Encontrada a 'assinatura' do profeta bíblico Isaías – sugere pesquisa
Um selo de argila de 2.700 anos de idade de Jerusalém pode estar ligado ao profeta, tornando-se a primeira referência a ele fora da Bíblia.
Um selo de argila do século 8 a.C. que foi encontrado em uma escavação de Jerusalém pode conter o nome do profeta bíblico Isaías, de acordo com um novo artigo na Biblical Archaeology Review.
No artigo, intitulado Esta é a assinatura do Profeta Isaías?, a autora e arqueóloga Eilat Mazar sugere que o antigo texto hebraico impresso no objeto oval de argila de meia polegada pode ter "pertencido ao profeta Isaías".
Se a interpretação do texto encontrado no selo de 2.700 anos estiver correta, seria a primeira referência a Isaías fora da Bíblia. O profeta hebraico é descrito como um conselheiro do rei judeu Ezequiel, que governou do final do século 8 a.C. ao início do século 7 a.C.
O selo de argila, ou bulla, foi um dos 34 objetos encontrados nas escavações de Mazar em Ophel em 2009 na base do muro sul do Monte do Templo de Jerusalém, ou Haram al-Sharif. Os selos, ou bullae foram recuperados dos depósitos de lixo da Idade do Ferro (1200-586 aC), do lado de fora dos muros do que Mazar descreve como uma padaria real que foi assolada por volta de 586 aC na destruição babilônica de Jerusalém.
O Profeta Isaías
O selo possui escrita hebraica antiga com menção a Yesha'yah [u] (o nome hebraico de Isaías), seguido do termo “nvy”.
Como o selo está danificado no final da palavra “nvy”, Mazar sugere que nossa leitura pode estar incompleta. Se “nvy” fosse seguido pela letra hebraica “Aleph”, o resultado seria a palavra "profeta", e a leitura do selo sugeriria que o objeto "propriedade do profeta Isaías".
“O que reforça essa interpretação”, ela escreve, “é o contexto arqueológico em que o selo foi encontrado”.
Em 2015, foi anunciada a descoberta de outra bulla de argila nas escavações de Ophel, dessa vez o selo pessoal do rei Ezequiel, virou notícia em todo o mundo. De acordo com o artigo mais recente, o “selo de Isaías" foi encontrado a apenas 10 metros do selo de Ezequiel na mesma escavação de 2009.
A estreita relação entre o profeta e o rei descrita na Bíblia, juntamente com a proximidade dos dois selos, "parece deixar aberta a possibilidade de que, apesar das dificuldades apresentadas pela área danificada da bulla, este selo pode ter pertencido a Isaías, o profeta, conselheiro do rei Ezequiel", escreve Mazar.
Grandes obstáculos
Por mais tentadora que seja a interpretação, Mazar admite que existem "grandes obstáculos" na identificação do selo, principalmente a palavra “nvy”. Sem “Aleph” ao final, nvy provavelmente é apenas um nome pessoal (muitas vezes o nome do pai da pessoa) ou um local (de onde a pessoa veio).
Christopher Rollston, professor de línguas seméticas na Universidade George Washington, concorda que a leitura de nvy é um problema.
"A letra que seria essencial para confirmar que a segunda palavra é o título ‘profeta’ é um aleph. Mas não encontramos um aleph nesta bulla, sendo assim, esta interpretação não pode ser confirmada", diz ele.
“Ao fazer a leitura de nvy, nota-se a falta do artigo definido ‘h’”, observa Rollston. “Na maioria das referências bíblicas, as referências são ‘o profeta’ em vez de simplesmente ‘profeta’. Em suma, se fosse a palavra ‘profeta’, eu gostaria de ter visto a palavra ‘o’, ou seja, ‘O Profeta Isaías’, diz ela.
Enquanto Mazar observa que a falta de um artigo definido também é um problema ao fazer a interpretação do selo, ela inclui uma sugestão de que o artigo definido pode ter aparecido originalmente em uma área danificada acima da palavra ‘nvy’, ou, citando outros exemplos arqueológicos e textuais, foi simplesmente abandonado.
Além disso, nas notas de Rollston, a raiz hebraica yš‘ não é a base apenas do nome do profeta Isaías, mas de quase vinte pessoas na Bíblia. "Havia muitas pessoas com o nome de Isaías ou com nomes que se baseavam exatamente na mesma palavra-raiz", observa. E se a palavra “nvy” realmente for parte do nome do pai de alguém, definitivamente não está associada ao profeta, cujo pai, de acordo com a Bíblia, era Amoz.
A possível descoberta de artefatos associados ao rei Ezequiel e a Isaías, o profeta bíblico que aconselhou o rei durante um momento tumultuado após a conquista assíria do Reino de Israel ao norte e a ameaça constante do Reino de Judá ao sul, "é uma oportunidade rara para revelar esse tempo específico na história de Jerusalém", conclui Mazar.
"Claro, a suposição de que esse é um selo do profeta Isaías é cintilante, mas certamente não é algo que devemos presumir como definitivo", adverte Rollston. "Não é."