Exploradores estudam poderoso sistema vulcânico na Guatemala

Equipe “dos sonhos” partiu em missão para estudar o complexo de domos de lava mais ativo do mundo, visando ajudar as pessoas que vivem à sombra do vulcão.

Por Lauren O'Brien
Publicado 15 de ago. de 2018, 17:32 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Cinzas do domo de lava Caliente. O domo faz parte do complexo de Santiaguito, um dos ...
Cinzas do domo de lava Caliente. O domo faz parte do complexo de Santiaguito, um dos três complexos vulcânicos ativos da Guatemala.
Foto de Gabby Salazar, National Geographic Creative

Um trio de exploradores se sentam no topo do vulcão Santa María, na Guatemala, vislumbrando um dos complexos de domos de lava mais ativos do mundo. Eles escalaram mais de 3,7 mil metros de um terreno íngreme, carregando nas costas câmeras, tripés, barracas e água suficiente para a expedição inteira. Prontos para iniciar sua pesquisa na formação, eles montaram seu acampamento no pico do vulcão.

Santiaguito, um complexo de quatro domos de lava - rodeados por montanhas formadas por lava viscosa - fica à base do vulcão.  Desde 1922, ocorrem pequenas, mas contínuas, erupções vulcânicas dos domos de lava, expelindo jatos de gás e cinzas. Em novembro de 2017, Stephanie Grocke, Gabby Salazar e Ross Donihue - todos exploradores da National Geographic - partiram para uma expedição pelo período de um mês, juntamente com guias locais e a polícia turística, para estudar esses vulcões ativos, testar um novo método de monitoramento da atividade dos domos de lava e desenvolver métodos para prever erupções.

Em uma missão para a coleta de dados sobre o comportamento dos vulcões, a equipe adotou uma abordagem multifacetada, que combinou ferramentas científicas e de mídia que são utilizadas por três exploradores: uma vulcanólogo, um cartógrafo e uma fotógrafa/cinegrafista.

Ross Donihue, Stephanie Grocke e Gabby Salazar estão no topo do vulcão Santa María, acima de ...
Ross Donihue, Stephanie Grocke e Gabby Salazar estão no topo do vulcão Santa María, acima de Santiaguito, o complexo de domos de lava.
Foto de Stephanie Grock, National Geographic Creative

"Santiaguito é um laboratório natural maravilhoso para essa expedição", diz Grocke, a vulcanóloga. Durante a expedição, Grocke utilizou técnicas de última geração de fotomicrografia. "Eu estava fazendo fotogrametria com o recurso time-lapse a partir do solo, o que significa tirar fotos contínuas sequenciais da superfície do domo de lava ativo", diz Grocke

Para conseguir isso, ela posicionou três câmeras com lentes telefoto e receptores de rádio em tripés em três locais diferentes ao redor da região. Ela acionou as câmeras remotamente por meio de um transmissor para que cada uma fosse tirada simultaneamente de pontos de vista distintos. "Nós podemos colocar todas as fotografias juntas em uma sequência que será utilizada para ajudar a rastrear e quantificar a atividade da superfície do vulcão", diz Grocke

Ela utilizará essas fotos para criar modelos de elevação tridimensionais e reconstruir a atividade do vulcão. "Já fiz isso antes com [meu orientador acadêmico], mas aperfeiçoamos o método com a experiência de Gabby e Ross", diz Grocke.

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    O domo de lava Caliente fica na base do vulcão Santa María.
    O domo de lava Caliente fica na base do vulcão Santa María.
    Foto de Gabby Salazar, National Geographic Creative

    Por aproximadamente cinco dias, a equipe trabalhou em conjunto para posicionar as câmeras. A montagem e manutenção eram difíceis e o grupo trabalhou constantemente na escuridão total e enfrentando ventos fortíssimos.

    "Nós acampamos à beira do vulcão com todas as câmeras apontadas para o domo de lava mais ativo chamado El Caliente, que entra em erupção com bastante frequência. Ele faz parte do Círculo de Fogo e está entrando em seu ciclo de atividade neste momento", diz Donihue, cartógrafo especializado em narrativas com base nos mapas. "O Círculo de Fogo é basicamente essa área onde as placas entram em colisão e criam uma zona de subducção em que uma placa fica em baixo da outra criando essas fendas".

    Donihue se juntou à equipe na Guatemala durante as férias da universidade onde estuda. "Antes de partir, eu tinha alguns conceitos em mente, baixei alguns dados básicos e pensei na perspectiva de mostrar o complexo como um todo e a anatomia do vulcão." Para complementar essas informações, ele utilizou leituras de GPS e um drone para coletar os dados e tirar fotos aéreas. "Meu principal dever era concluir os mapas e infográficos", diz Donihue.

    A equipe espera descobrir como os domos reagem antes, durante e depois da erupção - informação que poderá ser útil na previsão de erupções. "Se pudermos melhorar a nossa compreensão das futuras atividades vulcânicas, poderemos avisar melhor a população sobre a ocorrência delas", diz Donihue.

    Salazar, fotógrafa e cinegrafista, documentou a expedição tirando milhares de fotos e registrando as atividades do grupo, mas ela também foi essencial na coleta científica de dados. "Sua experiência como fotógrafa também nos ajudou cientificamente. Ao tirar fotos com grande qualidade, montando as câmeras durante o dia e à noite, ela ajudou a coletar dados mais apurados", diz Grocke.

    A equipe coletou os dados e imagens necessários após escalar duas vezes o vulcão, mas o trabalho deles ainda não havia acabado.  Eles queriam compartilhar o que aprenderam com a população que habita à sombra do vulcão Santa María, e, por isso, criaram e apresentaram uma exposição fotográfica destacando como é a vida ao redor do domo de lava ativo.

    Aproximadamente 1.259.600 pessoas chamam de lar os quase 30 quilômetros em volta do vulcão, de acordo com um relatório do Programa de História Natural Global de Vulcanismo do Instituto Smithsoniano, que faz parte do Museu Nacional. "Para os moradores, esse vulcão está em erupção contínua em seus quintais há mais de noventa anos", diz Grocke. "As fotos contam histórias sobre como é viver em vulcões ativos e, ainda, os benefícios e riscos apresentados pela atividade vulcânica".

    "As erupções que acontecem na Guatemala podem ser devastadoras e nós ainda não podemos prevê-las ou supor o que vai acontecer. Nós estávamos lá na forma de um lembrete e como ferramenta educacional, tentando instaurar uma consciência geral", diz Grocke

    A exposição de fotos foi doada ao Instituto Guatemalteco de Turismo. "Uma das minhas partes favoritas da exposição era observar Stephanie responder às dúvidas sobre os vulcões por meio das fotos e dos infográficos - o público ficava fascinado com suas respostas e as imagens ajudavam a compreender facilmente muitos dos conceitos complicados, incluindo as placas tectônicas e os perigos do vulcão", conta Salazar

    Após voltar da expedição a equipe ainda tinha uma outra tarefa: analisar os dados, criar o modelo tridimensional e conseguir ajudar a comunidade a prever essas erupções.

    "A parte fácil já passou, agora temos de descobrir como analisar esses dados. Como a tecnologia é nova, é o processamento de dados que vem após a coleta deles. Agora, estamos tentando processar a maior parte dos dados que temos para podermos criar os modelos de elevação tridimensionais", diz Grocke.

    Os planos da equipe são comparar suas imagens e dados mais recentes com as informações coletadas por Grocke há dois e quatro anos. Com essa análise, eles esperam monitorar de perto as alterações dos domos com o passar do tempo. "É um sistema muito dinâmico e que está em evolução e estamos começando a reconhecer os ciclos de como o vulcão infla e desinfla", ela diz.

    "Ao acelerar o processo através da fotografia sequencial, podemos começar a ver as alterações que ocorrem antes das erupções".

    O objetivo final é ao mesmo tempo científico e humanitário. "Nós estamos tentando entender melhor quando a próxima grande erupção acontecerá”. Explica ela.

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