O que foi a Noite dos Cristais?
A terrível noite ocorrida em 1939, na Alemanha e na Áustria, se tornou histórica e está intimamente ligada aos eventos que levaram ao Holocausto.
Judeus hassídicos visitam um monumento no campo de concentração nazista de Birkenau, na Polônia.
Conhecida como a Kristallnacht (em alemão), a Noite dos Cristais ocorreu na noite de 9 para 10 de novembro de 1938, em toda a Alemanha e Áustria, em certas áreas da antiga Tchecoslováquia que já eram ocupadas por soldados alemães. A data marca uma escalada ainda sem precedentes na época da violência contra os judeus que viviam nessas países da Europa, e foi fundamental para construir o caminho do que, mais adiante, seria o Holocausto. É o que explica o Museu do Holocausto dos Estados Unidos, que possui uma plataforma online de conhecimento e informações sobre o tema.
Também chamada de "Noite dos Vidros Quebrados", a data recebeu esse nome por conta dos inúmeros cacos de vidro vindos da destruição de janelas, vitrines e portas de sinagogas, casas, empresas e propriedades de judeus que, como conta o Museu do Holocausto, foram saqueadas nessas regiões, em uma onda de violência e preconceito.
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Vista do Memorial aos Judeus Assassinados da Europa, também conhecido como Memorial do Holocausto, projetado pelo arquiteto Peter Eisenman e pelo engenheiro Buro Happold, e que fica em Berlim.
A Noite dos Cristais e o assassinato de Ernst vom Rath
A destruição de propriedades e símbolos judaicos, além da violência contra os judeus, teria sido a resposta instigada pelos membros do Partido Nazista ao assassinato do diplomata alemão Ernst vom Rath, em Paris, como conta o museu.
Rath foi morto a tiros por Herschel Grynszpan, um jovem judeu-polonês de 17 anos, dois dias antes da Noite dos Cristais. O ataque de Grynszpan teria sido resultado do fato de que sua família – junto com milhares de outros judeus-poloneses – terem sido expulsos da área do Reich (estado) alemão, informa o museu.
Já de acordo com a Encyclopedia Britannica (plataforma de conhecimento do reino Unido), o assassinato foi recebido pela alta cúpula do governo alemão como uma afronta, e o então ministro da propaganda, Joseph Goebbels – depois de conversar com Hitler – fez um discurso pedindo “represálias violentas encenadas para parecerem ‘demonstrações espontâneas’ contra o ato”, diz a Britannica.
Em outras palavras, a ideia era que o ataque à comunidade judaica alemã, austríaca de de outras regiões comandadas pelo exército nazista, parecesse um ato do povo, agindo em massa, contra essas pessoas.
Em 48 horas, mais de 1 mil sinagogas foram queimadas ou danificadas, mais de 7.500 comércios e lojas de pessoas judias foram saqueados ou tiveram as janelas quebradas. Outros 30 mil homens judeus com idades entre 16 e 60 anos foram presos e 91 pessoas judias foram mortas, como informam dados da Britannica.
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Como a Noite dos Cristais abriu caminho para o Holocausto
Os atos de violência contra a população judia não foram reprimidos pela polícia e nem os incêndios tiveram pronto atendimento dos bombeiros, como contam tanto a Britannica como os documentos do Museu do Holocausto.
Também foram confiscados pelo governo nazista todos os pedidos de indenização feitos por seguradoras aos donos das propriedades danificadas. Os homens presos foram enviados para os campos de concentração de Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen, que precisaram ser ampliados, conta a Britannica.
O resultado final da Noite dos Cristais, em 1939, foi tornar impossível a existência de pessoas judias em território comandado pela Alemanha nazista, as excluindo da sociedade e abrindo caminho para o Holocausto – um processo de perseguição e de assassinato sistemáticos dos judeus enquanto avançava a Segunda Guerra Mundial.