Barco hospital retoma viagens no Amazonas – um alento para ribeirinhos
Unidade básica de saúde fluvial sai de Manaus e atende populações isoladas ao longo do rio Negro. Serviço tinha sido paralisado para conter a disseminação do coronavírus.
Apesar do serviço existir desde 1989, somente em 2018 as unidades básicas de saúde fluviais dos rios Amazonas e Negro ganharam barcos próprios, projetados exclusivamente para a função. Ao longo de três décadas foram usadas embarcações alugadas ou cedidas por outros órgãos, como o Tribunal de Justiça do Amazonas.
Uma barca de quatro andares e 35 toneladas se aproxima de um agrupamento de casas de madeira levando a bordo uma carga preciosa e rara na região: profissionais de saúde especializados. Médicos, bioquímicos e farmacêuticos fazem a viagem uma vez por mês para atender comunidades ribeirinhas isoladas da capital do Amazonas. Aos poucos, vão se aproximando canoas com famílias inteiras, crianças arrumadas e penteadas para a recepção especial.
A Unidade Básica de Saúde (UBS) fluvial Dr. Antonio Levino chega à comunidade ribeirinha Lindo Amanhecer, situada em um braço do rio Negro a 100 km de barco do centro de Manaus, na manhã do dia 2 de junho. É a primeira viagem desde que o serviço foi suspenso por dois meses a fim de conter a disseminação do coronavírus. Parte dos 170 moradores do vilarejo e seu entorno se reune em volta da agente comunitária de saúde, responsável pelos prontuários, na sala de espera improvisada – uma pequena área coberta no quintal da casa de Raimunda Vieira. Logo o local vira ponto de apoio para os 14 tripulantes do barco, fornecendo conexão à internet e informações sobre a situação da população.
É Raimunda quem explica que a covid-19 passa longe de ser uma prioridade dos moradores de Lindo Amanhecer. “Aqui mesmo, quase ninguém vai para a cidade, e, como não somos atração turística como outras comunidades ao longo do rio, também não vem gente de fora”, diz ela. Ainda assim, Dona Raimunda é cuidadosa com o risco de contaminação. “Faz dois meses que não saio da comunidade. Uma filha minha mora em Manaus, faz as compras do mês com o cartão da Caixa, que fica com ela, e manda entregar diretamente para mim.”
O chamado rancho do mês é prática comum entre os moradores, já que a viagem entre o rio Apuaú, próximo dali, e os mercados de Manaus leva, em média, 3h30 de lancha. O tempo dobra se feito com os barcos recreio, meio de transporte comum da população, que viaja pendurada em redes. Com a pandemia, a atividade dos recreios foi interrompida, mas alguns continuam fazendo o transporte de modo irregular, evitando o controle da capitania dos portos. Acredita-se que esses barcos de madeira, cheios de redes e onde poucos usam máscara, são um dos principais vetores de transmissão do coronavírus da capital para o interior do Amazonas.
Alacide dos Santos é responsável pela farmácia, que leva a bordo remédios para o tratamento de diversas doenças, até mesmo a covid-19, para a qual foram prescritos azitromicina e prednisolona. Entre as medicações para malária, estão a primaquina e a quinina. Esta última, mesmo antiga, ainda é o remédio mais eficiente contra o Plasmodio falciforme, espécie mais rara no Brasil, porém o mais mortífero dos quatro protozoários causadores da malária.
A falta de familiaridade com as máscaras, que nos últimos meses tornaram-se comuns no vestuário ao redor do planeta, também mostra que o Sars-CoV-2 não é a principal preocupação da população. Idosos, adultos e crianças se atrapalham com os itens distribuídos pela tripulação médica, mais preocupada em não contaminar os residentes do que ser contaminados por eles. “Muita gente que vivia em Manaus antes da pandemia está voltando para suas comunidades originais no interior, seja por condição financeira, seja por segurança sanitária; e muitos desses podem estar carregando o vírus”, explica o diretor médico do posto de saúde flutuante, Assis Cavalcante.
A interiorização da covid-19 é, hoje, o maior desafio enfrentado pelas autoridades amazonenses, à medida que o pico da doença no interior supera o de Manaus, que agora flexibiliza a quarentena. André Patrício é médico infectologista da Fundação de Medicina Tropical (FNT), referência internacional em enfermidades dessa natureza. Ele destaca a gravidade do problema fora da capital. “Muitas cidades no interior já viviam em colapso da saúde antes mesmo da pandemia, sem contar com sequer um respirador mecânico. Se, mesmo em Manaus, era necessário muito pouco para a falência, imagina nesses municípios”, questiona Patrício, que destaca as dimensões a serem enfrentadas no Amazonas. “Há cidades que não tem pista de pouso e leva sete, dez dias para se chegar de barco. Muitas famílias nem conseguem trazer pacientes para serem tratados em Manaus porque não dá tempo, e eles não aguentam”. Hoje, apesar de a maioria da população amazonense residir na capital, mais de 50% dos casos de covid-19 estão no interior. O estado soma 49.811 casos confirmados – média de 1,2 mil casos por 100 mil habitantes, a segunda maior do país.
Na pequena cidade de São Gabriel da Cachoeira, a 850 km de Manaus e com população majoritariamente indígena, a cada 20 pessoas, uma foi infectada pelo novo coronavírus. Já em Manacapuru, vizinha de Manaus, o número de mortes causadas pela doença é 23 vezes maior que a média global. Essa estatística, no entanto, recorre aos dados oficiais; para cada caso confirmado de covid-19, há sete casos reais na população dos principais centros urbanos brasileiro, segundo estudo feito pela Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
Baixas na tripulação
Paramentado com avental de manga comprida, máscara, óculos e face shield sob um calor de mais de 30º C, Assis Cavalcante tenta evitar trazer o vírus, e decepciona a população que esperava a tripulação completa da UBS. A equipe habitual de 24 pessoas – sete tripulantes técnicos, responsáveis pela navegação propriamente dita, e 17 profissionais da área de saúde – teve de ser reduzida quase pela metade. “Os seis camarotes são pequenos, seria muita aglomeração, então limitamos a duas pessoas em cada um, e ainda assim há gente dormindo em outras partes do barco, por segurança”, conta o diretor. O barco também não está mais carregando dentistas e a doutora Ludmila Mendonça é a única médica – normalmente vão dois. A outra embarcação hospital, que percorre o rio Amazonas, ainda está parada, em fase de planejamento.
Higiene é um dos principais cuidados para evitar contaminação por coronavírus. A retirada do lixo e a desinfecção da embarcação são feitos duas vezes ao dia, ao fim de cada turno de quatro horas de trabalho – um no período da manhã, e o outro, à tarde.
Durante dez dias por mês o barco é casa e local de trabalho da médica Ludmila Mendonça. Criada próximo à divisa com Rondônia e Acre, Mendonça está acostumada a passar, em alguns meses, até 20 dias longe de casa.
“Com o isolamento e a falta das visitas, o pessoal ficou muito debilitado; não há testes nas comunidades, e os únicos remédios nas UBS rurais locais é dipirona e paracetamol, nada mais contundente”, conta Ludmila. Também coberta por equipamentos de proteção individual, ela atende a fila de pacientes em uma sala improvisada da escola de Lindo Amanhecer, já que a comunidade não possui estrutura permanente.
“Nunca recusamos atendimento, e ficamos até o último paciente. Acontece que somos um posto de saúde, mas muitas vezes acabamos atuando como uma UPA, um pronto-socorro, com gente chegando ferida, com urgência”, diz a médica, enquanto trata uma infecção no pé de uma paciente causada por um prego enferrujado. “Nos pontos em que passamos as noites, é comum morador bater no meio da madrugada para atendimento de emergência, algum acidente. E aí até cirurgia de baixa complexidade é preciso encarar, porque não há serviço equivalente nem próximo das comunidades.”
Na comunidade seguinte, Mipindiaú, a equipe contou com a estrutura de uma UBS rural, mas os consultórios também não foram utilizados. Para evitar contágios, Ludmila atendeu no corredor da unidade. “Antes, fazíamos tudo nos consultórios do barco, mas, atualmente, estamos evitando ao máximo pela falta de ventilação; somente as grávidas e exames de sangue estão sendo realizados, e mesmo os testes de covid-19 trazemos para terra firme”, conta a médica. Com famílias numerosas, gestantes são maioria na espera por atendimento.
Nesta comunidade mora Edinea Rodrigues. No começo de abril, seu pai, Manoel Macuntana, também morador de Mipindiaú, apresentou falta de ar, fraqueza, ausência de olfato e paladar, e febre baixa. Sem médico e com a suspensão de visitas da unidade de saúde fluvial, seus seis irmãos levaram o pai a Novo Airão, cidade mais próxima e com situação de contágio semelhante a de Manaus. Lá, foi atendido e dispensado. “Mandaram ele de volta para casa porque não estava tão mal, mas no dia seguinte piorou, e em três dias estava muito mal. Meus irmãos levaram ele para Manaus, mas lá não conseguimos leito”, lamenta Edinea. Manoel morreu pouco depois.
Em meados de abril, a capital do Amazonas sofria com falta de leitos de UTI – pacientes graves esperavam por vagas em uma fila – e médicos. O primeiro hospital de campanha em Manaus foi inaugurado somente no dia 12 daquele mês, quase 30 dias após a confirmação do primeiro caso na cidade.
A bioquímica e técnica de laboratório Antônia Josefa Ozório é responsável pelo controle dos exames, como diagnósticos para malária e covid-19, realizados a bordo.
A enfermeira Socorro Dutra examina a grávida Teresa Vieira de Souza, 36, que espera o décimo filho. Como muitas outras gestantes na região, Teresa foi diagnosticada com anemia e recebeu doses de sulfato ferroso.
“Em Manaus, meu pai acabou desmaiando e, pouco tempo depois, falecendo; foi tudo muito rápido, em quatro, cinco dias, ele passou de bem de saúde a enterrado. O sepultamento foi aqui mesmo em Mipindiaú; conseguimos essa exceção porque foi caso suspeito de covid-19”, conta. Segundo ela, a médica que o atendeu em Manaus, no entanto, disse ter sido caso de pneumonia.
Os óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e pneumonia tiveram um salto em Manaus quando comparado os meses da pandemia do novo coronavírus em 2020 com o mesmo período em 2019. Segundo o portal Registro Civil, entre março e junho do ano passado, houve 18 mortes por SRAG e 570 por pneumonia. No mesmo período deste ano, foram 603 e 1.022 mortes, respectivamente. O aumento sugere que casos de covid-19, como a suspeita de Manoel Macuntana, não foram notificados como tal.
Terra da Cloroquina
Ao longo de dez dias navegando pelo rio Negro e atendendo 40 comunidades em 13 paradas, a equipe da UBS Dr. Antonio Levino realizou 121 testes rápidos para covid-19, com 19 resultados positivos. Com definição em 15 minutos, os testes utilizam uma gota de sangue e reagentes que apontam a presença de anticorpos. Mas o método é criticado por especialistas. “Na infectologia, estamos abominando estes testes rápidos a nível mundial”, comenta André Patrício. “Do nada, surgiram muitos fabricantes que ninguém conhece, sem credibilidade, e mesmo os de laboratórios confiáveis podem dar falso negativo ou mesmo positivo, já que pode reagir com outros vírus da família do Sars-CoV-2, que são bem menos perigosos e comuns”, explica.
Em Jaraqui, seis pessoas foram confirmadas com a doença; no povoado de Santa Maria, cinco morreram sob suspeita da covid-19 antes que pudessem ser testadas e confirmadas. Casos suspeitos se sucederam ao longo das paradas do posto de saúde flutuante. Todos os 14 tripulantes foram testados antes e depois da viagem. A medida foi uma precaução depois da morte da cozinheira Maria das Graças Bittencourt, em 20 de maio, vítima do coronavírus. No começo de abril, a viagem da UBS pelo rio Amazonas – as expedições se alternam entre os rios de Manaus – foi suspensa no terceiro dia após uma das tripulantes apresentar sintomas. O barco voltou às pressas e, nos dias seguintes, outros membros apresentaram quadro da doença, incluindo Maria das Graças. Os atendimentos foram suspensos. Somente as viagens às comunidades para vacinação e emergências do Samu foram mantidas. Ainda assim, um dos profissionais que continuou trabalhando contraiu a doença, ligando o alarme na Secretaria Municipal de Saúde.
Desta vez, quando a embarcação se aproximava da comunidade de Cueiras, a viagem foi abreviada e o barco voltou às pressas para Manaus – a biomédica Antonia Ramos havia testado positivo para covid-19. Ao chegar na capital, a tripulação foi recebida pela Vigilância Sanitária, que ordenou 14 dias de quarentena em isolamento a todos. Em um segundo teste, desta vez sorológico, o resultado dos exames da tripulante supostamente infectada deu negativo covid-19.
Ludmila Mendonça examina um morador da comunidade Lindo Amanhecer, no rio Negro. Antes, a maioria dos atendimentos eram feitos dentro da embarcação. Agora, para evitar aglomerações em ambientes fechados e reduzir o risco de contágio por coronavírus, parte da tripulação desembarca e utiliza locais cedidos pelas comunidades, como escolas, galpões e igrejas.
Junho marca o início do verão amazônico, com menos chuvas e vazão reduzida de rios e igarapés. As áreas empoçadas facilitam a reprodução do mosquito Anopheles, transmissor da malária. Em 2017, a doença atingiu 217.928 pessoas. Com alguns sintomas semelhantes aos de covid-19, como febre e fadiga, a maioria dos pacientes examinados faz o teste para as duas doenças.
A malária tropical é tratada há décadas com um medicamento que nos últimos meses ganhou notoriedade e é uma obsessão do presidente Jair Bolsonaro: a cloroquina e sua derivada hidroxicloroquina. A farmácia do barco carrega o medicamento, mas, de acordo com a doutora Ludmila, ele só é prescrito para suspeitas de malária. Segundo ela, a maioria dos pacientes com sintomas de covid-19 atendidos pela UBS fluvial são hipertensos com suspeita de cardiopatia, por isso, e pela impossibilidade de se obter eletrocardiogramas, eles não recebem cloroquina. Um dos efeitos colaterais da cloroquina é arritmia cardíaca, que pode ser fatal em pacientes com problemas no coração.
Mesmo com a falta de evidências científicas que comprovem a eficácia desses medicamentos no combate à covid-19, o Ministério da Saúde divulgou, em 20 de maio, nota com diretrizes para que cloroquina e hidroxicloroquina sejam administradas mesmo em pacientes com sintomas iniciais da doença. Mais recentemente, em 15 de junho, a secretária de gestão em trabalho em saúde do Ministério, Mayra Pinheiro, disse que o órgão vai reeditar a primeira nota para incluir “dois grupos considerados de risco: idosos e crianças.” A nova declaração veio no mesmo dia em que a agência sanitária do governo americano, antes entusiasta do uso do remédio, revogou a permissão de emergência para a administração da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a covid-19.
Em todo o país, a corrida por cloroquina tem provocado falta do remédio nas farmácias, alta dos preços e piora da saúde de pacientes com lúpus e outras doenças inflamatórias autoimunes.
Falsa tranquilidade
Na comunidade de Aruaú, um homem baleado morreu pouco antes da chegada do barco. O assassinato é mais um indício de que, apesar da tranquilidade da floresta, a equipe navega por uma das principais rotas do tráfico internacional de drogas vindas da Colômbia e Peru por meio da bacia dos rios Negro e Solimões. Facções criminosas disputam o controle da rota e exercem domínio territorial em bairros de Manaus e em comunidades ribeirinhas ao longo dos rios.
A chegada da UBS fluvial na comunidade Lindo Amanhecer atraiu famílias de outras comunidades da região; a maioria se deslocou em pequenas canoas conhecidas localmente como rabetas. Com a suspensão das viagens da UBS para evitar a transmissão do coronavírus, ribeirinhos ficaram dois meses sem atendimento médico.
Mães e crianças aguardam para serem atendidas pela tripulação da UBS fluvial na comunidade ribeirinha Mipindiaú, a cerca de 90 km de Manaus.
A agente comunitária de saúde Suleni da Costa (à esquerda) viaja de canoa entre diversos vilarejos do entorno de Mipindiaú, cerca de 90 km do centro de Manaus. Ela é responsável por monitorar a saúde dos ribeirinhos.
“O arquipélago de Anavilhanas possui mais de 700 ilhas; é muito fácil para os traficantes se meterem aí dentro para se esconderem”, explica o marinheiro Paulo Nepomuceno, sobre o conjunto de ilhas ao longo do rio Negro que também é atração turística. “A Polícia Federal tenta monitorar, mas não dá conta. Eles até conseguem ter algum controle sobre a porta de entrada, na fronteira, e na saída, rumo ao sudeste, mas no meio, só quem conhece muito bem a região sabe o que há aí dentro.”
Após o ocorrido, o diretor da UBS rural de Mipindiaú, Valdemir Nascimento, 63, recebeu o aviso de que ele e qualquer morador das comunidades da região estavam proibidos de ir a Igarapé-Açu, parada seguinte da UBS fluvial. Morador da região há muitos anos, ele diz já ter experiência com situações críticas. “Acabamos tendo contato com situações muito graves de agressão, relações familiares… E aí, como diretor da UBS, é preciso atuar em várias frentes”, conta. Gestor da unidade local, ele também é técnico de enfermagem, socorrista de emergência, piloto fluvial e até parteiro, quando há a necessidade. Tudo isso em postos de saúde sem gerador próprio de eletricidade e com poucas opções de medicamento.
“A maioria das comunidades não está ligada à rede elétrica; aí só há luz durante o dia. Em muitos casos, com o gerador da escola. Não há insulina ou vacina que dure com esse calor em geladeira que fica desligada à noite”, diz a agente comunitária de saúde Suleni da Costa, 41 anos, responsável por monitorar a saúde de 170 pessoas. Comunicação também é outro desafio, resolvido apenas parcialmente por membros da equipe. “Como não há linha de telefone ou celular, só é possível falar via internet, quando esta funciona bem”, conta Assis Valente. “Quando estou em Manaus, o pessoal entra constantemente em contato comigo pelo WhatsApp, então pego as informações e, se for caso, eu mesmo aciono o Samu para eles.”
Na ponte entre as comunidades e Manaus, Suleni e Valdemir Nascimento contam como sobrevivem os moradores da região. “A grande fonte de renda é a extração de madeira; o pessoal corta, limpa, seca e transforma em palitos para churrasquinho, repassados para clientes específicos em Manaus. Cada pacote com 30 destes custa R$ 0,25, é um serviço muito mal pago, mas é só o que há por aqui”, conta Valdemir, o diretor da UBS rural da região. Além da extração de madeira e o Bolsa Família, as famílias se sustentam com a pesca e plantações de mandioca para produção de farinha. Os exames das grávidas, grande maioria dos pacientes atendidos pela tripulação da barca, mostraram que a anemia era predominante, apesar da distribuição gratuita de sulfato ferroso. Diante disso, a enfermeira Socorro Dutra repreendia Teresa de Souza, grávida do décimo filho aos 36 anos. “O amazonense é teimoso, não gosta de seguir indicação”, diz ela. “Agora pensa, se é assim com coisa simples como tomar o sulfato, imagina com as precauções que exige a covid-19.”
Gustavo Basso é fotojornalista colaborador da National Geographic. Conheça mais do seu trabalho no Instagram.
Edilamar Queiroz, encarregada geral da UBS, está em sua primeira viagem pelo rio Negro como tripulante e se diz encantada com a experiência.
Durante dez dias por mês o barco de 22 m de comprimento por 7 m de largura é casa e local de trabalho de 24 tripulantes – número que foi reduzido à metade por precaução contra a contaminação pelo novo coronavírus.