Dia da Amazônia: conheça os ecossistemas que compõem a maior floresta tropical do mundo

Na data destinada a homenagear a floresta presente em nove territórios da América do Sul, desvende o rico cenário ambiental amazônico, que também inclui montanhas, savanas, mangues e áreas permanentemente alagadas.

Um rio que flui no Parque Nacional do Alto Purus, Peru.

Foto de Charlie Hamilton James
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 5 de set. de 2022, 16:14 BRT

A Floresta Amazônica costuma frequentar o imaginário popular através de imagens de matas densas, formadas por altas e imponentes árvores de tronco roliço e valioso. Mas os mais de cinco milhões de quilômetros quadrados que a Amazônia ocupa no continente sul-americano são, na verdade, compostos por ecossistemas diversos e incrivelmente variados. 

Foi pensando nessa complexidade do bioma (unidade biológica ou espaço geográfico definido por critérios ecológicos como macro-clima, solo e altitude média) que instituiu-se, no Brasil, o Dia da Amazônia, celebrado em 5 de setembro. Criada em 2008, a data chama a atenção para a necessidade de proteger o bioma, que também está presente no Peru, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Suriname, Equador e Guianas.

Neste Dia da Amazônia, a National Geographic detalha alguns dos ecossistemas que compõem a maior floresta tropical do mundo.

A Amazônia não é uma floresta homogênea

“A Amazônia, na verdade, é um conjunto de vários ecossistemas distintos que interagem entre si e fazem parte de uma unidade maior que é chamada de bioma”, diz Pedro Viana, pesquisador, botânico e coordenador de botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará.

O bioma amazônico abriga uma diversidade impressionante de seres vivos, que habitam os mais diversos ambientes. “Alguns nem aparecem no imaginário das pessoas quando se pensa na Amazônia, porque elas pensam mais em uma floresta úmida sempre verde”, diz Viana. Apesar da floresta verde estar presente, o bioma conta ainda com savanas, montanhas e ecossistemas costeiros. “O mapa de distribuição de ambientes na Amazônia é uma coisa super complexa. Um mosaico todo entremeado."

No geral, de acordo com Viana, é possível separar a Amazônia em seis ecossistemas principais: florestas de terra firme, de igapó, de várzea, savanas, refúgios de montanhas e manguezais.

Ecossistemas da Amazônia: floresta de terra firme

Um dos principais fatores que determinam os tipos de florestas na Amazônia, de acordo com Viana, é a relação da vegetação com os períodos de secas e cheias dos rios. “Nesse sentido, as florestas de terra firme, que são as mais conhecidas quando falamos de Amazônia, são as que não são inundadas nunca”, diz Viana. 

As matas de terra firme ocorrem nas regiões do bioma cujo relevo é mais alto e ficam longe das águas dos rios mesmo durante a estação chuvosa. Elessandra Nogueira Lopes, professora da Universidade Federal do Pará especialista em manejo e conservação do solo, explica que, justamente por isso, as características desse ecossistemas são marcadas por um solo profundo, relativamente pobre em nutrientes, mas com enorme quantidade e diversidade de árvores de grande porte. 

“As matas de terra firme são a maior parte da floresta e é onde encontramos as árvores gigantescas que normalmente relacionamos com a Amazônia”, diz Lopes. 

As alturas das árvores desse ecossistema oscilam entre 30 e 60 metros, segundo Lopes, desenvolvendo-se com distâncias restritas entre si, o que dificulta a inserção de luz até o chão por causa da proximidade das copas. Isso dificulta o desenvolvimento de outras espécies de plantas de menor porte por não conseguirem realizar a fotossíntese.

Também segundo Lopes, entre exemplos de espécies de árvores encontradas em florestas de terra firme estão as castanheiras, fonte da famosa castanha-do-pará brasileira, além de mogno e cedro, que têm valor comercial alto. Já em relação a fauna, a região tem uma das maiores biodiversidades dentro da Amazônia, abrigando uma enorme variedade de insetos, cobras, anfíbios e mamíferos.

Ecossistemas da Amazônia: floresta de várzea 

As florestas de várzea são matas inundadas apenas durante uma certa época do ano. “Na maioria das florestas de várzea a inundação ocorre nos meses de março e setembro devido ao aumento da pluviosidade nessa época, o que influencia na alta dos níveis dos rios”, explica Lopes. 

As regiões das várzeas podem ficar embaixo d’água por vários meses e são associadas a rios de águas brancas – aqueles que, segundo explica Viana,  carregam muitos sedimentos (terra, pedaços de vegetação). Trazem também nutrientes provenientes do desgaste das regiões dos planaltos de altitude dos Andes, que dão um aspecto barrento às águas. 

“Na Amazônia, as florestas de várzea ocorrem ao longo de rios e planícies inundáveis. Por exemplo, as regiões próximas aos rios Amazonas e Japurá, que são cursos de água branca”, afirma Viana. 

O ecossistema de várzea se divide ainda em mais duas classificações: várzea alta e várzea baixa. A várzea alta acompanha as margens dos rios, possui solos férteis e sua formação é densa e muito fechada, com árvores de 20 metros de altura em média. “Ela é menos diversa quando comparada à mata de terra firme já que as espécies precisam de mecanismos que aguentem o ritmo sazonal de inundação, mas ainda há uma grande diversidade de vegetação e fauna”, diz Lopes. 

Na várzea alta, são comuns espécies de árvores como a sumaúma e a andiroba, animais arbóreos como as preguiças-de-três-dedos e uma ampla gama de animais aquáticos, como o jacaré-açu. Além deles, mamíferos também fazem da várzea sua casa, entre eles as onças-pintadas, que desenvolveram um modo de vida único para se adaptar ao ritmo dos rios. 

Já a várzea baixa, segundo Lopes, ocorre em áreas onde a água fica represada após a cheia dos rios e pode permanecer alagada por mais da metade do ano. Exemplos de algumas espécies vegetais que ocorrem em várzea baixa são o buriti (Mauritia flexuosa) e o açaizeiro (Euterpe oleracea). 

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    Uma figueira com contrafortes gigantes na Estação de Biodiversidade de Tiputini.

    Foto de Tim Lamán

    Ecossistemas da Amazônia: o que é a floresta de Igapó 

    Assim como as várzeas, as florestas de igapó também entram na categoria de matas alagáveis da Amazônia. Mas com uma diferença. “Elas são permanentemente inundadas, não havendo um período em que a água dos rios escoa de volta”, explica Pedro Viana, do museu Emílio Goeldi.

    Além disso, outra diferença entre o ecossistema de igapó e as várzeas é o tipo de rio que alaga a região. De acordo com Viana, no caso dos igapós, a água que os inunda vem dos chamados rios de água preta ou de água clara. Esses rios, como o Tapajós e o Xingu (ambos de preta), ou o Paraguai, Tocantins (de água clara), são aqueles que carregam poucos sedimentos. 

    “Diferente dos rios de água branca, esses cursos de água são resultantes do desgaste de rochas muito mais antigas do que as da Cordilheira dos Andes, localizadas nas montanhas baixas ao norte, como o Escudos das Guianas, e ao sul da bacia amazônica, como o Planalto Brasileiro”, explica Viana. 

    Por isso, as regiões de igapó têm uma dinâmica biológica completamente diferente das demais áreas alagáveis da Amazônia. “São águas com menos nutrientes e, em geral, mais ácidas. Então, as plantas que ocorrem de água clara ou preta nas florestas de Igapó são bem diferentes, tanto em composição quanto em número de espécies”, diz Viana. 

    Um informe produzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (Inpa) mostra que, enquanto na várzea podem ser encontradas cerca de mil espécies de árvores, nos igapós esse número é ao redor de 600 espécies. E apenas aproximadamente um terço das que ocorrem na várzea podem ser encontradas também no igapó. 

    Em relação à fauna, o informe aponta que o igapó abriga espécies como o peixe-boi-da-amazônia, ariranhas e uma grande variedade de peixes, como o tucunaré. “Quando falamos da fauna de áreas alagáveis, entretanto, muitos vivem migrando entre as várzeas e os igapós”, diz Elessandra Lopes, da UFPA. “Os peixes-boi, por exemplo, são influenciados pelo ciclo de cheias e secas dos rios, realizando migrações anuais."

    [Você pode se interessar: Mudanças climáticas e atividades humanas já ameaçam áreas inundáveis da Amazônia]

    Ecossistemas da Amazônia: as pouco conhecidas savanas

    Outra categoria de ecossistema encontrado na Amazônia, segundo Viana, são as áreas abertas. Entre elas, uma pouco conhecida é a savana. 

    As savanas amazônicas não são as mesmas das encontradas no continente africano. Na verdade, possuem fisionomia parecida com o bioma do Cerrado, encontrado na parte central do Brasil. “É uma formação campestre, com vegetação de porte baixo, como gramíneas, e árvores tortuosas mais esparsas entre si”, explica Viana. 

    Segundo o Inpa, as savanas amazônicas cobrem apenas 6% do bioma Amazônia. As áreas de savana podem ser encontradas, por exemplo, na maior parte do estado de Roraima, se estendendo até a Venezuela, e no norte do Pará, chegando até o Suriname.

    Uma pesquisa realizada pelo Inpa e publicada nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, em 2021, catalogou mais características desses ambientes menos conhecidos. O trabalho identificou que o solo das savanas amazônicas têm uma textura argilosa e com menor concentração de minerais do que os solos das florestas. 

    Para Viana, pesquisas sobre esse ecossistema são de vital importância para a preservação de várias espécies, principalmente considerando a alta taxa de espécies exclusivas desses locais. No entanto, não existem trabalhos suficientes nesse sentido. “É preciso conhecer mais sobre a flora e a fauna das savanas amazônicas", diz ele, "pois elas têm características bastante particulares e, por isso, trazem muitos endemismos, ou seja, ocorrências restritas de espécies naquela determinada região."

    Povo Tsimane aproxima-se de uma canoa para transportar mercadorias no rio Maniqui, perto de Anachere, na floresta amazônica, Bolívia.

    Foto de Matthieu Paley

    Ecossistemas da Amazônia: a vida nos manguezais 

    “Um ecossistema não tão evidente, mas muito marcante no bioma Amazônia é o manguezal”, diz Viana. Tipicamente costeiros, os ambientes de mangue prosperam em estuários, ou seja, em lagoas ou áreas alagadas que se formam quando as águas doces provenientes de rios e córregos fluem até o oceano e se misturam com a água salgada do mar.

    “Eles são muito relacionados à Mata Atlântica e às restingas (áreas litorâneas formadas por terreno arenoso). Mas também existem na Amazônia, que tem a maior formação contínua de mangue do mundo”, informa Viana. No bioma, segundo o botânico, os manguezais amazônicos ocorrem desde Belém, a capital do Pará, seguem pelas costas do estado do Maranhão e ainda sobem para áreas próximas ao delta do Rio Amazonas. 

    Recentemente, a expedição Perpetual Planet Amazon, realizada pelos exploradores de National Geographic Angelo Bernardino, professor de oceanografia e pesquisador em ecologia, e por Thiago Silva, professor de geografia e pesquisador de ecossistemas amazônicos, descobriu manguezais de água doce na bacia do Rio Amazonas durante uma viagem realizada em abril de 2022. A descoberta, além de mostrar que mangues podem se adaptar às águas barrentas do Amazonas, também aumentou a extensão conhecida do ecossistema.

    As árvores típicas desse ecossistema, os mangues propriamente ditos, de acordo com o que explica a professora Elessandra Lopes, chamam a atenção por suas raízes, que ficam expostas acima do solo lodoso e formam redes complexas capazes de sustentar os altos troncos e as copas cheias.  

    Em relação à biodiversidade, a especialista afirma que a composição do solo dos manguezais, em conjunto com a água salobra (mistura de mar e água doce) “compõe um ambiente propício para servir de habitat para diversas espécies de crustáceos, peixes, aves e mamíferos diferentes”. 

    Ecossistemas da Amazônia: os refúgios de montanha 

    Por fim, um dos ecossistemas mais inusitados da Amazônia, segundo o botânico Pedro Viana, são os chamados refúgios de montanha. “A Amazônia não é apenas uma planície. Existem muitas áreas de altas altitudes, picos e montanhas representativas.”

    De acordo com o expert, essas regiões contam com uma vegetação chamada de floresta de montanha e ocorrem desde o extremo oeste da Amazônia, no Peru e na Colômbia, em alguns locais da Bolívia, no estado brasileiro do Acre e na divisa do Brasil com a Venezuela. Nesse último local, é onde encontramos o Monte Roraima e o Pico da Neblina, considerado o ponto mais alto do Brasil.

    “Nessas florestas há uma dinâmica completamente diferente na comparação com outras regiões amazônicas. O clima e a composição das espécies, tanto vegetais quanto animais, é algo único na floresta”, diz Viana.

    Também segundo o botânico, os refúgios de montanha são um dos lugares mais biodiversos da Amazônia, com muitas espécies endêmicas, ou seja, que não são encontradas em outras partes da floresta.  

    Outra característica marcante desse ecossistema é a ocorrência de cachoeiras. “Os rios que passam nessas áreas montanhosas formam muitas quedas d’água. Isso faz com que sejam áreas muito procuradas para implantação de usinas hidrelétricas”, conta Viana.

    Preservar a Floresta Amazônica e o combate às mudanças climáticas

    Os impactos da floresta Amazônica no clima mundial é proporcional ao seu tamanho. O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), aponta que os serviços ecossistêmicos do bioma - benefícios que a natureza proporciona à sociedade - são essenciais para garantir o equilíbrio climático e algumas atividades humanas. 

    Por exemplo, o Ipam afirma que os processos como a evaporação e a transpiração da floresta ajudam a manter a sazonalidade das chuvas, fundamental para a agricultura.

    Além disso, Viana ressalta que as florestas da Amazônia funcionam como grandes armazéns de carbono, que é estocado nos tecidos vegetais e solo. “Isso é ameaçado pelo desmatamento, principalmente quando ele é seguido de queimadas.” O Ipam estima que o desmatamento na Amazônia libera 200 milhões de toneladas de carbono por ano. 

    O botânico explica que a retirada da floresta libera esse enorme estoque de carbono na atmosfera. “O que interfere no efeito estufa e, consequentemente, nas condições climáticas de todo o planeta”, diz Viana. 

    Por isso, o especialista reforça que a preservação da floresta em pé deveria ser prioridade, não só dos países que contam com bioma Amazônia em seu território, mas de todo o mundo. “Eliminar as florestas impacta em todos os demais ecossistemas que dependem do equilíbrio ecológico e causa uma série de alterações ambientais em cadeia no mundo. É uma responsabilidade de todos.”

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