As árvores nos arquivos fotográficos da Nat Geo marcam momentos únicos

De sequoias a flores de cerejeira, fotos históricas da National Geographic registram um longo caso de amor com as árvores.

Por Cathy Newman
Publicado 18 de mai. de 2022, 10:45 BRT
Flores de cerejeiras

Eliza Ruhamah Scidmore, ex-escritora, fotógrafa e editora da National Geographic, visitou o Japão pela primeira vez em 1885 e ficou encantada com as flores de cerejeiras como esta em um jardim público em Kanazawa. Voltando para casa em Washington, EUA, ela pediu às autoridades que plantassem essas mesmas árvores ao redor do Capitólio. Em 27 de março de 1912, a primeira de 3 mil cerejeiras — presentes do governo japonês — foi plantada ao redor da Tidal Basin. Quando ela morreu em 1928, suas cinzas foram enterradas em Yokohama. Uma cerejeira descendente de uma dada a Washington pelo Japão tem vista para seu túmulo. Suas flores caem suavemente na primavera e cobrem o chão com um tapete rosa.

Foto de Eliza R. Scidmore National Geographic Creative (265774)

Cada árvore conta uma história. Pode ser um memorial para a tristeza, uma expressão de crença ou um sinal de história. Acima de tudo, essas narrativas falam de como as árvores nutrem a terra e nós. Não é exagero dizer que as árvores exalam para que possamos inalar, mas elas nos enriquecem de outras maneiras, mais espirituais. Buda, afinal, encontrou a iluminação sob uma árvore de Bodhi, no Nepal, um evento ecoado pela observação de John Muir de que “O caminho mais claro para o Universo é através de uma floresta selvagem”.

Como nossos arquivos fotográficos revelam, por mais de um século, a National Geographic tem usado o poder da imagem para defender e destacar árvores, especialmente gigantes insubstituíveis como as sequoias dos parques nacionais e estaduais no oeste dos Estados Unidos. Em 1921, a National Geographic Society doou US$ 100 mil para salvar o que se tornaria a Floresta Gigante do Parque Nacional da Sequoia, na Califórnia, então ameaçada pela extração de madeira. O esforço foi liderado pelo primeiro editor revista, Gilbert H. Grosvenor. Em seu escritório, ele mantinha uma fotografia que tirou de 20 homens abraçando o gigantesco tronco de uma sequoia de 2,2 mil anos, conhecida como General Sherman. "É como se eles estivessem a protegendo", disse Grosvenor.

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Para a edição de dezembro de 2012 da National Geographic, o fotógrafo Michael "Nick" Nichols foi ao Parque Nacional da Sequoia, na Califórnia, para capturar esta imagem sem precedentes — uma sequoia gigante que é a terceira maior árvore do mundo, medida pelo volume do tronco acima do solo. Usando um sistema de cordas, Nichols e sua equipe trabalharam por 32 dias para, a partir de 126 fotos individuais, formar uma única imagem.

Foto de Michael Nichols National Geographic Creative (265774)
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Braços estendidos de 20 homens abraçam a árvore General Sherman Sequoia.

Foto de Gilbert H. Grosvenor National Geographic Creative (265774)

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    Bandeiras de Oração em uma árvore de Bodhi no Templo Maya Devi, em Lumbini, Nepal, local de nascimento de Buda. Também conhecido como árvore Bo, é considerada sagrada porque Buda Guatama, o fundador da religião, teria se sentado sob tal árvore quando recebeu esclarecimento após meditar por 49 dias. "Os budistas consideram a árvore Bo sagrada demais para ser tocada ou ter uma folha arrancada", Eliza Scidmore escreveu sobre uma de suas viagens ao Extremo Oriente, em 1903. "Os peregrinos devotos ajoelham-se, fixam seus olhos nela, e em um transe de oração esperam até que uma folha milagrosa caia".

    Foto de Ira Block National Geographic Creative (265774)

    Um retrato da "árvore mais alta do mundo" — uma madeira vermelha de 111 metros de altura — com o então editor Melville Bell Grosvenor em pé embaixo dela, apareceu na capa da edição de julho de 1964 da revista.

    Foto de George F. Mobley National Geographic (265767)

    O filho e sucessor de Grosvenor como editor, Melville Bell Grosvenor, faria o mesmo pelas sequoias. Ele enviou o cientista sênior da National Geographic Society para uma floresta da Califórnia para encontrar a “árvore mais alta do mundo” – uma sequoia de 100 metros de altura. Grosvenor mandou fazer o retrato da árvore estupenda com uma figura minúscula (que por acaso era ele mesmo, em pé, embaixo da sequoia). A imagem apareceu na capa da edição de julho de 1964, e a National Geographic Society doou US$ 64 mil para um estudo que ajudou a estabelecer o Parque Nacional Redwoods, em 1968.

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      A revista voltaria a visitar fielmente essas árvores, principalmente em dezembro de 2009, quando publicou a imagem de uma sequoia de 91 metros de altura em um parque estadual da Califórnia. O fotógrafo Michael “Nick” Nichols e sua equipe armaram em uma árvore próxima e abaixaram gradualmente três câmeras de controle remoto para tirar 84 imagens de cima para baixo da gigantesca sequoia; as fotos, então, foram montadas digitalmente para construir uma única imagem. O material resultou em um suplemento desdobrável de seis páginas. Ken Geiger, editor de fotografia na época, disse que “era uma visão impossível –o equivalente fotográfico de chegar a Marte. Você não poderia ver a árvore em sua totalidade mesmo se alugasse um helicóptero.”

      Nichols conseguiu um feito semelhante para a capa de dezembro de 2012, que apresentava uma sequoia de 75 metros de altura coroada de neve no Parque Nacional da Sequoia.

      Outras árvores menos grandiosas, mas não menos memoráveis, já protagonizaram as páginas da revista ou estão em seus arquivos de imagens. Algumas das histórias das fotos são comoventes, como as árvores catalpa na frente de um hospital da Guerra Civil na Virgínia, onde Walt Whitman testemunhou braços e pernas amputados jogados pela janela, ou a “árvore sobrevivente” de pera Callery, deixada de pé após os ataques de 11 de setembro ao World Trade Center.

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      Esquerda: O tronco nodoso de uma árvore catalpa, a "Walt Whitman Tree", nos terrenos de Chatham Manor, em Fredericksburg, Virgínia.

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      Após os ataques ao World Trade Center, uma pereira Callery tornou-se peça central do Memorial do 11 de setembro. A árvore representa luto e resiliência.

      fotos de Diane Cook and Len Jenshel National Geographic Creative (265774)

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        Macieira no local de nascimento de Sir Isaac Newton, em Woolsthorpe Manor, Inglaterra. Da árvore caiu a maçã que supostamente atingiu o grande físico na cabeça, inspirando-o a formular as leis da gravidade. O conto, escrito por William Stukeley, amigo e primeiro biógrafo de Newton, está registrado em um manuscrito do século 18 nos arquivos da Royal Society em Londres, mas Keith Moore, bibliotecário da Sociedade, descreve ironicamente a história da maçã como "uma mordida sonora do século 18". 

        Foto de James A. Sugar National Geographic Creative (265774)
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        Cerejeiras Yoshino ao longo da Tidal Basin em Washington, Distrito de Columbia.

        Foto de Diane Cook and Len Jenshel National Geographic Creative (265774)

        Algumas são inspiradoras: a macieira em um bosque na casa de infância de Sir Isaac Newton em Woolsthorpe, Inglaterra, que supostamente inspirou seu momento eureca sobre as leis da gravidade, e a árvore caprichosa com galhos serpentinos no Christ Church College, Oxford, que foi a inspiração para o poleiro favorito do Gato de Cheshire, em Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll.

        Há também as imagens comemorativas. Em 1885, Eliza Ruhamah Scidmore, a primeira escritora, fotógrafa e membro do conselho da National Geografic Society, visitou o Japão e ficou encantada com as cerejeiras floridas que margeavam o rio Sumida, em Tóquio. Depois de voltar para casa, ela pediu às autoridades em Washington, DC, para plantar essas árvores. A primeira-dama Helen Taft usou sua influência para tirar a ideia do papel, ou melhor, plantá-la. A primeira das árvores (entre as 3 mil doadas pelo governo japonês) foi colocada ao redor da Tidal Basin, em 27 de março de 1912. Hoje ela é a atração principal da primavera no Festival Nacional da Flor de Cerejeira.

        A sombra das enfermidades

        No entanto, a sombra da efemeridade persiste. Nada, nem mesmo uma árvore milenar, tem status garantido para sempre. Em 1990, o fotógrafo Sam Abell fotografou uma árvore baobá que, na paisagem austera da Austrália Ocidental, ficou branca com a idade. Quando a revista publicou a foto, o guia de Abell voltou ao local para fotografá-la novamente, com a página que estampava a imagem na frente. A essa altura, restava apenas um tronco esquelético. Depois de mais de 900 anos, o baobá foi atingido por um raio.

        Em algumas culturas aborígines, as antigas árvores baobás são consideradas como entidades protetoras, que representam resiliência. Elas fornecem água armazenada em sua esponjosa fibra interior para fazer corda, e sementes comestíveis. Sam Abell fotografou este exemplo assombroso em 1990, enquanto cobria uma história na região de Kimberly, na Austrália Ocidental, e foi publicada na revista no ano seguinte. Em uma espécie de homenagem, ele enviou seu guia para fotografar novamente a árvore, que foi atingida por um raio. 

        Foto de National Geographic Creative

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          A história da National Geographic Society está entrelaçada com a história da conservação de árvores. "Em uma missão para salvar as sequoias gigantes, fui à Califórnia em 1915", escreveu Gilbert H. Grosvenor, o primeiro editor da revista. Ele e um amigo colocaram seus sacos de dormir aos pés desta tremenda sequoia. Sua missão foi cumprida, e graças às contribuições da Sociedade, 906 hectares de sequoias da Califórnia foram preservados. 

          Foto de Photograph Gilbert H. Grosvenor Collection
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          No norte da Índia, a árvore Nim é conhecida como a curandeira de todas as doenças e uma encarnação da deusa hindu Shitala, uma figura materna. Para os moradores do bairro que adoram esta árvore no Templo Nanghan Bir Baba, em Varanasi, ela é ainda mais. "Meu filho nasceu prematuro. O médico nos disse que ele certamente morreria", disse um homem a David Haberman, professor de religião da Universidade de Indiana e especialista em hinduísmo. "Mas eu rezei a esta Nim, e ele viveu". A árvore, vestida com tecido colorido, usa uma máscara facial da deusa para fortalecer a conexão entre ela e os adoradores. 

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          Um capítulo importante na história da sequoia-vermelha costeira de mil anos, conhecida como Luna, no condado de Humboldt, na Califórnia, é o da ativista Julia Butterfly Hill. Em 1997, Hill escalou a árvore, que foi ameaçada pelas operações de extração de madeira da Pacific Lumber Company, e ficou lá por mais de dois anos em uma pequena plataforma de tendas, a 54 metros acima do solo, onde ela deu entrevistas por telefone movido a energia solar. Finalmente, a empresa madeireira concordou em conservá-la. Em 2000, a árvore foi vandalizada. Um corte de motosserra deixou uma fenda de um metro de profundidade na metade da circunferência do tronco. Suportes e cabos de aço estabilizam a árvore, que perdura.

          fotos de Diane Cook and Len Jenshel National Geographic Creative (265774)

          Conhecido como Árbol de Tule, o maciço Cipreste de Montezuma (Taxodium mucronatum) no estado de Oaxaca, México, ostenta um tronco de 36 metros de circunferência, que suporta uma coroa que é quase do tamanho de duas quadras de tênis. Nos anos 1990, o governo mexicano redirecionou a Rodovia Panamericana ao seu redor, e aprovou um subsídio para cavar um poço para a árvore, para compensar o lençol freático.

          Foto de Russell Hastings Millward National Geographic Creative (265774)
          CONTEÚDO PATROCINADO PARA NESPRESSO

          Em 19 de abril de 1995, uma explosão planejada e executada por Timothy McVeigh, um veterano de guerra insatisfeito, destruiu o Edifício Federal Alfred P. Murrah, de nove andares, no centro da cidade de Oklahoma, incinerando carros e matando 168 pessoas. Destroços da explosão impactaram e queimaram o tronco de um olmo americano de um estacionamento próximo. Hoje, a "árvore sobrevivente" é uma atração do Oklahoma City National Memorial e Museu, e proporciona consolo a famílias e amigos daqueles que morreram na explosão, como Doris Jones, cuja filha de 26 anos, Carrie, grávida na época, faleceu no atentado.  "É como se aquela árvore tivesse vontade de sobreviver", diz o silvicultor Mark Bays.  

          Foto de Diane Cook and Len Jenshel National Geographic Creative (265774)

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            Na mitologia grega, a espécie Dracaena cinabari surgiu do sangue de um dragão morto. As ervas fornecem uma resina vermelha que servia como remédio para tudo no século 17, desde disenteria até dentes soltos. Também era usada como corante e refrescante do hálito, assim como em rituais. O aquecimento global e a pecuária colocaram a árvore na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza como uma espécie vulnerável.

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            A busca pela árvore mais meridional do mundo foi até a Isla Hornos, o último pedaço de terra na Terra do Fogo. A expedição, liderada por Brian Buma, ecologista florestal da Universidade do Colorado, Denver, identificou a espécie: Nothofagus betuloides, ou guindo de Magalhães, de 41 anos, com pouco menos de dois centímetros de diâmetro que se ergue a dois metros de altura. Com uma linha de base estabelecida, os cientistas esperam monitorar o calor do solo e o crescimento das árvores para, e em uma era de mudanças climáticas, determinar se a árvore avançará para o sul em direção à Antártica.

            fotos de Michael Melford National Geographic Creative (265774)

            Pinheiro Bristlecone como este na Califórnia estão entre as árvores vivas mais antigas. Convencido de que seus anéis poderiam revelar a história climática da Terra, o dendrologista Edmund Schulman passou verões buscando a espécie. Em 1953, ele encontrou seu patriarca, o pinheiro Matusalém, em White Mountains, Califórnia, com cerdas de 4.676 anéis, então o mais antigo do mundo. Em 1964, Donald Currey, um estudante de pós-graduação, encontrou pinheiros bristlecones em Nevada que rivalizavam com o de Shulman. Currey convenceu o Serviço Florestal a cortar uma árvore para estudo. Ao extrair a espécie para determinar sua idade, constatou-se 4.844 anéis. A árvore mais antiga descoberta até aquela época havia sido cortada inadvertidamente. A Matusalém ainda está de pé; sua localização continua sendo um segredo.

            Foto de Paul Chesley National Geographic Creative (265774)

            Cathy Newman, ex-editora da National Geographic, escreve para The Economist,  NPR.com e  Anglers Journal. Siga-a no Twitter.

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