Dia Mundial dos Oceanos: 4 ameaças que os colocam em perigo

Em 8 de junho é comemorado o Dia Mundial dos Oceanos pela preservação dos mares. A data serve para aprofundar as principais ameaças que, segundo especialistas, colocam em risco a saúde desses ecossistemas.

O coral branqueado fica abaixo da linha de água na Baía de Tumon, em Guam, em 2017.

Foto de David Doubilet
Por Redação National Geographic Brasil
Publicado 8 de jun. de 2022, 07:00 BRT, Atualizado 8 de jun. de 2022, 11:11 BRT

Ouça o quarto episódio do Nat Geo Podcast, Além do oceano.

A edição 2022 do Dia Mundial dos Oceanos, comemorado em 8 de junho, tem como tema Revitalização: Ação Coletiva para o Oceano. E essa escolha não é aleatória. O objetivo da Organização das Nações Unidas (ONU), responsável por criar a data, é incentivar a reflexão sobre a importância da conservação das águas marinhas do planeta e chamar a atenção para uma questão ambiental que vem se tornando cada vez mais crônica e alarmante. 

“A saúde dos oceanos está em um ponto de inflexão, assim como o bem-estar de tudo o que depende dela”, alerta a página do evento, que acontece nesta quarta-feira (08/06), em Nova York, e reúne representantes da sociedade civil, da indústria, celebridades e tomadores de decisão a fim de inspirar e desencadear mudanças colaborativas.

Para o Dia Mundial dos Oceanos, a National Geographic conversou por videochamada com exploradores e especialistas em ecossistemas marinhos para explicar melhor quatro das principais ameaças à vida marinha.

1) Mudanças climáticas

As mudanças climáticas afetam o planeta como um todo e, claro, os oceanos não estão imunes. Os impactos nas águas oceânicas estão ligados principalmente ao aquecimento global e à emissão em excesso de gases de efeito estufa (GEE). “Os oceanos fazem uma troca de calor e gases com a atmosfera. Então, uma atmosfera mais quente significa um oceano mais quente, e isso impacta negativamente uma série de organismos e ecossistemas marinhos”, explica Angelo Fraga Bernardino, oceanógrafo, ecologista marinho e Explorador da National Geographic.

Segundo o boletim O oceano, nosso clima e tempo de 2021, da Organização Meteorológica Mundial (OMM), feito como uma contribuição oficial à Década do Oceano, da ONU, os oceanos absorvem mais de 90% do excesso de calor no sistema climático da Terra e mais de um quarto do CO2 emitido anualmente pela produção humana. 

“Até 2100, o oceano terá absorvido duas a quatro vezes mais calor do que nos últimos 50 anos se o aumento da temperatura média global for limitado à 2ºC. Se for maior, ele pode absorver de quatro até sete vezes mais”, alerta o boletim. 

Essa relação de troca de calor entre o oceano e a atmosfera é benéfica para o equilíbrio da temperatura e, segundo Bernardino, é um dos motivos do aquecimento global não estar ainda pior. Porém, quanto mais quente as águas marinhas ficam, essa troca para de mitigar o calor da atmosfera e passa a aumentá-lo. “É uma troca de energia entre a atmosfera, as águas marinhas superficiais e as águas mais profundas, que recebem calor pelas correntes", explica Bernardino. "Se tem muita energia, chega uma hora que não é mais possível distribuir igualmente, e o oceano acaba liberando ainda mais calor.”

Descubra como as mudanças climáticas afetam o oceano:

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    O que acontece na Terra com oceanos mais quentes?

    Estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram que o aumento da temperatura dos oceanos é o estopim para uma série de impactos ambientais nos ecossistemas marinhos e no clima terrestre de forma geral. Por exemplo, uma das primeiras consequências que podem ser observadas, segundo o documento, é o aumento do nível do mar devido à expansão térmica da água e ao degelo das geleiras nos pólos do planeta.

    Outra consequência de águas marinhas mais quentes é o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos capazes de causarem catástrofes, como ciclones tropicais, tempestades, marés altas e inundações de cidades costeiras. Segundo Bernardino, a água do mar funciona como um condutor térmico, transportando energia (em forma de calor) de regiões mais quentes para as mais frias e vice e versa – quando o oceano está quente demais, os resultados são anomalias. 

    “Quanto mais energia ele carrega, mais energia ele libera", diz Bernardino. "Esse calor em excesso é transferido para a atmosfera como grandes tempestades, furacões e tufões, que podem causar muitos estragos se acontecem próximos do continente.”

    Como exemplo, o explorador menciona os temporais que afligiram cidades no Rio de Janeiro e Bahia, no sudeste e nordeste do Brasil, respectivamente, que causaram danos e milhares de mortes no fim de 2021 e início deste ano. “Houve outros fatores, mas a temperatura mais alta do mar certamente foi um potencializador”, diz. 

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      O atum albacora-laje chega ao porto de pesca em General Santos, nas Ilhas Filipinas.

      Foto de Adam Dean

      2) Acidificação das águas e branqueamento de corais

      Para os ecossistemas debaixo d’água, as emissões de gases de efeito estufa causam outros impactos. Isso porque o oceano absorve cerca de 23% das emissões de CO2 antropogênico (vindo da ação humana), o que traz altos custos ecológicos para o oceano, de acordo com outro relatório da OMM, O Clima Global em 2015-2019,

      O CO2 absorvido reage com a água do mar alterando o seu pH, deixando-a mais ácida. Esse processo é conhecido como acidificação dos oceanos e está ligado a mudanças na química do carbonato oceânico. Essas mudanças podem afetar a capacidade de organismos marinhos, como moluscos e corais construtores de recifes de produzir e manter conchas e material esquelético. “Houve um aumento total da acidez oceânica de 26% desde o início da revolução industrial”, diz o relatório. 

      Enquanto o oceano absorve mais gás carbônico, o aquecimento global também provoca perdas de oxigênio. Apesar de haver vários mecanismos responsáveis por isso, o boletim da OMM coloca que “o aquecimento global contribui diretamente para essa diminuição, pois a solubilidade do oxigênio diminui em águas mais quentes; e indiretamente através de mudanças na dinâmica dos oceanos (correntes) que reduzem a ventilação de oxigênio para o interior do oceano".

      Essa desoxigenação, em conjunto com a acidificação e o aquecimento dos oceanos, pode levar a mudanças dramáticas nos ecossistemas e biodiversidade marinha, como extinções de populações e branqueamento de corais

      3) Pesca insustentável

      Além das alterações químicas no oceano, os humanos ainda ameaçam os animais marinhos de outras maneiras. Uma delas é a pesca insustentável que diminui as populações de peixes e ameaça a sobrevivência de espécies. 

      Um relatório de Pesca e Aquicultura da Organização para Agricultura e Alimentação da ONU (FAO) elenca como pesca insustentável:

      • sobrepesca, que é a superexploração de peixes além dos limites biológicos sustentáveis; 

      • pesca destrutiva, que é o uso de práticas ou equipamentos que prejudicam um ecossistema; 

      • e pesca irregular, que pode se referir à pesca ilegal, não declarada ou não regulamentada. 

      Também de acordo o documento, essas práticas são a causa direta da mortalidade excessiva de alguns peixes, como o atum, e também de espécies não alvo, como toninhas e algumas tartarugas marinhas. Segundo estimativas da própria FAO, cerca de 34% de todos os estoques de peixes marinhos são superexplorados. Isso representaria o triplo desde o início do monitoramento em 1974. 

      Outro problema da pesca inadequada são os estoques de comida e fonte de renda de comunidades. “Três bilhões de pessoas sobrevivem por conta dos oceanos e, muitas delas, contam com o pescado como fonte primária de proteína", diz Adriana Lippi, oceanógrafa e conselheira da Liga das Mulheres pelo Oceano. "Então, manter os estoques pesqueiros saudáveis é muito importante para boa parte da população global."

      4) Lixo no mar: poluição plástica

      “Sabemos que quase não existem mais ecossistemas livres de plástico. Os cientistas encontraram microplásticos no topo das montanhas mais altas, no sangue humano e em lugares super remotos, como as profundezas do Mar Antártico”, diz Cristian Lagger, ecologista marinho, pesquisador do Laboratório de Ecologia Marinha do Instituto de Diversidade e Ecologia Animal, na Argentina, e Explorador da National Geographic.

      Um relatório publicado em 2021 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostra que o plástico é a maior, mais prejudicial e mais persistente parte dos resíduos humanos que acabam no mar, representando 85% do total. 

      “Nós como espécie já entendemos que não podemos sobreviver sem o oceano. E nosso futuro está intimamente relacionado à saúde deles”

      por CRISTIAN LAGGER
      PESQUISADOR DO LABORATÓRIO DE ECOLOGIA MARINHA DO INSTITUTO DE DIVERSIDADE E ECOLOGIA ANIMAL (IDEA/CONICET) E EXPLORADOR DA SOCIEDADE NACIONAL DE GEOGRAFIA

      O material poluidor também foi detectado em todos os oceanos do planeta. O estudo Panorama dos oceanos, mares e recursos marinhos na América Latina e no Caribe, de fevereiro de 2022, produzido pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, relata que microplásticos (sobras do processo de decomposição dos plásticos) chegaram a oceanos profundos, fossas submarinas, no gelo do mar profundo e do mar Ártico e até a lugares tão remotos como a região da Patagônia, entre a Argentina e o Chile.

      Entre os impactos da poluição por plásticos nos ambientes marinhos estão efeitos letais e subletais em diversos animais, desde baleias, focas, tartarugas, aves e peixes, até invertebrados e corais. O relatório do Pnuma registra que os plásticos atingem os animais ao se emaranhar a eles, podendo causar lesões, afogamento, asfixia, privação de oxigênio, estresse fisiológico, dano toxicológico, entre outros estragos. 

      Além disso, a poluição plástica afeta até a saúde humana por “ingestão de frutos do mar contaminados e exposição a bactérias patogênicas transportadas em plásticos”, diz o material do Pnuma.

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        Peixes-porcos procuram cobertura sob detritos e sargaço flutuando no Mar dos Sargaços.

        Foto de David Doubilet

        O que fazer para preservar os oceanos?

        Para Lagger, a preservação dos ambientes marinhos deve ser uma pauta prioritária na agenda ambiental. “Nós como espécie já entendemos que não podemos sobreviver sem o oceano. E nosso futuro está intimamente relacionado à saúde deles”, diz Lagger, que ressalta a importância de uma educação ambiental para a proteção do oceano. “A educação oceânica é muito importante, independente se o lugar não tem acesso ao mar ou têm muito litoral, para entender essa conexão que existe com o mar e a grande responsabilidade que temos em protegê-lo.”

        Para Bernardino, além de aumentar a consciência ambiental da população, é preciso cobrar dos tomadores de decisão soluções mais sustentáveis. “É importante escolher governantes que se preocupam com a causa ambiental e que irão investir em soluções de energia limpa, reciclagem, transporte público, coisas do tipo", diz ele. "Cada ação em prol do meio ambiente faz a diferença.”

        Iniciativas globais, como os eventos promovidos durante o Dia Mundial dos Oceanos e a instituição da Década do Oceano (2021-2030) pela ONU servem para fomentar discussões sobre as ameaças vividas pelos ecossistemas marinhos e como preservá-los. 

        A partir de metas e desafios, a Década do Oceano prevê reunir cientistas, governos, empresas e indústrias, fundações filantrópicas, agências da Organização das Nações Unidas, entre outros interessados de diversos setores, para gerar conhecimento científico e desenvolver parcerias necessárias para um oceano saudável, produtivo, resistente e sustentável.

        Por sua vez, Lippi assegura que os incentivos da ONU são boas oportunidades para gestores públicos e líderes de setores econômicos envolvidos com o oceano absorver a ciência oceânica e contribuir com políticas públicas melhores para a conservação dos ambientes marinhos. “É um convite à valorizar e pensar qual tipo de ciência e conhecimento precisamos", diz ela, "para que todos possamos ter um oceano saudável.”

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