
Pássaros carnívoros da América do Sul: descoberta de pegadas de 6 milhões de anos revela garras assassinas
A ave Phorusrhacos longissimus existiu no continente sul-americano e tinha um comportamento agressivo bastante parecido com os dinossauros que eram carnívoros predadores.
Quando um grande asteróide atingiu a Terra há 66 milhões de anos, nem todos os dinossauros foram extintos do planeta naquele momento. As aves pré-históricas, dinossauros emplumados que prosperaram desde o período Jurássico, sobreviveram — e algumas dessas aves eram mais assustadoras e parecidas com dinossauros do que outras.
Entre 53 milhões e 18 mil anos atrás, animais carnívoros conhecidos como “aves do terror” perseguiam as pastagens da América do Sul. Essas aves que não voavam, algumas tinham mais de 3 metros de altura, pavoneavam-se pelas vastas planícies pré-históricas, perseguindo presas e arrancando pedaços com seus bicos profundos e curvos.
Agora, graças às pegadas recém-descobertas das aves do terror, os paleontólogos têm uma ideia melhor de como esses caçadores capturavam suas presas. As pegadas com 6 milhões de anos sugerem que algumas dessas aves gigantes chutavam suas presas e as imobilizavam, semelhante à tática de dinossauros anteriores, como o Velociraptor.
As pegadas, descritas recentemente na revista Scientific Reports, são as primeiras pegadas definitivas de aves do terror. Encontradas ao longo da costa atlântica na formação Río Negro da Patagônia argentina, elas não foram fáceis de localizar. As camadas rochosas que contêm as pegadas são submersas pelas marés duas vezes ao dia.
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Uma análise detalhada da pegada da Rionegrina pozosaladensis revela um forte traço de garra no dedo central, apontado para a direita.
A trilha completa da ave do terror na Patagônia argentina foi revelada após a remoção da areia durante o processo de documentação dos fósseis.
“Isso significa que as pegadas estão sendo destruídas lentamente”, afirma Ricardo Melchor, principal autor do estudo e paleontólogo da Universidade Nacional de La Pampa, na Argentina.
As pegadas foram avistadas pela primeira vez por um guarda florestal chamado Andrés Ulloa, que alertou Melchor sobre a descoberta. Uma equipe de cientistas visitou o local em 2022, revelando os passos antigos dessa ave temível.
Não está claro exatamente qual espécie deixou as pegadas. Isso porque várias dessas aves ferozes vagavam pela América do Sul naquela época, variando de espécies pequenas comparáveis ao seriema moderno — o parente vivo mais próximo das “aves do terror” — a gigantes que eram mais altos que uma avestruz. Poderia até ter sido deixado por uma espécie desconhecida a partir dos ossos.
Comparações das pegadas com ossos de aves aterrorizantes dessa época que foram descobertos anteriormente sugerem que o animal poderia ter até 1,70 m de altura, uma ave grande que pode até ter sido o filhote de uma espécie maior.
“Acho que as aves do terror são um bom indicador de pegadas”, diz a especialista em pegadas fósseis Lisa Buckley, que não participou do novo estudo. As impressões correspondem muito bem aos ossos dos pés das aves do terror.
Assim como os ossos, as pegadas fósseis recebem seus próprios nomes. Melchor e seus colegas batizaram as pegadas de Rionegrina pozosaladensis, em referência aos detalhes geográficos e geológicos do local onde foram encontradas.
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Ilustração de um Phorusrhacos longissimus, uma espécie de ave aterrorizante que ocupou a América do Sul há milhões de anos.
Esses pássaros andavam em dois dedos e… Usavam o terceiro para caças presas
Até agora, os paleontólogos que estudam as patas das aves do terror não tinham certeza se elas equilibravam seu peso em três dedos ou apenas em dois, com o terceiro suspenso no chão.
As pegadas fornecem evidências cruciais de que o animal que deixou os rastros se equilibrava em apenas dois dedos — uma descoberta que ajuda a confirmar que essas aves corriam em dois dedos e usavam o terceiro para prender suas presas, afirma Buckley.
As avestruzes modernas ainda andam e correm com pés de dois dedos, e dinossauros não aviários, como o Velociraptor e o Deinonychus, também eram conhecidos por andar com dois dedos, mantendo o terceiro afastado do chão para não danificar suas garras afiadas enquanto se moviam.
As pegadas da ave do terror mostram parte da impressão do terceiro dedo perto do calcanhar, mas a marca deixada por esse dedo é muito mais curta do que as outras duas. A ave colocava a maior parte do seu peso no dedo do meio, com o dedo externo atuando como suporte, enquanto o dedo interno parecia ser mantido afastado do chão, no que os especialistas chamam de postura didáctila do pé.
Essa postura, escrevem os pesquisadores, complementa pesquisas anteriores que sugerem que as aves do terror eram corredoras rápidas. Muito parecidas com avestruzes, elas tinham fêmures curtos com ossos alongados na parte inferior da perna e no pé. A combinação cria um tempo de recuperação mais curto para cada parte do ciclo de corrida e, funcionalmente, dá à perna um alcance maior para dar passos maiores.
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Ilustração feita à caneta sobre papel da possível pata direita, interpretada a partir das pegadas da Rionegrina pozosaladensis.
A anatomia dos pés da ave do terror também apresenta semelhanças com as seriemas, que costumam capturar pequenos répteis com as patas, e com dinossauros não aviários, como o Deinonychus. “As pegadas são consistentes com a ideia de que o animal era um corredor habilidoso, capaz de caçar usando essa vantagem e, em seguida, imobilizar as suas presas”, diz Melchor.
A ave provavelmente usava as patas para chutar e imobilizar presas menores, segurando a carcaça enquanto usava o bico grande e curvo para arrancar pedaços. “As presas em potencial seriam parentes das capivaras modernas, aves marinhas e preguiças terrestres juvenis”, diz Melchor.
Embora algumas aves do terror tenham sido propostas como caçadoras habilidosas de megafauna, a nova descoberta muda a percepção dos paleontólogos sobre o que as aves eram capazes de fazer. “Nós, como pessoas que observam animais carnívoros extintos de grande porte, queremos que eles sejam predadores ferozes que caçam grandes herbívoros”, diz Buckley.
Mas as pegadas sugerem que o sucesso duradouro das aves do terror era garantido pela abundância de presas pequenas. “Não acho que uma ave do terror recusaria alguns roedores ou mamíferos do tamanho de coelhos”, comenta Buckley, “se pudesse envolvê-los com suas garras”.
