Novo gênero de pterossauro é conhecido como ‘dragão de gelo dos ventos do norte’

O réptil voador recém-identificado distingue-se pelo tamanho da cabeça e do pescoço – e pela envergadura de asas, de cinco metros ou mais.

Por Michael Greshko
Publicado 17 de set. de 2019, 07:00 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Estudo publicado no Journal of Vertebrate Paleontology descreve um novo pterossauro chamado Cryodrakon boreas, "dragão de ...
Estudo publicado no Journal of Vertebrate Paleontology descreve um novo pterossauro chamado Cryodrakon boreas, "dragão de gelo dos ventos do norte". O réptil voador tinha uma envergadura de pelo menos 5 metros e pode ter crescido até uma envergadura de até 10 metros, o tamanho de seu parente Quetzalcoatlus northropi.
Foto de Illustration by David Maas

Nas terras geladas de Alberta, Canadá, os paleontólogos encontraram um "dragão de gelo": um novo gênero de pterossauro que sobrevoava os dinossauros com uma envergadura de, pelo menos, 6 metros. O réptil voador - chamado Cryodrakon boreas - viveu no que é hoje o oeste do Canadá, há cerca de 76 milhões de anos atrás, durante o período Cretáceo.

"O animal, quando vivo, não teria sido um dragão de gelo", observa Mike Habib, paleontólogo da Universidade do Sul da Califórnia. "Ele teria voado em um local com temperaturas amenas. A região era muito mais quente que o centro de Alberta é hoje."

Cientistas estão cientes dos ossos dos pterossauros há quase três décadas, mas, de acordo com pesquisadores, em publicação lançada no Journal of Vertebrate Paleontology, só agora foi possível confirmar que o animal era de um gênero único.

"Para mim, como canadense que trabalha com pterossauros, é muito legal poder dar um nome real para um animal que está entre nós há tanto tempo", diz a paleontóloga Liz Martin-Silverstone, pesquisadora da Universidade de Bristol que não estava envolvida com o estudo.

De acordo com o coautor do estudo, Dave Hone, paleontólogo da Universidade Queen Mary de Londres, por muito tempo, os paleontólogos presumiram que os fósseis pertenciam a um pterossauro chamado Quetzalcoatlus northropi. Os dois animais pertencem a um grupo conhecido como pterossauros azhdarchid (azh-DAHR-kid), que eram notáveis por terem enormes cabeças e pescoços.

Os azharquídeos também são conhecidos por atingir tamanhos imensos, mas nenhum crescia tanto quanto o Quetzalcoatlus. Ao voar sobre o que hoje é o estado do Texas, nos EUA, a envergadura da criatura se estendia por mais de 9 metros. Quando andava no chão, como os azharquídeos costumavam fazer, tinha mais de um metro e oitenta de altura até o ombro, aproximadamente a mesma altura de algumas girafas.

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A descoberta do Cryodrakon prova que a América do Norte abrigou pelo menos dois gêneros de grandes azharquídeos, expandindo nosso conhecimento sobre a diversidade antiga e como as maiores criaturas voadoras do mundo ganharam a vida.

Pterossauros complicados

O esqueleto parcial que define o Cryodrakon foi encontrado no Parque Provincial de Dinossauros do Canadá em 1992. Mas sua identidade permaneceu incerta por décadas por causa de um paradoxo paleontológico: o Quetzalcoatlus pode ser, ao mesmo tempo, o azharquídeo mais conhecido e menos conhecido.

Embora o Q. northropi tenha sido descrito em 1975, apenas um de seus ossos recebeu uma descrição detalhada; os cientistas que supervisionaram os restos do gigante nunca chegaram a publicar o restante. Por 40 anos, o paleontólogo Wann Langston trabalhou incansavelmente para completar a descrição - mas veio a falecer em 2013, deixando o projeto inacabado. Uma equipe internacional está atualmente tentando terminar o trabalho.

Enquanto isso, os paleontólogos norte-americanos notaram um problema. Ao encontrarem partes que pareciam pertencer a um grande azharquídeo cretáceo, eles os designavam provisoriamente como um Quetzalcoatlus, porque não tinham informações suficientes sobre o Quetzalcoatlus para dizer algo diferente.

"Você tem essa situação estranha em que o Quetzalcoatlus é basicamente o primeiro azharquídeo a ser identificado, por isso se torna a definição do [grupo], e ainda não há uma boa descrição sobre isso", diz Hone, que descreve a situação como "um loop gigante que não permite que o problema seja resolvido adequadamente".

Dois avanços importantes ofereceram uma saída para o paradoxo do Quetzalcoatlus. Nos últimos 15 anos, os paleontólogos encontraram mais tipos de azharquídeos na França, Marrocos, Cazaquistão, Hungria, Romênia e outros lugares, fornecendo uma referência muito melhor para a diversidade dentro desse grupo de pterossauros. Além disso, um pequeno número de pesquisadores teve a chance de ver de perto os fósseis de Quetzalcoatlus - incluindo Habib, que mediu os ossos para criar um modelo capaz de ilustrar como a criatura voava.

Como comparação, Habib visitou o Royal Tyrrell Museum do Canadá para ver o esqueleto parcial de pterossauro desenterrado em 1992, cujo osso está entre os mais bem preservados do mundo.

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    Os restos ganharam notoriedade por suas cicatrizes. Os ossos apresentam arranhões e um dente incorporado que parece ser de um carniceiro, provavelmente um parente do Velociraptor. Mas Habib logo viu coisas mais intrigantes. Quanto mais ele comparava suas medições de Quetzalcoatlus com o fóssil canadense, mais ele suspeitava que não se tratava de um Quetzalcoatlus.

    Quebra-cabeças de ossos

    Como os canadenses continuam a montar um esqueleto parcial, o colega de Habib, Hone, tinha material suficiente para colocar o pterossauro na árvore genealógica dos azharquídeos. Ele então deu um zoom na vértebra do pescoço, cujas extremidades são atingidas por pneumatóforos - buracos pelos quais os sacos de ar entraram no interior do osso.

    O arranjo desses pneumatóforos pode ajudar os cientistas a diferenciar as espécies de pterossauros. E quando Habib, Hone e o paleontólogo François Therrien do Royal Tyrrell Museum, compararam os buracos nas vértebras cervicais do pterossauro canadense com os de todos os outros azharquídeos conhecidos, descobriram que ele tinha uma combinação única.

    Para homenagear o clima moderno na região onde este pterossauro viveu, eles batizaram o novo pterossauro de Cryodrakon boreas, ou "o dragão de gelo dos ventos do norte". Habib, fã do programa de TV Game of Thrones, também sugeriu nome Cryodrakon viserion, uma referência a um dos dragões do programa, em parte por conta do dragão da série ter ressurgido do gelo e em parte porque o animal pode ter atingido o mesmo tamanho de monstro da série.

    O principal fóssil de referência para Cryodrakon pertencia a um pterossauro que tinha uma envergadura de cerca de quatro metros. Mas os pesquisadores perceberam que um fóssil separado no Royal Tyrrell Museum - um tubo quebrado de osso de 40 cm de comprimento - era uma parte do meio de uma vértebra do pescoço de uma azharquídeo que provavelmente tinha uma envergadura de mais de dez metros.

    Com as extremidades quebradas, essa vértebra permaneceu sem identificação por anos: os paleontólogos a descreveram uma vez  como um osso de uma perna. Como o fóssil é incompleto, os pesquisadores não são capazes de dizer com certeza se pertencem ao Cryodrakon, mas a vértebra do pescoço é definitivamente de uma azharquídeo, e agora o Cryodrakon é o único azharquídeo conhecido daquele local e época.

    "Há um azharquídeo com uma envergadura de asa de 9 a 10 metros nessa formação; se é exatamente igual ao que descrevemos, não há como saber com 100% de certeza", diz Hone. "É como se você fosse para a África e encontrasse um dente de um gato gigante - provavelmente seja de um leão realmente grande, mas sem o resto do leão, é apenas um dente!"

    Martin-Silverstone concorda com a abordagem cautelosa: "Eu acho que eles estão certos que seja uma vértebra de um [pescoço] azharquídeo - eu vi esse espécime e concordo que é isso", diz ela. "Mas eu não sei se poderia dizer que é um Cryodrakon, porque não há muita coisa para se analisar."

    Mais trabalho em torno do Cryodrakon pode ajudar a desvendar o mistério e adicionar mais pistas ao estilo de vida desse grande pterossauro. Habib, por exemplo, ainda quer usar as medidas dos membros para calcular como o animal voava - o projeto que inadvertidamente descobriu o dragão de gelo.

    Análises futuras podem nos dar ainda mais informações sobre os ossos do pterossauro. Taissa Rodrigues, paleontóloga da Universidade Federal do Espírito Santo, que não participou do estudo, diz que tirar pequenas seções dos ossos do Cryodrakon pode revelar como o pterossauro cresceu até se tornar um adulto. Ela acrescenta ainda que futuros fósseis poderiam até testar se o Cryodrakon apresentava variações de tamanho com base no sexo.

    "É incrível", diz ela, "isso mostra onde podemos chegar".

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