
Costela humana de 4 mil anos é encontrada com uma ponta de flecha alojada e revela batalha entre clãs
Um close da ponta de flecha de sílex incrustada em uma costela humana, encontrada no sítio Roc de les Orenetes (Queralbs, Ripollès).
“É uma evidência direta de um episódio de conflito violento”. É o que conta o pesquisador Carlos Tornero ao encontrar a ponta de flecha de sílex alojada na costela de uma pessoa que viveu nos Pirineus espanhóis há mais de 4 mil anos. Segundo as investigações, a flecha foi disparada provavelmente durante uma batalha entre clãs rivais, afirmam os pesquisadores.
Tornero, que liderou a equipe que desenterrou a costela em uma caverna nas montanhas a 1.800 metros acima do nível do mar, perto da fronteira entre a Espanha e a França.
Escavações anteriores na mesma caverna — chamada Roc de les Orenetes em catalão (ou “Rocha das Andorinhas”, na tradução livre) — revelaram milhares de ossos humanos. Alguns apresentavam fraturas e marcas de cortes aparentemente causados por lanças com pontas de pedra, flechas e machados e punhais de cobre ou bronze. Os pesquisadores publicaram sua análise dos ossos em 2024 e concluíram que os ferimentos foram causados por conflitos com outros grupos. Este último achado ocorrido em 8 de julho deste ano e reforça essa ideia.

Trabalho de escavação no sítio Roc de les Orenetes, onde restos humanos datados de 2400 a.C. podem ser vistos em primeiro plano.

O momento da descoberta de uma ponta de flecha de sílex com a ponta quebrada, datada de 2400 a.C.
O que os ossos descobertos contam sobre batalhas da Idade do Bronze
“Esta descoberta extraordinária é uma prova direta e confirma nossa hipótese inicial”, afirma Tornero, arqueólogo da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) e pesquisador do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES-CERCA).
Pouco se sabe sobre quem disparou a flecha, exceto que provavelmente era um grupo inimigo que lutou violentamente contra as pessoas posteriormente enterradas na caverna — em uma disputa por território ou talvez por acesso a recursos. Os pesquisadores dataram os episódios de embate entre 2550 e 2150 a.C.
(Você pode se interessar por: A descoberta de uma tumba de 3 mil anos mudou o que sabemos sobre o Peru antigo)

O interior da caverna onde foi encontrado o fóssil com a ponta de uma flecha incrustada.
Tornero afirma que as vítimas na caverna provavelmente pertenciam a um único clã de agricultores da Idade do Bronze Antigo, mas seus agressores podem ter sido caçadores nômades. O arqueiro atirou neste indivíduo por trás, de modo que a flecha ficou alojada nas suas costas, dentro da caixa torácica, mas abaixo da omoplata.
“Sem dúvida, a pessoa que foi atingida teve pouca capacidade de reagir a tempo de evitar o golpe”, diz Tornero.
A caverna Roc de les Orenetes foi descoberta em 1969 e, desde então, os restos mortais de 60 corpos — muitos deles com marcas de batalha — foram desenterrados, embora apenas um terço do local tenha sido escavado, de acordo com Tornero.
A ponta de flecha recém-descoberta é outro indicador de conflitos violentos na pré-história, bem como uma prova definitiva para Tornero de que os povos antigos enterrados em Roc de les Orenetes eram, por vezes, vítimas de emboscadas — e podem ter sido os autores de violência mortal em retaliação.
