaron Vincent Elkaim
Publicado 8 de nov. de 2017, 20:34 BRST, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
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Um grupo de meninos escala árvore no rio Xingu, perto da cidade de Altamira, Pará. Uma parte da cidade foi inundada quando os reservatórios da barragem foram preenchidos no fim de 2015, destruindo uma série de bairros, a maioria pobre, próximos às margens do rio.
Foto de Aaron Vincent Elkaim, The Alexia Foundation

A história da vida nas regiões tropicais sempre foi de fragilidade. Suas florestas são consideradas os pulmões da Terra e a maneira como elas respiram afeta a temperatura, as chuvas e todo ser humano vivo.

Então, o que acontece quando o desenvolvimento chega à Amazônia? Quando as árvores são cortadas, as estradas pavimentadas e as barragens construídas? O fotógrafo Aaron Vincent Elkaim passou sua carreira contando histórias de povos indígenas e lugares ancestrais ameaçados pelo 'progresso'. Em 2014, ele fez sua primeira viagem ao estado do Pará, no norte do Brasil, para testemunhar como a barragem de Belo Monte, que está sendo construída no rio Xingu, os mais de 25 mil indígenas cujas vidas dependem da terra.

Elkaim vê as barragens no rio Xingu como perturbações para as pessoas que passaram séculos vivendo da terra e a protegendo para futuras gerações. "Nós fizemos muitos progressos em termos de redução do desmatamento na área", diz Elkaim. "Mas, para mim, construir esta barragem não é um símbolo de proteger o futuro, mas de destruí-lo".

O funcionamento pleno da usina está previsto para 2019, mas pessoas que moram nas proximidades já têm visto mais água em terras que outrora estavam secas. Durante as várias viagens de Elkaim ao local da barragem e à outras partes da bacia amazônica, ele conheceu membros da população indígena Munduruku, que colocaram pedras para soletrar mensagens de protesto. Ele viu como as pessoas já se adaptam às mudanças na bacia hidrográfica. Enquanto os homens lavavam um carro em terra inundada, o fotógrafo observou um grupo de meninos escalar uma árvore morta que uma vez estava em terra firme.

Nessa luta do passado versus futuro, da cultura versus desenvolvimento, os funcionários do governo argumentam que ambos são possíveis. Mas a água tem uma maneira própria de lavar as coisas. Elkaim continua retornando à região para fotografar o que está em jogo e as pessoas em risco. E espera que suas imagens invoquem uma nostalgia mundial pela Amazônia e pelas pessoas que viveram nela durante séculos. "A ideia é mostrar o mito e a imaginação que existe dentro da floresta", diz ele. A melhor esperança para as pessoas que vivem lá é que, através de uma lente, elas sejam vistas.

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    2014. Membros da tribo Munduruku andam sobre areia no Rio Tapajós enquanto se prepararem para um protesto. Depois de anos de luta, a tribo teve sucesso no diálogo com o governo para que o local seja reconhecido como território tradicional. O reconhecimento forçou a suspensão da licença pelos 12 mil MW da usina no rio, mas a luta continua: mais 40 barragens estão planejadas.
    Foto de Aaron Vincent Elkaim, The Alexia Foundation

    Aaron Vincent Elkaim é membro do Boreal Collective, um coletivo canadense com 12 fotógrafos de vários países que usam o fotojornalismo para levantar questões de consciência social sobre as narrativas culturais, desigualdades, injustias e questões ambientais. Você pode segui-lo no Instagram.

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