Amazônia e recifes de corais serão afetados de forma irreversível por mudanças climáticas, diz estudo
Um recife antes do evento El Niño, em 2015-2016. Os recifes podem atingir um "ponto de ruptura" devido às mudanças climáticas.
Um grupo de 12 pesquisadores do Brasil, Canadá, China, Estados Unidos e Reino Unido mapearam elementos ecossistêmicos que correm risco de atingirem seu ponto de inflexão já nas próximas décadas caso as mudanças climáticas não sejam mitigadas. Transformações irreversíveis da Floresta Amazônica e de recifes de corais são alguns dos maiores alertas feitos por eles.
Em um estudo publicado em fevereiro de 2023 na revista científica "Reviews of Geophysics", os pesquisadores recolheram evidências científicas atuais sobre pontos de não-retorno para dez elementos ecossistêmicos importantes para a vida na Terra – os quais podem iniciar um efeito cascata sobre outros sistemas terrestres.
Para a investigação, os pesquisadores selecionaram elementos que podem responder de forma a aumentar as consequências das mudanças climáticas antropogênicas (causadas pela ação humana). Os componentes ecossistêmicos selecionados pelo estudo foram:
- Mudanças em correntes oceânicas;
- Liberação de metano do assoalho marinho (fundo do oceano);
- Perda de grandes camadas de gelo;
- Liberação de carbono de camadas congeladas do solo;
- Mudanças nas florestas boreais;
- Alterações em ventos de monções (associados à alternância entre a estação das chuvas e a estação seca);
- Dispersão de nuvens estratos-cúmulos (que se formam abaixo dos 2 mil metros de altitude);
- Perda do gelo do Ártico no verão;
- Transformações na Floresta Amazônica;
- Branqueamento de corais de águas rasas.
Caso esses elementos atinjam um “ponto de ruptura”, ou seja, mudanças drásticas e irreversíveis em relação ao seu estado original, é possível que os efeitos do aquecimento global sejam potencializados.
Segundo o estudo, essa alteração pode produzir emissões adicionais de gases de Efeito Estufa ou causar forçamento radiativo, que é o desequilíbrio da proporção da radiação solar absorvida e a que é emitida pelo próprio planeta.
A Floresta Amazônica é um dos ecossistemas que podem atingir seu ponto de não retorno já nas próximas décadas
Ecossistemas afetados por mudanças climáticas não retornarão ao estado original por séculos
Como exemplo, Liana Anderson, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e a co-autora do estudo, menciona que o branqueamento – e eventual a perda – de ecossistemas de recife de coral de águas rasas tropicais trará “impactos dramáticos e severos nas próximas décadas se a temperatura global aumentar mais de 1,5ºC”. A afirmação está em comunicado à imprensa divulgado pela Agência Bori, plataforma de comunicação e divulgação científica.
Além dos recifes de corais, a Amazônia também enfrentará transformações severas nos próximos anos caso não haja mitigação das mudanças climáticas. Segundo o estudo, o estresse climático, secas extremas e ações humanas (desmatamento, corte seletivo e queimadas) causariam a alteração do ciclo de chuvas na floresta, resultando na falta da umidade necessária para a sua manutenção e maior mortalidade de espécies.
“A floresta chegaria a esse ponto de não retorno, em que fica pequena o suficiente para não conseguir sustentar sua própria umidade e vai se transformando em outro tipo de floresta, tendo uma degradação climática, porque não consegue se manter. E não haveria uma forma de voltar ao estado original, pelo menos não nos próximos séculos”, afirmou a pesquisadora.
Fora os impactos diretos, a pesquisa também alerta que as alterações nesses ecossistemas podem gerar um efeito cascata em outros sistemas ambientais da Terra, as quais podem perdurar por séculos e até milênios. Entretanto, há pouco conhecimento científico sobre quais serão os danos.
“Essas mudanças podem afetar ecossistemas de modos sem precedentes. Talvez não na nossa geração, mas seguramente na de nossos filhos e netos. Então, é uma responsabilidade muito grande que a gente precisa incorporar como sociedade e como prática diária, de repensar nossas ações, nossas decisões”, afirmou a especialista.