Butão é pioneiro em esforços de mitigação das mudanças climáticas

O pequeno reino pode ser um modelo para países na linha de frente de questões ligadas ao aquecimento global.

Por Sarah Gibbens
fotos de Ciril Jazbec
Publicado 27 de jun. de 2018, 11:19 BRT, Atualizado 5 de nov. de 2020, 03:22 BRT
Foto de Ciril Jazbec

O Butão é pequeno, quase do tamanho da Suíça e semelhantemente montanhoso, apesar de geograficamente mais remoto. Ao sul, o Butão está bloqueado pela Índia e, ao norte, comprimido pelo grandioso Himalaia. Antes de 1974, o Butão era totalmente fechado para turistas e boa parte dos estrangeiros, e, mesmo agora, apenas poucos visitantes pagantes podem entrar de cada vez.

O pequeno reino montanhoso é lar de uma próspera cultura antiga, além de espetacular beleza natural. O que muitos acreditam ser o pico não escalado mais alto do mundo, o Gangkhar Puensum, eleva-se a quase 7,6 mil metros de altitude. Sem uma verba considerável, ou um grande espírito aventureiro, poucos chegarão a visitar este reino único.

O fotógrafo esloveno Ciril Jazbec é um entre os poucos sortudos que puderam visitar o Butão. Ele recentemente cruzou o país, visitando pequenas vilas, explorando vastas florestas e conhecendo os habitantes locais. Seu trabalho final é uma visão profunda da pequena nação que poucos estrangeiros têm a chance de ver.

Suas fotos variam entre cenários rurais tradicionais e estilos de vida modernos que podem surpreender os estrangeiros. Mas como está no Butão, montanhas glaciais impressionantes rodeadas de profundas florestas verdes estão quase sempre ao fundo. A impressão geral é a de um lugar especial que equilibra os dois mundos.  É uma mescla de história e mudança, velho e novo, impacto e resiliência.

A fotografia de Jazbec de uma partida de vôlei, por exemplo, pode parecer de relance com uma quadra de areia comum. Mas ao olhar em volta, você verá montanhas épicas ao longe que se estendem acima das nuvens.

Mergulhada em antiguidade e inovação, a nação amplamente budista é talvez mais conhecida por suas pessoas felizes e florestas prósperas, que perduram apesar das iminentes ameaças ambientais. O trabalho de Jazbec observa mais de perto.

Em busca da felicidade

No fim dos anos 1990, o governo butanês introduziu um índice socioeconômico denominado Índice de Felicidade Interna Bruta, que funciona como um termômetro social que visa assegurar que o desenvolvimento econômico não atropele estilos de vida tradicionais.  O conceito foi amplamente aclamado em todo o mundo por sua originalidade e inclusão.

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    As crianças de Laya construíram esta placa para um projeto de escola. Desde pequenas, crianças são formadas por um sentimento de responsabilidade ambiental.
    Foto de Ciril Jazbec
    Uma placa perto do Vale de Punakha adverte contra a poluição.
    Foto de Ciril Jazbec
    Painéis solares são usados para carregar celulares, que não estavam disponíveis em Laya até 2009.
    Foto de Ciril Jazbec

    Mas é claro que o índice não solucionou todos os problemas do país. Um recente Relatório Mundial da Felicidade da ONU posicionou o Butão em 97º lugar mundialmente. Fatores como desigualdade de renda e desemprego foram parcialmente responsáveis pela posição.

    Outra preocupação crescente tem sido o fato das mudanças climáticas estarem prejudicando o frágil ecossistema da pequena nação. As geleiras do Butão estão derretendo, resultando em enchentes repentinas, e os períodos chuvosos estão se tornando mais irregulares, levando a escassez de água durantes as estações secas. Mas, apesar da pequena nação do Butão não ser responsável pela maioria dos gases de efeito estufa do mundo, o país reagiu intensificando suas já impressionantes regulamentações ambientais.

    Mais de 60% de suas florestas são protegidas, e espera-se que sua crescente infraestrutura seja desenvolvida de maneira sustentável. Carros elétricos e transporte público, por exemplo, são enfatizados no lugar de veículos individuais a gasolina.

    Estas medidas permitem que o Butão não apenas se mantenha neutro em emissões de carbono, mas também se torne um “absorvedor” do gás. Isso é, através de suas abundantes florestas, o Butão absorve mais gás carbônico do ar do que libera.

    O comprometimento do Butão com os esforços de mitigação das mudanças climáticas foi salientado no ano passado pelo primeiro ministro do país. Sua mensagem sobre os objetivos ambiciosos do país diante de um clima em transformação foi, na verdade, o que inspirou Jazbec a visitar e tentar captar o espírito resiliente do país em imagens.

    Sonam, de 62 anos, é do leste do Butão. Ele ajuda os visitantes a chegarem ao sagrado Mosteiro Ninho do Tigre.
    Foto de Ciril Jazbec

    “Há algo realmente especial no relacionamento do Butão com o meio ambiente” diz Jazbec. “Eu nunca vi nada igual em nenhum outro lugar”.

    Resiliência de espírito

    O fotógrafo já documentou comunidades que enfrentam as mudanças climáticas em todo o mundo, mas foi o Butão que mais o tocou por seu sentimento de resiliência.

    Quando Jazbec visitou o pequeno reino no ano passado, ele foi guiado pela região por um “reparador”, ou guia local, que o ajudou a visitar diversas vilas.

    Enquanto trabalhava um dia, Jazbec tentou enxotar uma mariposa da tela de seu computador. Seu guia ficou tão chateado, diz Jazbec, que confrontou o fotógrafo estrangeiro.

    Um arco-íris surge sobre o Vale de Masangang.
    Foto de Ciril Jazbec
    Um cavalo branco passa a trote em uma região remota. Enquanto fotograva o país, Jazbec raramente via animais amarrados: “Quando precisam usá-los, eles simplesmente sobem as montanhas para encontrá-los”.
    Foto de Ciril Jazbec
    Flores cor-de-rosa pontuam a vasta vegetação do Butão.
    Foto de Ciril Jazbec

    “Ele disse acreditar que cada ser vivo tem uma alma” diz Jazbec. “Ele aceitou o fato de que os animais precisam de seu espaço”.

    Este sentimento pode ter origem, em parte, na religião dominante do país, o budismo. Jazbec diz ter notado que muitas pessoas se esforçam para serem guardiões do meio ambiente. Sejam motivados pela religião, comunidade ou por um conceito menos tangível, Jazbec se impressionou com o cuidado que as pessoas que conheceu têm com suas terras e os animais.

    Como estrangeiro, ele queria fotografar o que há no país que há muito é descrito como Shangri-la, um conceito que fascina, mas ainda escapa aos ocidentais.

    Nas fotos de Jazbec, há um contraste entre adversidade e tranquilidade. Paisagens naturais serenas servem de cenário para imagens de trabalho pesado. Em uma imagem, um homem luta com um iaque até o chão. Em outras, famílias relaxam após um longo dia de trabalho.

    Lham, de 53 anos, olha pela janela de sua casa em Laya.

    Considerando tudo que Jazbec consegue capturar em suas fotos, ele não sabe expressar em palavras suas impressões como estrangeiro, dizendo simplesmente: “É algo realmente impressionante”.

    Ciril Jazbec é fotógrafo baseado na Eslovênia. Veja mais de seu trabalho em seu website e no Instagram

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