Fotos: um dia e uma noite de trabalho no maior cemitério da América Latina
Com 8 mil novas covas para abrigar vítimas do coronavírus, o Cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste da cidade de São Paulo, funciona quase ininterruptamente e conta até com a ajuda da luz improvisada de automóveis.
Publicado 7 de jul. de 2020, 12:00 BRT, Atualizado 7 de jul. de 2020, 16:10 BRT
Cerca de 50% dos enterros no Vila Formosa são hoje para vítimas, confirmadas ou suspeitas, de covid-19. Com o aumento da demanda, 220 sepultadores temporários foram contratados.
Estas fotos foram produzidas com apoio do Fundo Emergencial Covid-19 para Jornalistas, da National Geographic Society.
Segundo João Batista Gomes, representante da categoria dos agentes sepultadores no Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo, grupos de voluntários tem prestado assistência psicológica aos sepultadores, talvez as maiores testemunhas do sofrimento causado pela pandemia.
Estas fotos foram produzidas com apoio do Fundo Emergencial Covid-19 para Jornalistas, da National Geographic Society.
Para evitar que as vítimas de covid-19 fossem enterradas em covas coletivas, como aconteceu em Manaus e Nova York, a prefeitura de São Paulo ordenou a abertura de 8 mil novas valas no cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina. As imagens que percorreram o mundo revelam o assombroso aumento de mortos na pandemia, algo que a subnotificação de casos não pode esconder.
A sigla D3 no alto do atestado de óbito indica uma vítima, confirmada ou suspeita, de covid-19. Além do caixão lacrado, presença do código obriga que o velório seja ao ar livre, tenha duração máxima de dez minutos e receba, no máximo, dez pessoas.
Em meados de maio, ainda antes do pico da pandemia na cidade de São Paulo, agentes sepultadores do Cemitério da Vila Formosa disseram que estavam enterrando 75 pessoas por dia. Antes da pandemia, o número ficava entre 20 e 30.
O aumento de sepultamentos em São Paulo foi um dos primeiros indícios da subnotificação de casos de covid-19 no Brasil. No fim de junho, a Organização Mundial da Saúde mostrou preocupação com a alta taxa de resultados positivos em testes para coronavírus no Brasil – 31% –, um sinal que aponta para subnotificação. Segundo a organização, nos países com testagem em massa, esse percentual pode chegar a 5%.
Para acelerar o processo de abertura de covas, a prefeitura de São Paulo alugou, apenas para o cemitério da Vila Formosa, 13 novas retroescavadeiras. A fim de guardar os corpos antes de serem enterrados, também foram contratadas oito câmaras refrigeradas com capacidade total para mil mortos.
Os sepultadores reclamam da falta de equipamentos de proteção individual como máscaras e luvas. Alguns dizem ter gastado dinheiro do próprio salário para se comprar os insumos.
Com frequência, sepultadores sofrem com o estigma da profissão, zombada até pelo presidente. “Homens invisíveis são aqueles que não são importantes para a sociedade, os eu a sociedade não enxerga, apenas quando alguma coisa acontece”, disse João, sepultador que não quis ser identificado, ao repórter fotográfico.